Mobilidade elétrica
A mobilidade elétrica é um game changer no combate às alterações climáticas. É também um mercado com grande potencial.
Veículos elétricos (VEs): game changer no combate às alterações climáticas
O setor dos transportes (terrestre, aéreo e marítimo) é responsável por mais de um terço das emissões globais de CO2.1 Na verdade, entre 1990 e 2022, verificou-se um aumento contínuo das emissões na ordem de 1,7%,2 tendo o aumento sido particularmente observável em 2022. Adicionalmente, estima-se que a frota global de veículos duplique até 2050, com mais de 90% do futuro crescimento projetado a ter lugar em países de baixo e médio rendimento.3
Este padrão de crescimento não é compaginável com o combate às alterações climáticas. Por isso existe consenso quanto à ideia de que a diminuição das emissões globais ou, mesmo, da neutralidade carbónica, só será alcançável se se colocar este setor – ainda altamente baseado em motores de combustão, logo, dependente de combustíveis fósseis - no centro das políticas governamentais que promovem a transição energética.
Neste contexto, a adoção em massa de veículos elétricos, por estar no cruzamento das necessárias transformações no setor energético e dos transportes, apresenta o potencial de contribuir para travar as alterações climáticas. As transformações no mercado global comprovam esta revolução. Em 2022, as vendas de carros elétricos aumentaram 60% globalmente (veículos elétricos a bateria e híbridos plug-in). Nesse ano, 1 em cada 7 veículos de passageiros era EV, um aumento significativo face ao ano 2017, quando só 1 em cada 70 carros era elétrico. O aumento é particularmente relevante num contexto em que as vendas totais de automóveis decresceu 0,5% no mesmo ano. Neste cenário, os mercados chinês e europeu são particularmente ilustrativos: na China, 1 em cada 4 carros comprados em 2022 era elétrico, e na UE, a proporção era de 1 em cada 5.4
A União Europeia tem sido prolífica nas políticas promotoras da mobilidade elétrica, com o objetivo de reduzir as emissões dos transportes. Convém relembrar que, em 2020, o transporte rodoviário representava a maior parte das emissões de dióxido de carbono do setor de transportes da UE, representando cerca de 76,7% das emissões totais.5 Nesse mesmo ano, os automóveis de passageiros foram o maior contribuidor para as emissões rodoviárias na UE. Em junho de 2022, foi determinado que, até 2035, todos os novos carros vendidos na União Europeia deverão ser veículos não poluentes. Em 2023, foi produzida regulamentação adicional com o objetivo de melhorar a sustentabilidade da cadeia de abastecimento de baterias, incluindo as baterias utilizadas em carros elétricos.
Links úteis: - Sustainable and Smart Mobility Strategy - Diretiva relativa aos veículos não poluentes
Os desafios da mobilidade elétrica
Apesar de ser cada vez mais evidente o reconhecimento internacional da importância da eletrificação do setor dos transportes, em particular no seio da implementação de políticas de transição energética, o processo não é imune a desafios. Em particular, a adoção generalizada de EVs enfrenta dificuldades,6 que incluem (mas não se esgotam em): i) infraestruturas de carreamento desadequadas; ii) risco de sobrecarga das redes elétricas; iii) redes ainda muito dependentes de combustíveis fósseis; e iv) disponibilidade limitada de minerais críticos e metais raros. Contudo, a necessidade de revolucionar a mobilidade a necessidade de uma diminuição das emissões de, pelo menos, 3% por ano até 2030, de acordo com a IEA,7 tem vindo a incentivar a inovação tecnológica e a vontade política a produzir soluções por forma a mitigar os desafios. A tecnologia tem vindo a desempenhar um papel significativo na viabilização das infraestruturas de carregamento e rede e na manutenção de um abastecimento constante de minerais críticos para apoiar a adoção generalizada de veículos elétricos a um custo acessível.8 Exemplos disso são as novas formas de carregamento flexível e inteligente, a criação de sistemas de gestão de energia eficientes, bem como de monitorização e reciclagem de baterias. Por outro lado, também é reconhecível o esforço crescente de produção de um corpo de legislação, bem como de incentivos financeiros para promover e suportar esta transformação.
