A produção mundial de peixe em aquacultura deverá ultrapassar os 100 milhões de toneladas em 2030, superando a quantidade que resulta da pesca. É a solução que só a ciência e a tecnologia permitem para os desafios da sustentabilidade e segurança alimentar.
A mudança irá incidir em zonas costeiras com águas de qualidade, ricas em nutrientes e onde existam competências científicas capazes de viabilizar esse salto. A frente atlântica europeia, em que Portugal sobressai, cumpre todos esses requisitos, numa União Europeia que só por si representa mais de um terço das importações mundiais de peixe.
O ser humano não vai deixar de consumir peixe, bem pelo contrário. A proteína é uma necessidade da alimentação, prevendo a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) e a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), no seu Outlook 2023-2032, um crescimento anual desse consumo de 1,4 por cento até 2032. O aumento da procura decorre do crescimento da população mundial, mas a origem dessa proteína variará substancialmente.
O mesmo relatório destaca o fenómeno da substituição da carne pelo peixe, por razões de saúde e de consciência ambiental. A carne de porco e de vaca perdem relevância no total dos consumos, passando de 57 por cento, atualmente, para 48 por cento em 2032. A compensar esse decréscimo, o aumento do consumo de aves de 34 para 39 por cento do total. E mais impressionante, o crescimento do consumo de peixe, que passa de 9 para 13 por cento. Todo o aumento na produção de peixe virá necessariamente da aquacultura, porque a pesca tradicional esgotou a capacidade de crescimento. O ser humano conseguiu no neolítico dominar a produção animal em cativeiro, abandonando a caça. A aquacultura é a replica moderna do mesmo salto tecnológico, desta feita no meio aquático, e suportada em ciência e tecnologia.
Por Miguel Crespo, Direção de Informação da AICEP