Numa economia globalizada não há como escapar às ondas de choque do terramoto económico alemão, avisa o antigo presidente da Confederação Empresarial de Portugal. Em entrevista ao Negócios e Antena 1, António Saraiva aponta para a diversificação de mercados como solução.
Com a França a braços com uma crise política e da dívida pública e a Alemanha a enfrentar dois anos consecutivos de recessão, o contexto internacional vai ter consequências inevitáveis na economia portuguesa, teme o presidente da Cruz Vermelha Portuguesa. Em entrevista ao Negócios e Antena 1, António Saraiva diz mesmo que já há sinais de alerta em Portugal, em indústrias ligadas ao setor automóvel - um dos mais importantes em território germânico.
A situação em França e na Alemanha, que são mercados fundamentais para as nossas exportações, pode ter impacto em Portugal?
Terá, forçosamente. São os chamados motores da União Europeia, e quando começam a ter velocidades diferentes e isso invariavelmente reflete-se em toda a União Europeia, desde logo em Portugal.
Já há sinais de alerta?
Há sinais. A indústria alemã está muito dependente e centrada na indústria automóvel, que está há três ou quatro anos em mudança brutal, do motor de combustão, a gasóleo ou a gasolina, para o motor elétrico. Portugal tem sido - a nível dos moldes, por exemplo - muito dependente desse setor de atividade. Estas alterações exigem brutais investimentos. Por isso os moldes estão de novo a passar uma situação complicada. Há outros setores de atividade que igualmente se ressentem. Esta imprevisibilidade, estas dificuldades que ambos os países - a Alemanha, num sentido e França noutro - estão a sentir, inevitavelmente traz efeitos perversos à União Europeia, mas também a Portugal.
Estas dificuldades que a Alemanha e França estão a sentir inevitavelmente trazem efeitos perversos à União Europeia e a Portugal.
Como é que nos podemos preparar para esta situação? O que podem as empresas e o Governo fazer?
Temos de fazer aquilo que as empresas já vinham fazendo quando alguns dos mercados em que apostamos lá atrás - houve um tempo que era o Brasil, depois África e dentro de África, Angola - foram percecionados como não muito atrativos, até por toda a burocracia, legislação, etc. As empresas viraram-se para outros mercados.
Mas isso é opção neste momento no atual contexto?
É. O mundo vive várias tensões geográficas, mas há regiões nas quais os nossos produtos e serviços são atrativos. A União Europeia acaba de chegar a acordo com o Mercosul, que tem o potencial que tem. Há outras regiões que são hoje atrativas e para os quais a economia portuguesa e os seus agentes têm de olhar e alguns já estão a fazê-lo. É muito perigoso ter só um cliente ou só um mercado.
E a função do Governo?
Temos de ter uma política económica em conjunto com as empresas, ajudando-as, dando condições para que elas façam esse percurso. A AICEP tem de continuar a ser um farol para as empresas, acompanhando-as, prestando informação, facilitando o caminho de internacionalização.
A descida das taxas de juros vai facilitar?
Facilita, de modo geral. Os cidadãos veem a sua taxa de esforço na habitação melhorada. Mas traz outros desafios nesta imprevisibilidade que temos hoje no mundo, este caminhar para o protecionismo que os Estados Unidos ameaçam vir a ter e os seus efeitos. A contraposição da globalização é a regularização e não o protecionismo, e se os Estados entram em protecionismos, entramos em taxas alfandegárias, entramos em aumentos de preços em que a inflação pode não compensar esta redução. Entre o protecionismo pelo qual a economia do modo global aparentemente tende a caminhar e a redução das taxas de juros, uma - provavelmente as taxas alfandegárias e o aumento dos preços dos produtos - pode não ser compensadora. Há uma imprevisibilidade. Temos de estar atentos, dominar o mais possível a informação. Hoje, há que ter bons radares de informação, estar atento aos mercados - e é aí que o Estado pode ajudar bastante, na permanente avaliação da situação em geral, para que se possam adaptar. A redução das taxas de juro é benéfica desde logo para a taxa de esforço da habitação, mas pode não ser compensadora para outros custos, para as quais teremos que estar preparados.
