De acordo com o Jornal de Negócios, nos primeiros dois meses deste ano os portos de Lisboa e de Sines cresceram mais de 20%, em termos homólogos, na carga movimentada, estando a beneficiar do desvio para a rota do Cabo que os armadores têm estado a utilizar por causa dos ataques no mar Vermelho.
A crise no transporte marítimo mundial devido aos ataques dos rebeldes houthis a navios comerciais no mar Vermelho, que desde finais de 2023 tem obrigado os armadores a usar a rota do cabo da Boa Esperança para ligar a Ásia à Europa, está a ter impacto nos portos portugueses de Sines e de Lisboa. Nos primeiros dois meses deste ano ambos registaram crescimentos de mais de 20% na carga movimentada face ao mesmo período de 2023, de acordo com dados da Autoridade da Mobilidade e dos Transportes (AMT).
Ao Negócios, Diogo Marecos, administrador da Liscont, a concessionária do terminal de contentores de Alcântara, confirma que a necessidade dos armadores recorrerem atualmente à rota atlântica – que demora mais cerca de um mês – devido à insegurança no mar Vermelho “está a beneficiar os portos portugueses” que podem receber os grandes porta-contentores, e que estão agora às portas da Europa.
Um efeito que, acrescenta, se soma aos grandes investimentos que têm estado a ser feitos para aumentar a sua capacidade de movimentação de carga. O terminal de contentores de Alcântara, hoje com paz social, já recuperou ligações marítimas diretas à América do Sul e à do Norte, tendo em curso um investimento de quase 124 milhões de euros. Já em Sines, a PSA está a desenvolver o projeto de expansão da fase III no terminal de contentores do porto alentejano (terminal XXI) que tem previsto investimentos de 412 milhões de euros.
Nos primeiro dois meses deste ano, em termos de carga movimentada, Sines cresceu 20,5%, em termos homólogos, enquanto Lisboa registou um incremento de 20,1%, tendo ambos contribuído que para que o conjuntos dos portos nacionais registasse uma evolução positiva de 11%. Olhando apenas para o tráfego de contentores, Sines somou um aumento de 39,2% até fevereiro e Lisboa de 7,3%, levando a que o sistema portuário nacional apresentasse uma subida de 19,7%.
De acordo com dados da AMT, a evolução do movimento de carga do sistema portuário nos primeiros dois meses dos últimos cinco anos revela que a variação média anual é de uma tendência de crescimento de apenas 6,2% em Lisboa e de 2,7% em Sines.
Quota ganha a Espanha
O regulador do setor dos transportes refere ainda que Sines continuou a apresentar a maior quota de mercado, em termos absolutos, de movimentação de mercadorias, com 54%, seguido por Leixões com 14,8% – após a quebra registada até fevereiro –, e do qual já se aproxima Lisboa, com 14,6%.
A AMT faz ainda notar na comparação com os portos espanhóis que, “salvaguardadas as diferenças e dimensões entre ambos, constata-se que o sistema portuário nacional registou um desempenho melhor”, já que cresceu 11% enquanto o do país vizinho “se limitou a 2,2%”. No caso específico do movimento de contentores, os portos nacionais também registaram “um crescimento expressivamente superior, de 19,7%, tendo o conjunto dos portos espanhóis ficado por um incremento de 9,7%”.