Pedro Reis diz que o Banco de Fomento "é um instrumento crucial de política económica", quer reforçar o papel da instituição no financiamento das empresas e garante que vai manter a gestão do banco até à conclusão do mandato, o que acontecerá no final deste ano.
O ministro da Economia, Pedro Reis, considera que Portugal tem propostas fortes para a captação de investimento estrangeiro em áreas como a energia, a mobilidade e o "cluster" dos carros elétricos. No entanto, também aponta a cibersegurança, os centros de serviços partilhados e a defesa como setores que têm potencial.
Já disse que quer ser o ministro das Empresas. Uma das queixas recorrentes das empresas e dos empresários é o Banco de Fomento e a sua atividade. O que é que vai acontecer ao Banco de Fomento e quais são os planos que tem para ele?
O Banco de Fomento é um instrumento crucial de política económica, nomeadamente num país como Portugal, em que ainda temos as nossas fragilidades e lacunas. Portanto, parece-me fundamental e urgente que o Banco de Fomento ainda reforce mais a sua atividade comercial. E, no fim do dia, tudo o que se vier a fazer terá como objetivo fazer chegar em maior velocidade, mais produto bancário, ou seja, mais linhas de financiamento, às empresas. E esse o papel do Banco de Fomento, nomeadamente atuando no que são as falhas de mercado. E o que tem sido referido é que estas se verificam em operações que obrigam a um apetite de risco maior, de maturidades mais longas ou setores mais estruturantes.
O que está o Ministério da Economia a fazer para atingir esse objetivo?
O que temos estado a fazer muito intensamente, desde o primeiro dia em que começámos a governar, numa articulação profunda entre os ministério das Finanças e da Economia e a própria administração do Banco do Fomento, é identificar quais são todos aqueles pontos que são cruciais, de uma vez por todas, ativar. Há temas que têm a ver com ativação de linhas, há temas que têm a ver com autorizações, há temas que não têm a ver com governança, mas sim com articulação entre organismos, para que toda a panóplia de instrumentos do Banco de Fomento funcione. E relembro que estamos a falar de instrumentos de capital, de dívida e de garantia, e de fazer com que estes se encontrem de uma vez por todas à disposição das empresas portuguesas. Tem tudo a ver com a operacionalização ainda mais acelerada da instituição. E para sermos justos com toda a instituição, a começar pela sua administração, a verdade é que há muitas decisões, havia muitos temas por resolver e por fechar, que não tinham necessariamente a ver com ela. Ou seja, havia muitas situações, eu quase diria de falta de vontade política ou de caráter mais burocrático, de não decisão.
E qual é, agora, o ponto da situação. Vão mexer na administração do Banco de Fomento?
Neste momento, a nossa concentração e o nosso foco máximo está em desconstruir esses bloqueios à operacionalização do Banco do Fomento. Seria temerário e, a meu ver, irresponsável fazer isso, numa fase em que queremos, nas próximas semanas, ter a maior parte desses aspetos resolvidos, e ativados, linhas junto da lnvestEU [fundo que combina vários instrumentos financeiros da União Europeia], que são importantes para o financiamento das pequenas e médias empresas, programas de consolidação e de ativação do fundo de crescimento e resiliência e reforço de toda a parceria com quem concede crédito à exportação, havendo uma solução que aproveite o património histórico, por exemplo, de temas como o da COSEC [desde este ano chamada Allianz Trade em Portugal]. O nosso entendimento é remover tudo o que perturbe essa normalização do Banco de Fomento, fazer chegar produto às empresas portuguesas e prepará-lo para ter capacidade de financiamento do próprio banco junto dos organismos internacionais, ou seja, ter rating. Se se fosse mexer na administração, quando o mandato é até ao final do ano, estaria completamente a trocar prioridades. Portanto, nós teremos sempre um referencial com exigência para trabalhar na estabilização do Banco de Fomento. E o foco está completamente na operacionalização dos aspetos comerciais do banco e de fazer chegar alinha e produtos às empresas rapidamente. É nisso que estamos completamente centrados neste momento.
Disse que quer trazer para Portugal grandes projetos estratégicos. Quais são as prioridades? Tem alguns projetos em mente?
