De acordo com o Jornal de Negócios, o investimento direto estrangeiro no país encolheu 1,1 mil milhões de euros no primeiro trimestre, segundo estatísticas atualizadas pelo Banco de Portugal (BdP). Este é o primeiro recuo no arranque do ano desde a pandemia, apesar de o investimento em imobiliário continuar a aumentar, sendo explicado sobretudo por um recuo do investimento vindo da União Europeia (UE).
Os dados do BdP, publicados no final da semana passada, revelam que o "stock" total de investimento direto estrangeiro (IDE) em Portugal atingiu 179,3 mil milhões de euros até ao final de março. Acontece que esse indicador já tinha ultrapassado a marca histórica dos 180 mil milhões na reta final de 2023. Para essa redução, terá contribuído um abrandamento no valor das transações acumuladas de investidores internacionais para Portugal fruto de uma retração do investimento nos primeiros três meses do ano.
Considerando apenas o período entre janeiro e março, verifica- se que houve uma diminuição nas transações de IDE face ao acumulado até então. Os dados do BdP indicam que as transferências dos investidores estrangeiros em Portugal conheceram um revés, ao fim de vários trimestres a crescer consecutivamente, e caíram 1.099,7 milhões de euros. É preciso recuar até 2020 para encontrar outro arranque do ano tão desfavorável ao IDE em Portugal como o agora registado.
Essa retração das transações de investimento acontece num contexto internacional marcado por elevadas taxas de juro e várias incertezas geopolíticas, o que tem levado a uma maior cautela por parte dos investidores. Um relatório da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), divulgado no início de maio, indica que, pelo segundo ano consecutivo, o IDE caiu em 2023 entre os 38 países que integram a organização, tendo Portugal também sido afetado pelo recuo das transações.
Além das transações de investimento, a variação do "stock" de IDE é "também influenciada pelas variações de preço, de câmbios e por outros ajustamentos estatísticos", segundo o BdP. Assim, num contexto de desinflação, os preços podem estar também apesar no recuo do investimento estrangeiro em Portugal
no arranque deste ano.
Do "stock" total de 179,3 mil milhões de IDE em Portugal, mais de 85% (154,6 mil milhões) são provenientes de países europeus e, desses, 136,2 mil milhões vêm da UE, segundo os dados da série do BdP que considera o investidor final em vez do local da subsidiária através da qual é feito o investimento. Contudo, no primeiro trimestre, foi no IDE vindo da UE que se registou a maior queda percentual (-1,04%). Em sentido contrário, o IDE vindo de África foi o que mais aumentou em Portugal (6,21%).
O top de maiores investidores finais estrangeiros manteve-se inalterado no primeiro trimestre. Espanha liderada com 26,3 mil milhões de investimento em Portugal, seguida pela França (17,5 mil milhões), Reino Unido (14,5 mil milhões)e China (11,6 mil milhões). Na lista, aparece também Portugal, com 25,8 mil milhões investidos, devido ao fenómeno de "round tripping", em que há uma "passagem do investimento com origem e destino em Portugal por entidades intermediárias residentes noutros territórios".
Investimento em imobiliário continua a crescer
Embora o IDE tenha diminuído, o investimento em imobiliário continua a subir. Entre janeiro e março, o "stock" total de IDE em imobiliário aumentou para 31,9 mil milhões, com as transações dos investidores internacionais para o setor a aumentarem 682 milhões. Este foi, aliás, o segundo melhor arranque de ano de sempre em toda a série do BdP, que arranca em 2008, sendo apenas superado pelo ano passado (850,7 milhões).
A subida do IDE em imobiliário em Portugal acontece numa altura em que os preços das casas estão a arrefecer na Zona Euro. No entanto, por cá, o abrandamento dos preços ainda tarda, captando ainda o interesse dos investidores internacionais.
Acresce que o fim do acesso a autorizações de residência por investimento - ou vistos gold - por via da aquisição de imóveis, que entrou em vigor no início deste ano, parece não estar a ter aindaimpac- to no investimento estrangeiro em imóveis. Vários agentes do setor imobiliário indicam que alguns potenciais investidores em Portugal estão a afastar a possibilidade devir para Portugal devido ao fim dos vistos gold,mas a lei não veda o investimento imobiliário através de fundos de investimento.
Porém, o novo Governo é favorável a um regresso dos vistos gold. Ainda antes detomar posse, o agora ministro da Presidência, António Leitão Amaro, admitiu, em entrevista ao Negócios, a possibilidade de reavaliar os vistos gold, considerando que pode "haver um melhoramento dos mecanismos" no sentido de dirigir o regime "para apoiar na satisfação de falhas de mercado ou de necessidades de aumentar oferta de arrendamento acessível".