A Evolução do Papel das Empresas
As últimas décadas foram marcadas por padrões de crescimento económico (quase) exclusivamente vocacionados para a procura e maximização do lucro sem preocupação social e ambiental. No entanto, hoje todos os indicadores apontam para a ideia de que as empresas enfrentarão crescentes dificuldades na economia internacional a médio prazo se não evoluírem destes tradicionais modelos de negócio para estratégias que simultaneamente possam trazer oportunidades económicas, aportar valor à sociedade e operar dentro dos limites ambientais do planeta. É este o desafio que as empresas enfrentam.
São múltiplas as pressões para a mudança. As consequências que os modelos de crescimento transferiram para o ambiente e para a sociedade (externalidades negativas) trazem à tona a inevitabilidade de inversão do percurso. Até recentemente, a ideia vigente era de que o risco de não agir (não mudar) poria em causa gerações futuras. Hoje, contudo, é consensual a ideia de que não agir porá em causa a resiliência dos sistemas económicos e modelos de negócio no presente.
Na transição para um mundo de desenvolvimento sustentável, as empresas têm um papel bidirecional incontornável:
- são recetoras de novas exigências em termos de estratégia de atuação económica, que têm que cumprir;
- são produtoras, atores centrais na construção de uma economia mais inclusiva, economicamente, social e ambientalmente sustentável. É amplamente reconhecido que a implementação da Agenda 2030 e dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) só pode ser alcançada com a contribuição das empresas, pequenas ou grandes, em qualquer setor de atividade.1
O papel das empresas nas economias e na sociedade tem vindo a evoluir. A passividade internacional face a um ‘laissez-faire’ empresarial, concentrado na produção de lucro e alheio aos impactos negativos da sua atividade, teve um momento de inflexão no final do século XX, com as pressões suscitadas pelas más práticas ambientais (causadoras de desastres ambientais) e laborais de várias empresas, em Portugal e no mundo.
Mais recentemente, em especial a partir da crise financeira de 2008 e da subsequente desconfiança gerada em torno das suas formas de atuação, muitas empresas começaram a pensar além (ou em aditamento) da maximização do lucro para questionarem a sua própria missão e se posicionarem relativamente à forma como podem criar valor. A ideia é a de encontrar formas de contribuir, de otimizar o valor para os stakeholders (meio ambiente e sociedade como sendo os principais stakeholders) em vez de simplesmente se concentrarem no lucro dos acionistas (shareholders).2
Fig.: Evolução do Papel das Empresas na economia e Sociedade: as empresas como parte da solução
Fonte: AICEP
As externalidades resultantes dos tradicionais modelos de crescimento económico estão na base da urgência de transformação dos modelos, lógicas e ética do desenvolvimento. Esta necessidade decorre de pressões ambientais e sociais objetivas que estão a moldar a forma como a economia e os tipos de negócio evoluem. Também estão a ditar quais os investimentos que têm viabilidade e possibilidade de florescer e quais os que ficarão sem rentabilidade. O realismo deste cenário não é meramente teórico, mas sim muito claro porque:
- o aumento do risco de inundações, secas, e outras manifestações de colapso do ecossistema está já a causar impacto na disponibilidade e custo dos recursos;
- as novas regulamentações (nacionais, regionais, globais) exigem que as empresas divulguem os seus riscos financeiros relacionados com o clima e com os impactos na sociedade, o que está já a pressionar os proprietários e gestores de ativos;
- os riscos de responsabilidade de litígio têm uma probabilidade de prejudicar a viabilidade futura das empresas e de comprometer o seu valor para os acionistas.
Ao longo dos últimos anos, a significativa desconfiança dos consumidores relativamente às empresas e sua forma de atuação tem vindo a levar muitos empresários a pensar além da maximização do lucro para questionar a própria existência das suas organizações e a formular declarações sobre a sua essência, propósito e impacto. Estamos perante uma nova realidade que se afasta da noção de que o único objetivo dos negócios é fornecer valor (lucro) ao acionista na direção de um paradigma em que se deve fornecer valor acrescentado a todos os que fazem parte do processo.
Existe, pois, um consenso quanto às deficiências de um sistema económico que ao longo das últimas décadas se concentrou diretamente em maximizar a eficiência em vez de construir resiliência. Existe reconhecimento da necessidade urgente de reformar os modelos económicos e, com eles, o mundo empresarial por forma a responder – e não criar - os desafios sociais, políticos e ambientais do nosso tempo.
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