O Governo português e os chineses da CALB anunciaram formalmente, esta semana, a construção de uma megafábrica de baterias de lítio para a indústria automóvel.
O projeto ficará situado em Sines, terá um investimento total de 2 mil milhões de euros e irá criar cerca de 1 800 postos de trabalho.
Segundo o ministro da Economia, Pedro Reis, a nova fábrica receberá apoios públicos de 350 milhões de euros, no âmbito do regime europeu de incentivos à rein- dustrialização e aceleração da inovação.
"Isto é um daqueles big bangs de investimento que acontecem de vez em quando e que, neste momento, é tremendamente importante para Portugal", salientou o governante.
Já para a empresa chinesa, a localização e as infraestruturas existentes em Sines foram um fator-chave para esta decisão. "Escolhemos Portugal para instalar esta megafábrica europeia devido às suas vantagens estratégicas, o forte potencial da economia e à mão de obra qualificada", explicou Liu Jingyu, presidente da CALB.
Para a gestora, Sines "oferece uma logística excecional" devido ao seu porto de águas profundas, que pode ser operado 24 horas por dia, 7 dias por semana, ligado a uma boa rede ferroviária de carga.
"Estas são características ideais para a distribuição dos nossos produtos no mercado europeu. Além disso, a aposta portuguesa no apoio às energias verdes criam um ambiente perfeito para o sucesso da visão de longo prazo da CALB, pois o nosso obje- tivo é construir uma fábrica de última geração e com zero carbono de emissões", salientou a presidente da CALB.
O processo segue agora todos os trâmites legais, nomeadamente a avaliação do AICEP, para verificar se é elegível para receber apoios públicos e deverá entrar em funcionamento em 2028.
"A contratualização tem que ocorrer em 2025, mas estes contratos levam algum tempo, porque temos de estudar, temos de discutir bem tudo o que é e o que não é elegível, as percentagens de apoio, as intensidades de apoio, e só aí conseguiremos ter uma proposta negocial acabada que passe a contra- tualização", explicou a administradora da AICEP, Oliveira e Silva, que também esteve presente na cerimónia.
A polémica do lítio Sendo o lítio a principal matéria- -prima para fabricar estas baterias, o ministro adiantou que a empresa chinesa "tem certamente soluções que consideram a extração do lítio em Portugal e de outras fontes". Mas fez questão de sublinhar que o modelo da CALB "é autónomo e sustentável", seja qual for a fonte da matéria-prima.
Por outras palavras, o governante deixou em aberto a possibilidade da CALB ou um dos seus fornecedores poderem iniciar novas explorações deste metal no nosso país Afinal, trata- -se de um investimento de grande dimensão que irá necessitar de enormes quantidades de lítio para abastecer a fábrica.
Segundo o relatório Informação e Estatísticas do Lítio, da US Geological Survey, Portugal tem atualmente a maior reserva da Europa deste metal e a oitava maior do mundo, com um total de 60 mil toneladas.
Existem oito zonas de prospeção de lítio, sendo que Montalegre e a serra de Arga são as regiões com maior potencial. O País tem recebido inúmeros pedidos para a prospeção deste metal, mas, como a extração é feita a céu aberto, tem existido uma forte contestação por parte das populações locais e de grupos ambientalistas.
No final do ano passado, a Galp decidiu travar o projeto de construção de uma refinaria de lítio em Setúbal. Denominado projeto Aurora, esta refinaria iria abastecer a indústria de baterias através do aproveitamento das reservas de lítio portuguesas.
A decisão foi tomada após os problemas financeiros da NorthVolt que entrou em processo de falência.
Nos meses seguintes, a Galp tentou encontrar novos parceiros para o negócio, mas não "obteve sucesso", segundo informou a empresa à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários, em dezembro último. Este projeto era para estar pronto em 2026.0 custo total estava estimado em 700 milhões de euros e contava com vários apoios da União Europeia, nomeadamente do Plano de Recuperação e Resi- liência (PRR).
UMA LONGA ESPERA
O interesse pela montagem de uma fábrica de baterias para carros elétricos em Portugal já vem de longe, mas, até agora, nenhum dos projetos se tinha concretizado.
A 11 de fevereiro de 2011, chegou a ser lançada a primeira pedra para a construção de uma fábrica de baterias para a Nissan. Tratava-se de um investimento de 156 milhões de euros, em Cacia, Aveiro, que iria criar cerca de 200 postos de trabalho. Em dezembro do mesmo ano, o construtor japonês anunciou o cancelamento do investimento, alegando que, após análise detalhada do plano de negócios, "as quatro fábricas espalhadas por todo o mundo seriam suficientes para os objetivos" da empresa.
Embora não tenha sido admitido por nenhuma das partes, na altura, especu- lou-se que a decisão tinha sido uma reação à decisão do governo de Passos Coelho de desinvestir na promoção da mobilidade elétrica, um projeto do governo anterior. A Nissan era então liderada pelo português Carlos Tavares, que tinha apostado em Portugal para desenvolver o plano de expansão europeu dos carros elétricos.
Em 2020, a Volkswagen colocou Portugal entre as possibilidades para a instalação de uma das seis me- gafábricas de baterias que o grupo alemão pretendia ter na Europa. Portugal era um dos destinos privilegiados para a unidade fabril, num investimento total de 10 mil milhões de euros, que serviria para alimentar as linhas de produção de carros elétricos das fábricas espanholas de Martorell, Catalunha, e Pam- plona, Navarra.
A decisão acabou por recair sobre Valência. As obras começaram em março de 2023.
Também o grupo Stellan- tis, que controla 14 marcas de automóveis, como a Peugeot, Fiat, Citroen, Jeep e Opel, admitiu, em 2023, que Portugal chegou a estar na mira para a instalação de uma unidade de baterias, com uma capacidade de 50 GWh, num investimento total de 4,1 mil milhões de euros. O projeto acabou em Saragoça.
Entre avanços e recuos, Portugal teve de esperar catorze anos desde que foi lançada a primeira pedra para a construção de uma fábrica de baterias para veículos elétricos. Com este investimento da CALB, o cluster automóvel nacional, que representa quase 6% do PIB e cerca de 23% das exportações de bens transacionáveis, dá um passo largo para se renovar e acompanhar a grande revolução que este setor está a atravessar com a transição para a mobilidade elétrica.
Tal como realçou o ministro da Economia, durante a cerimónia de lançamento deste projeto: "Num momento em que o setor automóvel atravessa tantos desafios, são investimentos como este que agarram em Portugal essa cadeia de valor e dão ao setor inteiro competitividade, produtividade e tecnologia."

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Investimento
Portugal recebe megafábrica de baterias
Chineses da CALB vão construir uma fábrica em Sines.
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27 fev. 2025
Imprensa Nacional