Ao longo dos últimos anos, proliferaram iniciativas que têm como objetivo disseminar campanhas e incentivos para aquisição de veículos não poluentes. A Coligação ‘Accelerating to Zero’ (A2Z), que reúne representantes do setor público, empresas e outras organizações, definiu como objetivo que, até ao ano 2040, todos os novos veículos vendidos globalmente não produzam emissões e que o mesmo se verifique nos principais mercados, o mais tardar até 2035.9
Links úteis:- Projetos de investigação e inovação para concretizar os objetivos de mobilidade verde da UE (programa de financiamento Horizon 2020)
O potencial de mercado
A estratégia da mobilidade elétrica é uma tendência verificável não só na EU, na China ou nos EUA, mas em todas as regiões do globo, resultado do aumento da produção e dos preços do petróleo, bem como da influência de políticas direcionadas à neutralidade carbónica. O aumento acentuado do número de veículos elétricos é um fenómeno crescentemente observável em todo o mundo. Não há hoje marcas de automóveis que não considerem produzir modelos elétricos. De acordo com o EY Mobility Consumer Index de 2023,10 mais de metade dos potenciais compradores a nível mundial afirma equacionar adquirir um veículo elétrico. Mas se a mobilidade elétrica é game changer no combate às alterações climáticas, e um mercado a acompanhar, o processo tem ainda desafios para ultrapassar.
Na EU, em particular, em 2023 as vendas de EVs aumentaram 62% e, só na Alemanha, o aumento chegou quase aos 70%.11 Dos novos veículos de passageiros adquiridos, 21,6% são carregáveis eletricamente, 22,6% das vendas são híbridos, enquanto 36,4% dos mais recentes carros se alimentam de combustível.12 Estima-se que o mercado europeu de EVs tenha uma taxa composta de crescimento anual (CAGR) de 12,11% entre 2024 e 2028, com projeções de volume de mercado na ordem dos US$ 288,9 mil milhões até 2028.13
Trata-se, hoje, de um mercado incontornável para as empresas europeias, quer enquanto pertencentes às cadeias de produção destes veículos, quer como consumidoras dos mesmos. Contudo, o potencial deste mercado não se esgota nos contextos europeu, chinês ou norte-americano. Uma análise prospetiva implica pensar nos mercados emergentes e nas especificidades regionais. Neste contexto, é fundamental reconhecer que as questões associadas à mobilidade não podem ser dissociadas da tendência global para a urbanização, comummente considerada uma das grandes megatendências demográficas da atualidade. Estima-se que em 2050 dois terços da população habite em áreas urbanas, com o continente asiático e, sobretudo, africano a liderar o crescimento urbano nas próximas décadas.14 Aliada ao aumento da prosperidade económica, a rápida urbanização tem trazido necessidades de gestão da mobilidade e, consequentemente, elevadas taxas de motorização, sobretudo nos países em desenvolvimento.15
Neste sentido, importa olhar não só para os contextos economicamente mais desenvolvidos, mas também para outros contextos geográficos, emergentes, onde a estratégia de mobilidade elétrica representa uma condição sine qua non para validar a transição para uma mobilidade elétrica não poluente. A leitura integrada destas transformações, que exigem transferência de know-how, e a intervenção de parcerias entre o setor público, privado e demais organizações, abre um manancial de oportunidades para as empresas.
Mobilidade elétrica nas estratégias das empresas
A indústria de EVs tem vindo a representar um catalisador das práticas ESG ao contribuírem para resolver parte dos desafios globais do desenvolvimento sustentável. São, portanto, visíveis os impactos positivos no E, no S e no G. No que diz respeito ao E, os EVs contribuem para reduzir as emissões de gases de efeito de estufa e melhorar eficiência energética, em claro contraste com os veículos de combustão interna, que dependem de combustíveis fósseis. Ao substituírem as suas frotas, as empresas estão, pois, a contribuir para um ambiente mais limpo. Este impacto positivo, por sua vez, contribui para uma melhoria da saúde pública, com claros benefícios na redução de custos na saúde. Por outro lado, à medida que a procura se vai consolidando, também se opera uma diminuição dos custos, o que contribui para o desenhar de soluções de mobilidade mais sustentáveis e inclusivas. O crescimento da indústria, potenciado por investimentos na produção, I&D, desenvolvimento de infraestruturas, contribui para a criação de emprego e, consequentemente, para gerar impacto social positivo, bem-estar e prosperidade inclusiva. Por fim, as práticas de (boa) governance corporativa devem ser parte integrante das empresas do setor. Apesar de existirem críticas quanto às práticas de sustentabilidade da exploração de determinadas matérias-primas, a indústria está cada vez mais sujeita a pressões dos stakeholders quanto ao fornecimento ético de materiais, à rastreabilidade da cadeia de abastecimentos e à priorização das condições de segurança dos trabalhadores. A mobilidade elétrica e a prossecução de estratégias EGS são duas tendências que se cruzam. Com um alinhamento entre os quadros regulatórios, o planeamento de infraestruturas, os imperativos das empresas e os objetivos ESG, potenciar-se-ão mutuamente, caminhando numa só direção.
Links úteis: