De acordo com o Jornal de Negócios, sanções à Rússia levaram a UE a procurar novos parceiros comerciais. Cazaquistão, Brasil e Arábia Saudita foram alguns dos países onde as trocas comerciais com os Estados-membros mais cresceram. Energia continua a pesar, mas balança de bens da UE é já excedentária.
Ultrapassada a fase mais crítica da crise energética que abalou a Europa com a invasão russa da Ucrânia, a União Europeia (UE) está novamente a registar excedentes nas trocas comerciais de bens. Mas a guerra obrigou a alterações significativas na lista de parceiros comerciais. Com a Rússia a deixar de ser considerada um parceiro viável, países como a Arábia Saudita, Cazaquistão e o Brasil ganharam destaque.
Desde o segundo trimestre do ano passado que a UE está a registar um saldo positivo na balança comercial de bens. Entre abril e junho deste ano, registou um excedente de 40,4 mil milhões de euros, segundo os dados do Eurostat divulgados esta semana. Isso significa que a UE está hoje menos dependente do exterior, apesar de em termos económicos estar ainda a recuperar do abalo provocado pela guerra na Ucrânia, e está a vender mais mercadorias para fora de portas do que compra.
Este novo ciclo de excedentes veio pôr fim a um período de défices na balança comercial de bens da UE, que se estendeu por um ano e meio. Nessa altura, o elevado défice na energia eclipsou excedentes que a UE tinha noutras categorias de produtos. Os Estados-membros tiveram grandes dificuldades em encontrar novos parceiros comerciais, para não alimentarem a "máquina de guerra" russa, e assistiram a um aumento generalizado dos preços das mercadorias, o que deteriorou ainda mais abalança comercial.
Agora, esses constrangimentos parecem ser águas passadas. E certo que abalança comercial europeia continua a ser deficitária no que toca à energia (-88,4 mil milhões de euros) e matérias-primas (-6,3 mil milhões), mas a UE conseguiu recolocar o saldo comercial em valores positivos, graças aos excedentes comerciais na maquinaria, produtos químicos e bens alimentares. Isso é resultado, em grande medida, da reorientação das exportações e importações europeias, que tinham a Rússia com parceiro de peso.
No que toca às importações, os cálculos do Negócios feitos com base nos dados do Eurostat, ajustados de efeitos de calendário e de sazonalidade, revelam que, em comparação com os últimos três meses completos antes do início da guerra na Ucrânia (quarto trimestre de 2021), a Arábia Saudita foi o país onde a UE mais reforçou as suas compras (em 62,2%), devido sobretudo ao petróleo. No segundo trimestre, foram importadas mercadorias no valor total de 9,9 mil milhões de euros.
Na lista de países com as maiores subidas nas importações europeias pós-guerra, segue-se o Cazaquistão. As importações europeias deste vizinho da Rússia tiveram uma subida de 61% para 8,3 mil milhões. E de notar que vários estudos têm alertado que os Estados-membros estão a contornar as sanções à Rússia com a compra e venda de bens a países geograficamente próximos e que têm boas relações com os russos.
O Brasil foi o terceiro país com o maior aumento na lista de fornecedores da UE, com as importações acrescerem 38% no espaço de dois anos. Também aí o petróleo explica o aumento. Na lista, seguem-se o Vietname (cujas as importações da UE subiram 34%) e a índia (31,2%).
Top de parceiros mantém-se
Apesar dessa reorientação, o top de maiores parceiros comerciais da UE manteve-se praticamente inalterado nas importações e exportações. A grande exceção foi a Rússia, que caiu para meio data bela nos dois fluxos. Hoje, a UE importa de lá menos 84,9% do que antes da guerra e exportam e nos 65,4%, devido às sanções.
Nas importações, a China continua a ser, dois anos após o início da guerra, o maior fornecedor europeu. No segundo trimestre, a UE importou 125 mil milhões de euros em mercadorias da China. Porém, o valor é 7,9% inferior ao registado antes do conflito. Em segundo lugar, aparecem os Estados Unidos, onde as importações europeias cresceram 30% para 82,9 mil milhões. Segue-se o Reino Unido que, apesar de ver as importações da UE caírem 4,4% desde o início do conflito, conseguiu o terceiro lugar, que era da Rússia
No top 10 de principais fornecedores da UE, mantém-se também a Suíça, Noruega, Turquia, índia, Coreia do Sul e Japão. Já o Vietname, que foi um dos países que mais beneficiaram com a procura de novos parceiros, ocupa agora o 10.° lugar na lista.
Por outro lado, o principal destino das vendas da UE continuam a ser os Estados Unidos. Com a guerra, as exportações para o outro lado do Atlântico escalaram 26,6% para 133,2 mil milhões de euros. Seguem-se o Reino Unido (85,6 mil milhões), China (56,1 mil milhões) e Suíça (49,4 mil milhões). Com a saída da Rússia, a Turquia subiu à quinta posição, seguida pelo Japão e Noruega. Já o México estreou-se no oitavo lugar e a Coreia do Sul e Índia fecham o top 10 de principais destinos das exportações da UE.
40,4
Excedente
Excedente na balança comercial de bens da União Europeia, em milhares de milhões, registado no segundo trimestre deste ano.
A UE está a registar excedentes comerciais desde o segundo trimestre do ano passado, após ter investido em novos parceiros comerciais.
Guerra levou a novas parcerias
Maiores subidas e descidas nas importações e exportações desde o início da guerra, em percentagem
A Rússia era um dos principais parceiros comerciais da UE, mas, com as sanções impostas devido à invasão russa da Ucrânia, foi preciso encontrar novos fornecedores e clientes. O Cazaquistão e Arábia Saudita foram dos países onde mais subiram as importações e exportações da UE.
QUATRO TRIMESTRES DE EXCEDENTES
Evolução da balança comercial da União Europeia face ao resto do mundo, em milhões de euros
Pelo quarto trimestre consecutivo, a União Europeia registou um excedente comercial entre abril e junho. O saldo positivo foi de 40,4 mil milhões de euros, o que compara com 55,3 mil milhões no primeiro trimestre.
Fonte: Eurostat