Na perspetiva do Governo era necessário imprimir um novo rumo. Mas a decisão de mudança do conselho de administração da AICEP – Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal deixa, desde já, uma marca na história deste organismo público de captação de investimento: a administração de Filipe Santos Costa, com apenas um ano em funções, passa a deter o registo do mais breve mandato desde que a AICEP foi criada, em 2007, ao juntar o ICEP, instituto vocacionado para a promoção das exportações, e a API, a agência que pretendia chamar investidores para o país.
Ao que o Expresso apurou, a decisão do Governo surpreendeu o presidente da AICEP, Filipe Santos Costa, que ainda na passada sexta-feira não tinha tido qualquer contacto do Executivo manifestando a sua intenção de remodelar a cúpula da entidade.
O presidente da AICEP tinha sido nomeado para o cargo a 5 de junho de 2023 pelo então ministro da Economia, António Costa Silva, depois de cinco anos na liderança da AICEP Global Parques, uma subsidiária da agência estatal que trabalhava na gestão de terrenos onde se pudessem instalar novas indústrias. Antes disso, Filipe Santos Costa havia trabalhado como delegado da AICEP em São Francisco, nos Estados Unidos da América, entre 2015 e 2018.
À frente da Global Parques, Filipe Santos Costa esforçou-se por dinamizar, em especial, a atração de investimento para a zona industrial e logística de Sines, uma das mais promissoras regiões do país na atração de capitais estrangeiros, sobretudo na área da indústria e da energia.
Em março de 2023, o então presidente da AICEP Global Parques guiou o Expresso numa visita a Sines, para enfatizar que este concelho alentejano poderia receber até 2030 investimentos superiores a 20 mil milhões de euros, aproveitando a procura global de projetos no quadro da descarbonização, desde a produção de hidrogénio verde ao fabrico de combustíveis de baixo carbono, da indústria do aço verde aos projetos da economia de dados, como data centers e cabos submarinos.
Já após a sua promoção à liderança da AICEP, Filipe Santos Costa continuou a trabalhar na captação de investimento, na assinatura de contratos de direitos de superfície em Sines para diversos projetos, e na participação em feiras e conferências cá dentro e lá fora, procurando vender Portugal como plataforma ideal para o investimento externo. Ainda esta segunda-feira, horas antes de o Governo avançar com a mudança da administração, a AICEP comunicou mais três contratos de investimento, no valor de 44 milhões de euros.
A aposta de Portugal nas renováveis, com alguma margem de progressão no investimento em energia solar, e a capacidade de proporcionar eletricidade a custos relativamente competitivos, tem sido um dos trunfos para tentar atrair investimento para o país, sobretudo o que está associado a consumos intensivos de eletricidade.
No entanto, Filipe Santos Costa será forçado a sair, menos de um ano após a nomeação, o que lhe dará também o estatuto da mais curta liderança da AICEP desde que a entidade foi fundada, em 2007.
O primeiro presidente da instituição, Basílio Horta, liderou a AICEP até 2011. Seguiu-se-lhe Pedro Reis (o atual ministro da Economia), no mandato de 2011 a 2013. Também Miguel Frasquilho cumpriu um triénio à frente da AICEP, de 2014 a 2016.
Em 2017, após nova mudança governativa, também a cúpula da AICEP mudou, entrando Luís Castro Henriques para a presidência, que ocuparia até abril de 2023.
RECORDE DE INVESTIMENTO ANGARIADO EM 2023
Com quase 500 funcionários (dos quais centena e meia fora de Portugal), a AICEP prosseguia os seus esforços de assinar novos contratos de investimento e acompanhar dezenas de projetos de investimento (em procedimentos como os relacionados com o estatuto PIN – Potencial Interesse Nacional). Na frente da promoção externa, a organização da participação portuguesa na Expo Osaka 2025 era uma das prioridades da atual administração, que contava ainda com 4,7 milhões de euros para diversas atividades de promoção externa só em 2024.
O relatório e contas de 2023 da AICEP indica que o ano passado ficou marcado por um novo recorde de investimento estrangeiro em Portugal, tendo a agência estatal angariado 3,5 mil milhões de euros em novos projetos, com um crescimento de 30% nos projetos industriais, segundo as contas reportadas por Filipe Santos Costa.
“Este novo recorde de investimento angariado pela AICEP assinala um sólido interesse e compromisso das empresas, nacionais e estrangeiras, em investir no nosso país. A par da inversão da balança comercial, ilustra, não só, mas também, o esforço diário e os resultados alcançados pelos trabalhadores da AICEP em prol da economia nacional”, notava o mesmo responsável.
Mas, para o novo Governo, não terá sido suficiente. É o fim da linha para Filipe Santos Costa e os restantes cinco administradores do organismo público.