Os consumidores como drivers da mudança
Um dos fatores incontornáveis para a ligação entre a questão da sustentabilidade e a transformação dos modelos de negócio reside na análise dos padrões de consumo e no reconhecimento do poder do consumidor para influenciar a oferta de produtos e serviços. Hoje, a perceção da íntima relação entre ambiente e saúde leva os consumidores a apreciar e preferir produtos recicláveis, menos embalados, que sigam práticas de comércio justo e que sejam oferecidos por empresas que tenham boas práticas laborais ao longo da cadeia de produção e abastecimento.
Os primeiros meses da pandemia covid-19 evidenciaram um consumo apoiado e ampliado pelo e-commerce. Muito embora atualmente as compras sejam efetuadas mais numa lógica omniway, a verdade é que, hoje os fatores de compra são diferentes e estão a moldar a forma como os consumidores vão gastar o seu dinheiro. Os fatores ESG subiram nas considerações e nas decisões de compra dos consumidores. Muito embora existam diferenças na hierarquização das preferências em função da geração a que os consumidores pertencem, na generalidade os pertencentes à geração Z e os millennials atribuem importância à forma como as empresas aportam valor e se posicionam em termos do ambiente, da responsabilidade social e de questões de diversidade, igualdade e inclusão.
Numa sondagem, 66% de todos os entrevistados, e 75% dos entrevistados millenials, afirmaram considerar a questão da sustentabilidade no momento de fazer uma compra. Na China, 41% dos consumidores dizem que querem produtos ecológicos.1 Significado e propósito (missão) estão intimamente ligados e, nos últimos anos, a desconfiança relativamente ao modus operandi de muitas empresas tem levado muitos gestores a olhar além da maximização do lucro e a questionar a razão de ser das suas organizações e a formular declarações de propósito e de impacto.
Assim se compreende o imperativo da adaptabilidade e flexibilidade dos modelos e estratégias de negócio. Uma das manifestações desta flexibilidade diz respeito às estratégias de captação e conservação de talento (recursos humanos). Em paralelo aos posicionamentos relativamente à cultura empresarial – os valores que seguem, o propósito e o impacto por que se regem, as empresas cada vez mais têm que fazer conhecer a sua estratégia para lidar com os recursos humanos e demais stakeholders ao longo dos processos de produção e das cadeias de abastecimento. A força laboral, as pessoas, representam a vantagem competitiva sustentável das empresas e aquilo que crescentemente procuram é trabalhar numa empresa que tenha um sentido de missão, um conjunto de valores, e que seja ‘boa’ para o mundo. Esta dimensão é cada vez mais vista como crucial para a resiliência e agilidade que os negócios precisam num mundo em que a mudança é constante. Por outro lado, esta dimensão é igualmente tida em linha de conta por parte dos consumidores que equacionam comprar os produtos/ serviços das empresas.
Não menos importante, reconhecer o poder do consumidor e das sociedades enquanto drivers da mudança significa também, na conjuntura atual, reconhecer o impacto que a inflação teve e continuará a ter nas opções de compra. Muito embora o valor (preço) continue a ser um fator incontornável, há hoje muitos mais drivers no momento em que os consumidores decidem gastar os seus euros e os valores subjacentes à sustentabilidade prometem continuar a pesar na decisão de compra.