As relações entre os dois países são incipientes, mas há novas oportunidades. Sumol+Compal e Mota-Engil são algumas das empresas nacionais com um pé na Arábia Saudita.
Investimento Empresários sauditas vêm a Portugal tentar captar novos negócios. Após Ronaldo, Arábia Saudita convoca empresas portuguesas fenómeno CR7 há muito extravasou os relvados. E agora poderá ser o talismã nos negócios entre empresas portuguesas e sauditas.
"As reuniões começam por ser muito formais... mas o Ronaldo é um quebra-gelo impressionante", conta Abílio Silva, membro da Câmara de Comércio Árabe-Portuguesa, que se prepara para, na próxima semana, receber em Portugal uma comitiva de empresários da Arábia Saudita em busca de negócios com grupos portugueses.
Na bagagem, a comitiva traz explicações detalhadas sobre o quadro jurídico para a abertura de negócios em Riade. E na agenda estão previstos encontros com startups portuguesas, um encontro com o empresário Mário Ferreira e uma reunião com o grupo DST. A visita será também a oportunidade para lançar um novo conselho empresarial bilateral entre a Arábia Saudita e Portugal, para estimular as relações bilaterais. Abílio Silva irá integrar a direção desse conselho, juntamente com o presidente da Câmara Árabe-Portuguesa, Luís Filipe Menezes, e o presidente da CIP (Confederação Empresarial de Portugal), Armindo Monteiro.
Abílio Silva esteve recentemente na Arábia Saudita, que diz ser hoje "um estaleiro a céu aberto", com "muita coisa a decorrer até 2030". Ao Expresso, o gestor assegura que "as oportunidades desse mercado não são para um ano ou dois, são para mais de uma década", uma vez que Riade tem planos ambiciosos para diversificar as fontes de receita da economia saudita na chamada Visão 2030, o que passa por avultados investimentos no desporto (incluindo o campeonato mundial de futebol de 2034, e não só), em infraestru- turas, imobiliário, turismo e saúde, entre outras áreas.
De acordo com Abílio Silva, há hoje cerca de mil portugueses a viver e a trabalhar na Arábia Saudita (incluindo Cristiano Ronaldo, Jorge Jesus e outras estrelas do futebol), mas este mercado tem passado ao lado das empresas nacionais. "Temos que fazer com que as empresas portuguesas olhem para a Arábia Saudita", defende. O país tem capital, mas procura o know-how europeu no desenvolvimento de projetos, oferecendo terrenos e outras condições que aliviam o volume de investimento necessário para que as firmas estrangeiras se estabeleçam.
Antes da chegada da delegação saudita na iniciativa promovida pela Câmara de Comércio Árabe-Portuguesa, nos últimos dias já houve outros contactos. Hamad Nabeel Alsuleiman, empresário baseado em Jeddah e cônsul honorário de Portugal naquela cidade junto ao mar Vermelho, passou por Lisboa esta semana, para se reunir com várias empresas portuguesas, incluindo a Mota-Engil, e falou ao Expresso das oportunidades que a Arábia Saudita apresenta.
O empresário foi apontado como cônsul honorário em Jeddah no final de 2017, pelo então ministro dos Negócios Estrangeiros Augusto Santos Silva, depois de um negócio bem-sucedido com a portuguesa Martifer, que forneceu a estrutura metálica da cobertura do estádio King Abdullah. Hamad Nabeel Alsuleiman, de 41 anos, participa hoje na administração de várias empresas e acredita poder contribuir, com a sua rede de contactos, para viabilizar a entrada de mais organizações na Arábia Saudita.
Nos últimos anos apoiou a Sumol+Compal na sua entrada naquele mercado, onde começou a vender as marcas Compal e Um Bongo em 2022. "A Compal é um exemplo muito bom de como os portugueses lutam para entrar em novos mercados", afirma o empresário, lembrando como a empresa foi adaptando a sua oferta para conseguir colocar os seus produtos junto dos consumidores sauditas. "A Compal tem um produto de qualidade e preço competitivo", observa o mesmo responsável.
"Portugal não é um país grande, mas tem muito talento", refere ainda o empresário saudita, valorizando a formação universitária dos portugueses, as suas competências e a facilidade em falar várias línguas. Isso poderá ser um trunfo na criação de organizações conjuntas entre grupos portugueses e sauditas. E para Abílio Silva o país árabe tem condições de atratividade para a mão de obra. "Estão reunidas todas as condições para os trabalhadores terem uma boa qualidade de vida e serem bem remunerados, e em Riade estão a apenas uma hora de avião do Dubai, por exemplo", descreve.