Temos de fazer o que as empresas fizeram [...]. Viraram-se para outros mercados. António Saraiva, Presidente da Cruz Vermelha.
Com a França a braços com uma crise política e da dívida pública e a Alemanha a enfrentar dois anos consecutivos de recessão, o contexto internacional vai ter consequências inevitáveis na economia portuguesa, teme o presidente da Cruz Vermelha Portuguesa. Em entrevista ao Negócios e Antena 1, António Saraiva diz mesmo que já há sinais de alerta em Portugal, em indústrias ligadas ao setor automóvel - um dos mais importantes em território germânico.
A situação em França e na Alemanha, que são mercados fundamentais para as nossas exportações, pode ter impacto em Portugal?
Terá, forçosamente. São os chamados motores da União Europeia, e quando começam a ter velocidades diferentes e isso invariavelmente reflete-se em toda a União Europeia, desde logo em Portugal.
Já há sinais de alerta?
Há sinais. A indústria alemã está muito dependente e centrada na indústria automóvel, que está há três ou quatro anos em mudança brutal, do motor de combustão, a gasóleo ou a gasolina, para o motor elétrico. Portugal tem sido - a nível dos moldes, por exemplo - muito dependente desse setor de atividade. Estas alterações exigem brutais investimentos. Por isso os moldes estão de novo a passar uma situação complicada. Há outros setores de atividade que igualmente se ressentem. Esta imprevisibilidade, estas dificuldades que ambos os países - a Alemanha, num sentido e França noutro - estão a sentir, inevitavelmente traz efeitos perversos à União Europeia, mas também a Portugal.
Estas dificuldades que a Alemanha e França estão a sentir inevitavelmente trazem efeitos perversos à União Europeia e a Portugal.
Como é que nos podemos preparar para esta situação? O que podem as empresas e o Governo fazer?
Temos de fazer aquilo que as empresas já vinham fazendo quando alguns dos mercados em que apostamos lá atrás - houve um tempo que era o Brasil, depois África e dentro de África, Angola - foram percecionados como não muito atrativos, até por toda a burocracia, legislação, etc. As empresas viraram-se para outros mercados.
Mas isso é opção neste momento no atual contexto?
É. O mundo vive várias tensões geográficas, mas há regiões nas quais os nossos produtos e serviços são atrativos. A União Europeia acaba de chegar a acordo com o Mercosul, que tem o potencial que tem. Há outras regiões que são hoje atrativas e para os quais a economia portuguesa e os seus agentes têm de olhar e alguns já estão a fazê-lo. É muito perigoso ter só um cliente ou só um mercado.
E a função do Governo?
Temos de ter uma política económica em conjunto com as empresas, ajudando-as, dando condições para que elas façam esse percurso. A AICEP tem de continuar a ser um farol para as empresas, acompanhando-as, prestando informação, facilitando o caminho de internacionalização.
A descida das taxas de juros vai facilitar?
Facilita, de modo geral. Os cidadãos veem a sua taxa de esforço na habitação melhorada. Mas traz outros desafios nesta imprevisibilidade que temos hoje no mundo, este caminhar para o protecionismo que os Estados Unidos ameaçam vir a ter e os seus efeitos. A contraposição da globalização é a regularização e não o protecionismo, e se os Estados entram em protecionismos, entramos em taxas alfandegárias, entramos em aumentos de preços em que a inflação pode não compensar esta redução. Entre o protecionismo pelo qual a economia do modo global aparentemente tende a caminhar e a redução das taxas de juros, uma - provavelmente as taxas alfandegárias e o aumento dos preços dos produtos - pode não ser compensadora. Há uma imprevisibilidade. Temos de estar atentos, dominar o mais possível a informação. Hoje, há que ter bons radares de informação, estar atento aos mercados - e é aí que o Estado pode ajudar bastante, na permanente avaliação da situação em geral, para que se possam adaptar. A redução das taxas de juro é benéfica desde logo para a taxa de esforço da habitação, mas pode não ser compensadora para outros custos, para as quais teremos que estar preparados.
Temos de fazer o que as empresas fizeram [...]. Viraram-se para outros mercados. António Saraiva, Presidente da Cruz Vermelha.