Eu fui presidente da AICEP e sei que um 'pipeline' de investimentos estratégicos demora tempo a ser construído. Estive há poucos dias em Espanha e tive a perceção também de quais são as prioridades de outros países europeus na captação de investimentos. O que está na calha é fazer acontecer nesta primeira fase alguns investimentos que já estavam sinalizados e que é importante acelerar. Se tivesse de antecipar os próximos meses, não me referindo obviamente a nenhum projeto em concreto, diria que Portugal, tal como os seus concorrentes europeus e até internacionais, está-se abater bem. Nós temos propostas fortes de captação, em áreas como as que têm a ver com energia, mobilidade, com o 'cluster' todo que vai dos veículos elétricos até ao tema do hidrogénio verde. Mesmo dentro dos veículos elétricos, acho que temos de olhar com estruturação e racionalidade para toda a cadeia de valor, que é o que outros países estão a fazer. Estive há cerca de um mês na China e vi como é que aquilo está a ser montado, o 'cluster' de A a Z, ou seja, nós teremos decisões a tomar sobre a extração do lítio, sobre a sua refinação, sobre a produção dos cátodos e das baterias e sobre a produção dos componentes automóveis, que vai obrigar a uma reengenharia de produtos e de processos. Como sabem, os veículos elétricos estão aí e a Europa está a construir uma política própria, para não ser ultrapassada por outros concorrentes internacionais, e isso obriga a todo um tipo de materiais e de processo de engenharia de produto completamente diferentes. Essa também é uma área. Vejo potencial em Portugal para atrair e densificar nichos de mercado como tudo o que tem a ver com a cibersegurança, 'data centers' e centros de serviços partilhados. Também, à medida que vou mergulhando nos 'pipeline' de investimento, quer da AICEP, quer do IAPMEI, e até sinalizações que fazem junto da ANI [Agência Nacional de Inovação], vejo também muito interesse em alguns setores mais tradicionais de densificarem o investimento a ser feito em Portugal.
Pode dar alguns exemplos?
Por exemplo, na área do têxtil, há quem esteja interessado em investir em Portugal para acelerar a evolução do têxtil para o têxtil técnico. E este, por sua vez, é uma porta de entrada num setor que vai dar necessariamente cartas no mundo e na Europa, que é o da defesa. E temos de procurar o nosso posicionamento em relação a esse setor e também do aeroespacial e do aeronáutico. Aí também há sinalização de Portugal como um destino possível de competências novas, muito ligadas à tecnologia. Quando entra nisso, acaba por se fazer uma tangente com o setor do mar.
O que quer dizer com isso?
Há vários projetos no 'pipeline' da AICEP que são de largas centenas de milhões de euros de investimento, nomeadamente nestas áreas, e que depois arrastam a construção, a certificação, a credenciação, a capacitação de muitas pequenas e médias empresas portuguesas, em que talvez não seja tão fácil definir os setores concretos, mas são investimentos que tocam vários subsetores. Isso é, aliás, uma abordagem a que temos que começar a habituar-nos mais, em que as fronteiras entre setores já não são tão claras. Para não fugir à pergunta, se me tivesse de perguntar onde é que vejo agenda mais densa é, nomeadamente, nos grandes projetos estratégicos, e alguns deles até têm sido discutidos nos últimos anos publicamente. Portanto, estão afazer o seu caminho. Diria que não andamos muito longe da verdade em apontar alguns setores em que estão particularmente a despertar interesse de investidores estrangeiros - europeus, americanos, asiáticos, curiosamente dos vários continentes - nestas fileiras: energia (em especial e não só, mas energia), mobilidade, em toda a área farmacêutica também há alguma identificação de interesses e depois no que eu diria que são algumas áreas mais avançadas da indústria
Ligadas ao mar?
Referi o mar mas estou agora a lembrar-me também do setor químico. Em Portugal há grupos interessados em investir mais profundamente no setor químico.
Já verbalizou o seu objetivo de ressuscitar a diplomacia económica. É necessário ser, digamos, mais agressivos nessa captação de investimento?
Acima de tudo, mais intenso e mais focado. Isso é indiscutível. O jogo dos próximos anos de afirmação das economias é o de captação de investimentos externos. Até porque se abriu uma janela de oportunidade para as economias e para aportuguesa, que é uma fase em que se está a redefinir a arrumação do investimento internacional, das competências, dos recursos críticos e dos centros de conhecimento e de investigação e desenvolvimento. Isto tudo está em movimento neste momento. Portugal vai ter de acelerar se quiser captar alguns desses centros de desenvolvimento e de investigação para conseguir crescer nas suas prestações, nomeadamente na sua componente tecnológica e nomeadamente no valor acrescentado nacional. Acho que os próximos três, quatro anos, em termos de definição de onde é que irão ficar essas cadeias de valor internacionalmente, vão provavelmente marcar os próximos 20 anos da economia europeia Não tenho muitas dúvidas que uma parte importante destas áreas ficará na Europa, mas esta distribuição entre países ainda está por se fazer. E também é preciso ver o que fica aqui, o que fica mais no continente americano ou mais no asiático. Tudo isto, neste momento, está em aberto. Ora, se nos queremos posicionar temos de pôr a força total na diplomacia económica Isso supõe uma articulação ao mais alto nível político e já vimos que as potências económicas não brincam em serviço nesta matéria Envolvem os seus mais altos responsáveis de Estado nas missões e depois desmultiplicam com o empresariado, a academia, as universidades e por aí fora Temos de aproveitar todas as oportunidades de diplomacia e de visitas oficiais para fazer fóruns empresariais em que se juntem empresas dando-lhes oportunidades, já que estão no chapéu da visibilidade da agenda institucional. E também é necessário a organização de missões inversas a Portugal. Nestas poucas semanas, em que tenho que me desdobrar em muitas frentes, há algo que faço sempre muita questão e para o qual tenho o cuidado de guardar espaço. Que é, por exemplo, quando as multinacionais pedem para serem ouvidas. Já me apercebi que nós estamos, em algumas situações, nas retas de finais de decisões de multinacionais que estão entre investir em Portugal ou em Inglaterra, ou entre investir em Portugal ou no Brasil, nos Estados Unidos, na Turquia, ou na Polónia. A diplomacia económica também é muito para isso.
Uma das bandeiras deste Governo é a de criar um conjunto de medidas destinadas às empresas. Além disso, há também um plano de competitividade na calha. Têm estado a receber sugestões de diferentes organizações. Em que vai consistir esse plano?
Não posso antecipar o plano, mas é uma excelente pergunta e dá-me uma oportunidade de arrumar ideias, até porque temos estado muito no Ministério da Economia a fazer o trabalho de casa discretamente, no sentido em que estamos a preparar uma abordagem sistematizada ao que consideramos que são os grandes vetores de crescimento potencial da economia portuguesa E isso quer dizer, justamente, que vamos ter dois ou três pacotes setoriais, ou seja, queremos apresentar medidas na área do turismo, como mais tarde na área do mar, que são setores estratégicos que estão na alçada do Ministério da Economia. Depois queremos fazer uma abordagem a temáticas como a da reindustrialização, nomeadamente a reindustrialização verde, e vamos criar um conselho consultivo nessa matéria Dividi muito as prioridades aqui no Ministério da Economia nestes primeiros meses. Temos, claro, um pacote de medidas. A reindustrialização está nas nossas prioridades, depois temos o tema todo da inovação e do empreendedorismo, e temos estado a trabalhar com uma multiplicidade de parceiros nestas áreas.
E como se concretiza esta estratégia?
Estamos a ouvir muita gente, associações, confederações, 'thinktanks', universidades, que têm muito claro quais são as medidas que poderiam fazer a diferença nesta matéria E temos um terceiro vetor que chamo da escala e consolidação. Ou seja, medidas que acelerem e patrocinem o ganho de dimensão das empresas. É claro que essas matérias, algumas têm natureza mais fiscal, outras mais regulatória, outras de promoção da própria consolidação setorial. Portanto, nos próximos meses, o nosso 'roadmap' é, na prática, apresentar medidas nestas várias vertentes. Em conjunto com isso quero colocar o Ministério da Economia a funcionar justamente em ecossistema, ou seja, pôr-nos do ponto de vista das empresas. Ou seja, queremos ir ao mercado, que na prática é quem nós servimos, que são as empresas, com propostas de valor articuladas entre o Banco de Fomento, da AICEP, do IAPMEI, do Turismo de Portugal, da Agência Nacional de Inovação, e de alguns outros, de maneira a ter uma proposta de valor concreta e da forma como as coisas se articulam. Por fim, temos estado, em coordenação com o Ministério do Desenvolvimento e da Coesão Territorial, nos casos que nos dizem mais diretamente o respeito, a pôr a força toda na recuperação dos prazos do PRR e do PT2030, nomeadamente das agendas mobilizadoras. Vejo isto tudo de uma maneira integrada para recuperar o tempo perdido, para cumprir prazos de avaliação de resposta de execução e de pagamento. Portanto, isso também é outra das nossas prioridades. Isto parece muito vasto e muito diversificado, mas a realidade da economia portuguesa é mesmo assim. É nestes eixos que nos vamos concentrar.