Para já, as relações económicas entre os dois países são incipientes. Em 2021 Portugal ainda importou cerca de €100 milhões em petróleo da Arábia Saudita (cerca de 2,6% do total de importações de crude), mas em 2022 e 2023 o registo ficou a zero, segundo a Direção-Geral de Energia e Geologia (DGEG). A Arábia Saudita, cujo maior parceiro comercial é a China, pesa apenas 0,2% nas exportações portuguesas e 0,6% nas importações, segundo os dados da AICEP Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal.
QUATRO PERGUNTAS A
Hamad Alsuleiman, Cônsul honorário de Portugal em Jeddah
Quando é que a Arábia Saudita deverá diminuir a sua dependência das receitas do petróleo?
0 petróleo é uma matéria-prima global e as reservas que temos são vastas. O petróleo é abundante e tudo dependerá de como a economia mundial evoluir. Hoje, o mundo inteiro ainda depende do petróleo. Queremos tornar-nos uma economia mais diversificada, e é isso que está acontecer com a Visão 2030, com novas receitas vindas do turismo, do comércio, de nos posicionarmos como entreposto logístico, melhorando o potencial da Arábia Saudita e da sua posição geográfica e o papel do fundo de investimento soberano saudita.
Quais são hoje as principais necessidades de investimento da Arábia Saudita?
Desde a década de 1930 que a Arábia Saudita tem atraído empresas e talentos de todo o mundo, quer para a exploração petrolífera, quer para as infraestruturas e para a diversificação da economia. Desde sempre houve interação com empresas europeias. Adquirir talento e experiência de empresas europeias e americanas sempre esteve lá. Mas a dimensão dos projetos que estamos a realizar é que estão a atrair cada vez mais empresas. Os maiores projetos de construção hoje estão na Arábia Saudita. Isto movimenta a economia.
Porque é que acredita que as empresas portuguesas podem ajudar?
As empresas portuguesas têm a competitividade para serem um grande ator nos grandes projetos que temos na Arábia Saudita, devido às elevadas qualificações e competências, com boas universidades e todas as pessoas a falar várias línguas, e abertura à comunidade global.
É fácil atrair empresas e recursos humanos, considerando asquestões da Arábia Saudita em torno dos direitos humanos e do respeito pelas mulheres?
A Arábia Saudita é um dos países que mais se empenham nas Nações Unidas em matéria de direitos humanos. E uma grande parte da nossa representação na ONU são mulheres. Um dos maiores planos do projeto Neom é liderado por uma mulher saudita, muito talentosa. A proporção de mulheres a entrar no mercado de trabalho é extremamente alta, não é baixa. Elas estão integradas.
Investimento Empresários sauditas vêm a Portugal tentar captar novos negócios. Após Ronaldo, Arábia Saudita convoca empresas portuguesas fenómeno CR7 há muito extravasou os relvados. E agora poderá ser o talismã nos negócios entre empresas portuguesas e sauditas.
"As reuniões começam por ser muito formais... mas o Ronaldo é um quebra-gelo impressionante", conta Abílio Silva, membro da Câmara de Comércio Árabe-Portuguesa, que se prepara para, na próxima semana, receber em Portugal uma comitiva de empresários da Arábia Saudita em busca de negócios com grupos portugueses.
Na bagagem, a comitiva traz explicações detalhadas sobre o quadro jurídico para a abertura de negócios em Riade. E na agenda estão previstos encontros com startups portuguesas, um encontro com o empresário Mário Ferreira e uma reunião com o grupo DST. A visita será também a oportunidade para lançar um novo conselho empresarial bilateral entre a Arábia Saudita e Portugal, para estimular as relações bilaterais. Abílio Silva irá integrar a direção desse conselho, juntamente com o presidente da Câmara Árabe-Portuguesa, Luís Filipe Menezes, e o presidente da CIP (Confederação Empresarial de Portugal), Armindo Monteiro.
Abílio Silva esteve recentemente na Arábia Saudita, que diz ser hoje "um estaleiro a céu aberto", com "muita coisa a decorrer até 2030". Ao Expresso, o gestor assegura que "as oportunidades desse mercado não são para um ano ou dois, são para mais de uma década", uma vez que Riade tem planos ambiciosos para diversificar as fontes de receita da economia saudita na chamada Visão 2030, o que passa por avultados investimentos no desporto (incluindo o campeonato mundial de futebol de 2034, e não só), em infraestru- turas, imobiliário, turismo e saúde, entre outras áreas.
De acordo com Abílio Silva, há hoje cerca de mil portugueses a viver e a trabalhar na Arábia Saudita (incluindo Cristiano Ronaldo, Jorge Jesus e outras estrelas do futebol), mas este mercado tem passado ao lado das empresas nacionais. "Temos que fazer com que as empresas portuguesas olhem para a Arábia Saudita", defende. O país tem capital, mas procura o know-how europeu no desenvolvimento de projetos, oferecendo terrenos e outras condições que aliviam o volume de investimento necessário para que as firmas estrangeiras se estabeleçam.
