Há uma grande integração económica entre Portugal e a Galiza e há muito a fazer para contribuir para o seu desenvolvimento económico, sublinhou o presidente da AICEP, Ricardo Arroja, no Fórum Económico Portugal-Galiza, que, no dia 19 de fevereiro, reuniu cerca de 180 participantes em Vigo. Empresários e representantes de universidades e centros de investigação de Portugal e da Galiza debateram neste encontro a importância da cooperação económica entre dois territórios com uma ligação histórica.
“A Galiza é das regiões mais importantes para Portugal”, lembrou Ricardo Arroja. “É um dos principais clientes de Portugal, recentemente passou a ser o primeiro cliente em termos de regiões”. Os números demonstram essa relevância. De janeiro a novembro de 2024 as exportações para a região da Galiza atingiram os 2400 milhões de euros, valor que o presidente da AICEP lembrou ser “mais do que as exportações para a Bélgica, Marrocos ou o Brasil”.
De janeiro a setembro de 2024, Portugal foi o principal fornecedor da Galiza, com uma quota de 13%. Por outro lado, a Galiza é a terceira comunidade autónoma espanhola mais relevante para a instalação de empresas portuguesas, depois de Madrid e Barcelona.
Inovação e tecnologia como pilares do crescimento
Ricardo Arroja salientou que o crescimento de Portugal se enquadra hoje num novo modelo de inovação e tecnologia. “Temos ativos e talento em várias áreas, novos setores como aeronáutica e aeroespacial, outros com tradição como a metalomecânica ou os têxteis que se estão a modernizar”.
No último trimestre de 2024, a economia portuguesa cresceu quase 3%, salientou Ricardo Arroja. “Portugal tem de ser uma plataforma para o mundo e é um mercado central. Espanha é o seu principal cliente e fornecedor, e em alguns setores o crescimento é de dois dígitos. Os setores que trazemos a este fórum são representantes da nossa modernidade e capacidade”.
No fórum, estiveram em destaque setores de relevância para Portugal e a Galiza, como a metalomecânica, nomeadamente a sua digitalização, a indústria 4.0, a inovação, a automação e a eficiência energética; a economia do mar, com temas como os biorecursos marinhos, cadeias logísticas, portos, transição energética e construção naval; e os têxteis técnicos, com aplicação na indústria automóvel, construção ou saúde, e com tecnologias para monitorização de dados e práticas sustentáveis.
“Estamos muito centrados em entender quais as áreas e as tecnologias críticas”, sublinhou Ricardo Arroja. “Em Portugal temos hoje novas capacidades que vão mudar a economia nos próximos dez anos e nas quais queremos estar presentes”. O presidente da AICEP deu como exemplo alguns investimentos industriais ou em centros de competência e serviços partilhados que têm sido desenvolvidos e lembrou que existem, na AICEP, três linhas de apoio para o desenvolvimento de projetos inovadores.
Cooperação e vantagens da proximidade
Na abertura do Fórum Económico Portugal-Galiza, que foi organizado pela AICEP em parceria com o Círculo de Empresários da Galiza, a presidente do Círculo, Maria Borrás Borreguero, considerou que Galiza e Portugal são “sócios estratégicos que têm neste fórum o objetivo de converter os desafios em vantagens”. A proximidade geográfica é uma vantagem única, considerou, “mas necessitamos de uma maior ligação entre as estruturas e de explorar novas oportunidades de êxito”.
Jorge Sobrado, vice-presidente da Cultura, Património e Cooperação da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte (CCDRN) lembrou as raízes históricas entre o Norte de Portugal e a Galiza. “Formamos uma comunidade com uma ligação cultural e linguística. Não há cooperação na Península Ibérica sem a cooperação entre o Norte e a Galiza. As nossas raízes históricas são vivas e atuais e são uma base de confiança para os negócios”.
A proximidade geográfica, histórica e cultural tem resultado em intensas trocas transfronteiriças e parcerias em setores como o turismo, a indústria automóvel ou a agroalimentar, bem como em áreas como o oceano ou a mobilidade, adiantou Jorge Sobrado. “Os nossos laços são do presente e estão vivos, e estas oportunidades são reforçadas em contexto de crise”.
Para encerrar o Fórum Económico Portugal-Galiza, o embaixador de Portugal em Espanha, João Mira Gomes, destacou as mudanças que o mundo e a Europa estão a viver e sublinhou que, atualmente, as decisões dos empresários são muito influenciadas pela geopolítica. Ao procurar responder à questão "Que lugar para a Europa?", sublinhou a importância do mercado interno e de outros ativos, como o espaço Schengen. “A Europa precisa de encontrar o seu lugar entre a China e os Estados Unidos e de trabalhar muito mais com o Sul plural”.