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O ministro da Economia, Pedro Reis, considera que Portugal tem propostas fortes para a captação de investimento estrangeiro em áreas como a energia, a mobilidade e o "cluster" dos carros elétricos. No entanto, também aponta a cibersegurança, os centros de serviços partilhados e a defesa como setores que têm potencial.
Já disse que quer ser o ministro das Empresas. Uma das queixas recorrentes das empresas e dos empresários é o Banco de Fomento e a sua atividade. O que é que vai acontecer ao Banco de Fomento e quais são os planos que tem para ele?
O Banco de Fomento é um instrumento crucial de política económica, nomeadamente num país como Portugal, em que ainda temos as nossas fragilidades e lacunas. Portanto, parece-me fundamental e urgente que o Banco de Fomento ainda reforce mais a sua atividade comercial. E, no fim do dia, tudo o que se vier a fazer terá como objetivo fazer chegar em maior velocidade, mais produto bancário, ou seja, mais linhas de financiamento, às empresas. E esse o papel do Banco de Fomento, nomeadamente atuando no que são as falhas de mercado. E o que tem sido referido é que estas se verificam em operações que obrigam a um apetite de risco maior, de maturidades mais longas ou setores mais estruturantes.
O que está o Ministério da Economia a fazer para atingir esse objetivo?
O que temos estado a fazer muito intensamente, desde o primeiro dia em que começámos a governar, numa articulação profunda entre os ministério das Finanças e da Economia e a própria administração do Banco do Fomento, é identificar quais são todos aqueles pontos que são cruciais, de uma vez por todas, ativar. Há temas que têm a ver com ativação de linhas, há temas que têm a ver com autorizações, há temas que não têm a ver com governança, mas sim com articulação entre organismos, para que toda a panóplia de instrumentos do Banco de Fomento funcione. E relembro que estamos a falar de instrumentos de capital, de dívida e de garantia, e de fazer com que estes se encontrem de uma vez por todas à disposição das empresas portuguesas. Tem tudo a ver com a operacionalização ainda mais acelerada da instituição. E para sermos justos com toda a instituição, a começar pela sua administração, a verdade é que há muitas decisões, havia muitos temas por resolver e por fechar, que não tinham necessariamente a ver com ela. Ou seja, havia muitas situações, eu quase diria de falta de vontade política ou de caráter mais burocrático, de não decisão.
E qual é, agora, o ponto da situação. Vão mexer na administração do Banco de Fomento?
Neste momento, a nossa concentração e o nosso foco máximo está em desconstruir esses bloqueios à operacionalização do Banco do Fomento. Seria temerário e, a meu ver, irresponsável fazer isso, numa fase em que queremos, nas próximas semanas, ter a maior parte desses aspetos resolvidos, e ativados, linhas junto da lnvestEU [fundo que combina vários instrumentos financeiros da União Europeia], que são importantes para o financiamento das pequenas e médias empresas, programas de consolidação e de ativação do fundo de crescimento e resiliência e reforço de toda a parceria com quem concede crédito à exportação, havendo uma solução que aproveite o património histórico, por exemplo, de temas como o da COSEC [desde este ano chamada Allianz Trade em Portugal]. O nosso entendimento é remover tudo o que perturbe essa normalização do Banco de Fomento, fazer chegar produto às empresas portuguesas e prepará-lo para ter capacidade de financiamento do próprio banco junto dos organismos internacionais, ou seja, ter rating. Se se fosse mexer na administração, quando o mandato é até ao final do ano, estaria completamente a trocar prioridades. Portanto, nós teremos sempre um referencial com exigência para trabalhar na estabilização do Banco de Fomento. E o foco está completamente na operacionalização dos aspetos comerciais do banco e de fazer chegar alinha e produtos às empresas rapidamente. É nisso que estamos completamente centrados neste momento.
Disse que quer trazer para Portugal grandes projetos estratégicos. Quais são as prioridades? Tem alguns projetos em mente?