Antes da chegada da delegação saudita na iniciativa promovida pela Câmara de Comércio Árabe-Portuguesa, nos últimos dias já houve outros contactos. Hamad Nabeel Alsuleiman, empresário baseado em Jeddah e cônsul honorário de Portugal naquela cidade junto ao mar Vermelho, passou por Lisboa esta semana, para se reunir com várias empresas portuguesas, incluindo a Mota-Engil, e falou ao Expresso das oportunidades que a Arábia Saudita apresenta.
O empresário foi apontado como cônsul honorário em Jeddah no final de 2017, pelo então ministro dos Negócios Estrangeiros Augusto Santos Silva, depois de um negócio bem-sucedido com a portuguesa Martifer, que forneceu a estrutura metálica da cobertura do estádio King Abdullah. Hamad Nabeel Alsuleiman, de 41 anos, participa hoje na administração de várias empresas e acredita poder contribuir, com a sua rede de contactos, para viabilizar a entrada de mais organizações na Arábia Saudita.
Nos últimos anos apoiou a Sumol+Compal na sua entrada naquele mercado, onde começou a vender as marcas Compal e Um Bongo em 2022. "A Compal é um exemplo muito bom de como os portugueses lutam para entrar em novos mercados", afirma o empresário, lembrando como a empresa foi adaptando a sua oferta para conseguir colocar os seus produtos junto dos consumidores sauditas. "A Compal tem um produto de qualidade e preço competitivo", observa o mesmo responsável.
"Portugal não é um país grande, mas tem muito talento", refere ainda o empresário saudita, valorizando a formação universitária dos portugueses, as suas competências e a facilidade em falar várias línguas. Isso poderá ser um trunfo na criação de organizações conjuntas entre grupos portugueses e sauditas. E para Abílio Silva o país árabe tem condições de atratividade para a mão de obra. "Estão reunidas todas as condições para os trabalhadores terem uma boa qualidade de vida e serem bem remunerados, e em Riade estão a apenas uma hora de avião do Dubai, por exemplo", descreve.
Para já, as relações económicas entre os dois países são incipientes. Em 2021 Portugal ainda importou cerca de €100 milhões em petróleo da Arábia Saudita (cerca de 2,6% do total de importações de crude), mas em 2022 e 2023 o registo ficou a zero, segundo a Direção-Geral de Energia e Geologia (DGEG). A Arábia Saudita, cujo maior parceiro comercial é a China, pesa apenas 0,2% nas exportações portuguesas e 0,6% nas importações, segundo os dados da AICEP Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal.
QUATRO PERGUNTAS A
Hamad Alsuleiman, Cônsul honorário de Portugal em Jeddah
Quando é que a Arábia Saudita deverá diminuir a sua dependência das receitas do petróleo?
0 petróleo é uma matéria-prima global e as reservas que temos são vastas. O petróleo é abundante e tudo dependerá de como a economia mundial evoluir. Hoje, o mundo inteiro ainda depende do petróleo. Queremos tornar-nos uma economia mais diversificada, e é isso que está acontecer com a Visão 2030, com novas receitas vindas do turismo, do comércio, de nos posicionarmos como entreposto logístico, melhorando o potencial da Arábia Saudita e da sua posição geográfica e o papel do fundo de investimento soberano saudita.
Quais são hoje as principais necessidades de investimento da Arábia Saudita?
Desde a década de 1930 que a Arábia Saudita tem atraído empresas e talentos de todo o mundo, quer para a exploração petrolífera, quer para as infraestruturas e para a diversificação da economia. Desde sempre houve interação com empresas europeias. Adquirir talento e experiência de empresas europeias e americanas sempre esteve lá. Mas a dimensão dos projetos que estamos a realizar é que estão a atrair cada vez mais empresas. Os maiores projetos de construção hoje estão na Arábia Saudita. Isto movimenta a economia.
Porque é que acredita que as empresas portuguesas podem ajudar?
As empresas portuguesas têm a competitividade para serem um grande ator nos grandes projetos que temos na Arábia Saudita, devido às elevadas qualificações e competências, com boas universidades e todas as pessoas a falar várias línguas, e abertura à comunidade global.
É fácil atrair empresas e recursos humanos, considerando asquestões da Arábia Saudita em torno dos direitos humanos e do respeito pelas mulheres?
A Arábia Saudita é um dos países que mais se empenham nas Nações Unidas em matéria de direitos humanos. E uma grande parte da nossa representação na ONU são mulheres. Um dos maiores planos do projeto Neom é liderado por uma mulher saudita, muito talentosa. A proporção de mulheres a entrar no mercado de trabalho é extremamente alta, não é baixa. Elas estão integradas.