Na maioria dos países da OCDE, são agora os salários que começam a pressionar mais os preços. Em Portugal, continuam a ser as margens de lucro das empresas, refere um novo relatório da organização sobre o emprego.
Entre as mais de três dezenas de economias avançadas que fazem parte da OCDE, Portugal é dos poucos onde as margens de lucro continuam a puxar mais pela subida dos preços do que os custos com os salários.
No "Employment Outlook" de 2024 divulgado esta terça-feira, 9 de julho, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) dedica-se à análise da recuperação real (ou seja, descontando o efeito da subida de preços) dos salários, olhando depois para o seu efeito na inflação. E tal como o Negócios também escreveu, o salário mínimo português cresceu 17,5% em termos reais.
No relatório sobre emprego, a organização internacional vai ao encontro de outros estudos, nomeadamente do Banco Central Europeu, concluindo que entre 2019 e 2022 as margens de lucro subiram mais do que os custos relacionados com o trabalho e outros "inputs" em muitos países, sendo, assim, "responsáveis por uma grande e pouco frequente fatia para as pressões nos preços", lê-se no documento.
No entanto, frisa a OCDE, os dados mais recentes apontam para uma mudança nesta dinâmica entre as margens de lucro e os custos de trabalho e o seu efeito nos preços em vários países. "Entre o início de 2022 e o primeiro trimestre de 2024, os custos de trabalho cresceram mais do que as margens de lucro", sublinham os economistas da organização.
E isso aconteceu em cerca de dois terços dos países da OCDE
com dados disponíveis, ou seja, 19 em 29. E na maioria desses países (14), as margens de lucro até desceram em 2023, "indicando que começaram a amortecer algum efeito inflacionário dos custos crescentes com salários", interpreta a OCDE.
No entanto, Portugal é uma das exceções. Os dados mostram que, por cá, os custos associados às margens de lucro aumentaram 17,8% no primeiro trimestre de 2024 em termos homólogos, enquanto os custos relacionados com os salários cresceram 16,9% no mesmo período.
Por outro lado, os dados relativos a Portugal indicam que, entre o primeiro e o último trimestres de 2023 os custos unitários de trabalho cresceram mais do que os relacionados com as margens de lucro das empresas (8,2% contra 7,2%). No entanto, em termos cumulativos desde 2022, quando a crise inflacionista na Zona Euro se intensificou, as margens continuam apesar mais na subida de preços do que os salários.
A redução do peso das margens na formação de preços - embora se mantenham, na Zona Euro, acima dos níveis pré-pandemia- era "largamente expectável", considera a OCDE. Isto porque refletem a recuperação do poder de compra, mais do que um "sinal preocupante de uma espiral inflacionista" de preços e salários, como se temia no início da crise de subida de preços, no arranque de 2022.
Aliás, a OCDE considerames- mo que a situação está controlada: "a contribuição dos custos dos salários para as pressões nos preços está sustentada durante algum tempo enquanto este processo de recuperação continua".
Além disso, destaca, "em muitos países o crescimento das margens nos últimos três anos permite uma almofada maior contra as pressões inflacionistas que advêm da recuperação dos salários reais".
Por fim, a OCDE deixa um recado: "No médio prazo, no entanto, o crescimento da produtividade é essencial para garantir aumentos sustentáveis de salários que não causem subidas nos custos laborais e mais pressões inflacionistas".

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Comércio
Portugal dos poucos onde margens lucro ainda alimentam os preços
Na maioria dos países da OCDE, são agora os salários que começam a pressionar mais os preços.
Jornal de Negócios
10 jul. 2024