Eu fui presidente da AICEP e sei que um 'pipeline' de investimentos estratégicos demora tempo a ser construído. Estive há poucos dias em Espanha e tive a perceção também de quais são as prioridades de outros países europeus na captação de investimentos. O que está na calha é fazer acontecer nesta primeira fase alguns investimentos que já estavam sinalizados e que é importante acelerar. Se tivesse de antecipar os próximos meses, não me referindo obviamente a nenhum projeto em concreto, diria que Portugal, tal como os seus concorrentes europeus e até internacionais, está-se abater bem. Nós temos propostas fortes de captação, em áreas como as que têm a ver com energia, mobilidade, com o 'cluster' todo que vai dos veículos elétricos até ao tema do hidrogénio verde. Mesmo dentro dos veículos elétricos, acho que temos de olhar com estruturação e racionalidade para toda a cadeia de valor, que é o que outros países estão a fazer. Estive há cerca de um mês na China e vi como é que aquilo está a ser montado, o 'cluster' de A a Z, ou seja, nós teremos decisões a tomar sobre a extração do lítio, sobre a sua refinação, sobre a produção dos cátodos e das baterias e sobre a produção dos componentes automóveis, que vai obrigar a uma reengenharia de produtos e de processos. Como sabem, os veículos elétricos estão aí e a Europa está a construir uma política própria, para não ser ultrapassada por outros concorrentes internacionais, e isso obriga a todo um tipo de materiais e de processo de engenharia de produto completamente diferentes. Essa também é uma área. Vejo potencial em Portugal para atrair e densificar nichos de mercado como tudo o que tem a ver com a cibersegurança, 'data centers' e centros de serviços partilhados. Também, à medida que vou mergulhando nos 'pipeline' de investimento, quer da AICEP, quer do IAPMEI, e até sinalizações que fazem junto da ANI [Agência Nacional de Inovação], vejo também muito interesse em alguns setores mais tradicionais de densificarem o investimento a ser feito em Portugal.
Pode dar alguns exemplos?
Por exemplo, na área do têxtil, há quem esteja interessado em investir em Portugal para acelerar a evolução do têxtil para o têxtil técnico. E este, por sua vez, é uma porta de entrada num setor que vai dar necessariamente cartas no mundo e na Europa, que é o da defesa. E temos de procurar o nosso posicionamento em relação a esse setor e também do aeroespacial e do aeronáutico. Aí também há sinalização de Portugal como um destino possível de competências novas, muito ligadas à tecnologia. Quando entra nisso, acaba por se fazer uma tangente com o setor do mar.
O que quer dizer com isso?
Há vários projetos no 'pipeline' da AICEP que são de largas centenas de milhões de euros de investimento, nomeadamente nestas áreas, e que depois arrastam a construção, a certificação, a credenciação, a capacitação de muitas pequenas e médias empresas portuguesas, em que talvez não seja tão fácil definir os setores concretos, mas são investimentos que tocam vários subsetores. Isso é, aliás, uma abordagem a que temos que começar a habituar-nos mais, em que as fronteiras entre setores já não são tão claras. Para não fugir à pergunta, se me tivesse de perguntar onde é que vejo agenda mais densa é, nomeadamente, nos grandes projetos estratégicos, e alguns deles até têm sido discutidos nos últimos anos publicamente. Portanto, estão afazer o seu caminho. Diria que não andamos muito longe da verdade em apontar alguns setores em que estão particularmente a despertar interesse de investidores estrangeiros - europeus, americanos, asiáticos, curiosamente dos vários continentes - nestas fileiras: energia (em especial e não só, mas energia), mobilidade, em toda a área farmacêutica também há alguma identificação de interesses e depois no que eu diria que são algumas áreas mais avançadas da indústria
Ligadas ao mar?
Referi o mar mas estou agora a lembrar-me também do setor químico. Em Portugal há grupos interessados em investir mais profundamente no setor químico.
Já verbalizou o seu objetivo de ressuscitar a diplomacia económica. É necessário ser, digamos, mais agressivos nessa captação de investimento?
Acima de tudo, mais intenso e mais focado. Isso é indiscutível. O jogo dos próximos anos de afirmação das economias é o de captação de investimentos externos. Até porque se abriu uma janela de oportunidade para as economias e para aportuguesa, que é uma fase em que se está a redefinir a arrumação do investimento internacional, das competências, dos recursos críticos e dos centros de conhecimento e de investigação e desenvolvimento. Isto tudo está em movimento neste momento. Portugal vai ter de acelerar se quiser captar alguns desses centros de desenvolvimento e de investigação para conseguir crescer nas suas prestações, nomeadamente na sua componente tecnológica e nomeadamente no valor acrescentado nacional. Acho que os próximos três, quatro anos, em termos de definição de onde é que irão ficar essas cadeias de valor internacionalmente, vão provavelmente marcar os próximos 20 anos da economia europeia Não tenho muitas dúvidas que uma parte importante destas áreas ficará na Europa, mas esta distribuição entre países ainda está por se fazer. E também é preciso ver o que fica aqui, o que fica mais no continente americano ou mais no asiático. Tudo isto, neste momento, está em aberto. Ora, se nos queremos posicionar temos de pôr a força total na diplomacia económica Isso supõe uma articulação ao mais alto nível político e já vimos que as potências económicas não brincam em serviço nesta matéria Envolvem os seus mais altos responsáveis de Estado nas missões e depois desmultiplicam com o empresariado, a academia, as universidades e por aí fora Temos de aproveitar todas as oportunidades de diplomacia e de visitas oficiais para fazer fóruns empresariais em que se juntem empresas dando-lhes oportunidades, já que estão no chapéu da visibilidade da agenda institucional. E também é necessário a organização de missões inversas a Portugal. Nestas poucas semanas, em que tenho que me desdobrar em muitas frentes, há algo que faço sempre muita questão e para o qual tenho o cuidado de guardar espaço. Que é, por exemplo, quando as multinacionais pedem para serem ouvidas. Já me apercebi que nós estamos, em algumas situações, nas retas de finais de decisões de multinacionais que estão entre investir em Portugal ou em Inglaterra, ou entre investir em Portugal ou no Brasil, nos Estados Unidos, na Turquia, ou na Polónia. A diplomacia económica também é muito para isso.
Uma das bandeiras deste Governo é a de criar um conjunto de medidas destinadas às empresas. Além disso, há também um plano de competitividade na calha. Têm estado a receber sugestões de diferentes organizações. Em que vai consistir esse plano?
Não posso antecipar o plano, mas é uma excelente pergunta e dá-me uma oportunidade de arrumar ideias, até porque temos estado muito no Ministério da Economia a fazer o trabalho de casa discretamente, no sentido em que estamos a preparar uma abordagem sistematizada ao que consideramos que são os grandes vetores de crescimento potencial da economia portuguesa E isso quer dizer, justamente, que vamos ter dois ou três pacotes setoriais, ou seja, queremos apresentar medidas na área do turismo, como mais tarde na área do mar, que são setores estratégicos que estão na alçada do Ministério da Economia. Depois queremos fazer uma abordagem a temáticas como a da reindustrialização, nomeadamente a reindustrialização verde, e vamos criar um conselho consultivo nessa matéria Dividi muito as prioridades aqui no Ministério da Economia nestes primeiros meses. Temos, claro, um pacote de medidas. A reindustrialização está nas nossas prioridades, depois temos o tema todo da inovação e do empreendedorismo, e temos estado a trabalhar com uma multiplicidade de parceiros nestas áreas.
E como se concretiza esta estratégia?
Estamos a ouvir muita gente, associações, confederações, 'thinktanks', universidades, que têm muito claro quais são as medidas que poderiam fazer a diferença nesta matéria E temos um terceiro vetor que chamo da escala e consolidação. Ou seja, medidas que acelerem e patrocinem o ganho de dimensão das empresas. É claro que essas matérias, algumas têm natureza mais fiscal, outras mais regulatória, outras de promoção da própria consolidação setorial. Portanto, nos próximos meses, o nosso 'roadmap' é, na prática, apresentar medidas nestas várias vertentes. Em conjunto com isso quero colocar o Ministério da Economia a funcionar justamente em ecossistema, ou seja, pôr-nos do ponto de vista das empresas. Ou seja, queremos ir ao mercado, que na prática é quem nós servimos, que são as empresas, com propostas de valor articuladas entre o Banco de Fomento, da AICEP, do IAPMEI, do Turismo de Portugal, da Agência Nacional de Inovação, e de alguns outros, de maneira a ter uma proposta de valor concreta e da forma como as coisas se articulam. Por fim, temos estado, em coordenação com o Ministério do Desenvolvimento e da Coesão Territorial, nos casos que nos dizem mais diretamente o respeito, a pôr a força toda na recuperação dos prazos do PRR e do PT2030, nomeadamente das agendas mobilizadoras. Vejo isto tudo de uma maneira integrada para recuperar o tempo perdido, para cumprir prazos de avaliação de resposta de execução e de pagamento. Portanto, isso também é outra das nossas prioridades. Isto parece muito vasto e muito diversificado, mas a realidade da economia portuguesa é mesmo assim. É nestes eixos que nos vamos concentrar.
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