"Costumo dizer que não se internacionaliza quem quer, mas quem pode, que é o quem faz l&D, cria produtos e diferenciação, e fica com as ferramentas que permitem a internacionalização", revelou Maria do Carmo Neves, CEO da Tecnimede.
"Estratégias claras, planeamento bem feito e o seu controlo, capacidade de criar músculo financeiro e nunca dar o salto maior que a perna. Demora tempo, mas vamos com sustentabilidade", disse Maria do Carmo Neves, CEO da Tecnimede, ao elencar os segredos da performance da empresa, na entrevista ao programa do Negócios, "Economia Sem Fronteiras", do canal Now.
A Tecnimede tem uma história que remonta a 1980, quando foi fundada por Jorge Ruas, e é uma empresa familiar, que desde o início tem uma visão de futuro. Quatro anos depois entrou para a empresa Maria do Carmo Neves, cujo papel foi potenciar a ambição e construir as bases para os grandes sonhos que o Jorge Ruas tinha. "Hoje, decorridos 45 anos, estamos muito mais amadurecidos, continuamos a ter sonhos, mas esses sonhos já chegam à discussão montados em bases", disse Maria do Carmo Neves. Sob a sua liderança, o grupo Tecnimede apostou na internacionalização e na inovação, consolidando uma presença global em mais de 100 mercados.
O início em Marrocos
Considera que a Tecnimede nasceu para ser global porque começou pela Investigação e Desenvolvimento (I&D), que "foi sempre o grande sonho". "Costumo dizer que não se internacionaliza quem quer, quem pode, que é quem faz I&D, cria produtos e diferenciação, e, com isso, fica com as ferramentas que permitem a internacionalização. Há um fator muito importante, que é que tem de estar consolidado no país, porque senão exportamos problemas e não exportamos produtos ou capacidade" refere Maria do Carmo Neves. Acrescenta que "tivemos que criar dimensão, algum volume, e só então estávamos prontos para internacionalizar".
"A internacionalização começou com uma expansão industrial para Marrocos em 1999, seguindo-se a presença em mercados como Brasil, Colômbia, Espanha e Itália. Internacionalizar é um processo muito complexo e difícil, e exige várias combinações entre os modelos teóricos ou académicos e as estratégias práticas. A estratégia que definirmos tem de ser bem avaliada, com muito critério relativamente aos mercados alvos, à estrutura que temos e ainda aos objetivos de médio e longo prazo", referiu Maria do Carmo Neves.
O desafio do Brasil
Recorda que tiveram muitas dificuldades, "não pelo mercado em si, era um mercado ainda muito virgem em termos de medicamento, sem comparticipação da parte do Estado. Mas tem uma cultura que não é fácil, mas que tivemos que assimilar e acomodar. Hoje, na Tecnimede em Marrocos, somos marroquinos". Em países como a Espanha e a Itália foi a sensação de uma empresa pequena, cujo nome não era conhecido e que entra em países com mercados grandes, "uma imensidão comparativamente a Portugal".
Os mercados da América Latina estão em desenvolvimento e a Tecnimede adaptou-se e entrou com produtos próprios para estes países. A presença da Tecnimede no Brasil, um mercado grande, mas complexo para empresas portuguesas, iniciou-se em 2014, com produtos desenvolvidos especificamente para este mercado. "Quando fazemos a estratégia, estudamos os países e vemos se temos capacidade para entrar nesses países ou não. Encontrámos um filão chamado parceria comercial e com resultados positivos. Atualmente, estamos a estudar novas estratégias para alargar o mercado no Brasil, uma vez que fomos bem-sucedidos desde a primeira etapa", revela Maria do Carmo Neves.
O PROGRAMA
"Economia Sem Fronteiras" é o um programa semanal do Negócios no canal Now, na posição 9 das operadoras de televisão. É conduzido pelo economista e antigo presidente da AICEP Miguel Frasquilhoe pela apresentadora Marta Dhanis.
Atualmente, estamos a estudar novas estratégias para alargar o mercado no Brasil.
As parcerias são decisivas tanto em I&D como comerciais
Na terapia celular, a Tecnimede tem uma parceria com a Universidade de Coimbra, de onde pode sair a vacina de células dendríticas para o cancro.
Desde o início, que o I&D é, com a internacionalização, um dos pilares da Tecnimede, que tem investido em I&D anualmente entre os 15 milhões de euros e os 20 milhões de euros, tendo em 2024 atingido 19,5 milhões. ATecnime- de tem um centro de investigação na zona de Torres Vedras com mais de 100 cientistas.
As parcerias são "decisivas", como diz Maria do Carmo Neves, não só nos mercados como no I&D Têm parcerias de investigação e desenvolvimento, tanto com universidades para a investigação
básica, como com outras empresas internacionais. "Não podemos chegar a um mercado todo, não temos essa capacidade ainda, por tanto, juntamo-nos ou fazemos parcerias com outras empresas muito similares à Tecnimede, em que duplicamos o número de pro dutos que ficam desenvolvidos e reduzimos o custo e o risco", sublinha Maria do Carmo Neves.
Em termos de mercado, há países em que estão sozinhos, são os mercados-alvo onde entraram em termos estratégicos. "Mas noutros, estamos com intermediários ou até com "joint ventures", e, com isso, aumentamos a faturação, menos custos e mais retorno", considera Maria do Carmo Neves.
"Devido ao meu passado, temos moléculas no mercado ou produtos no mercado que tratam 80% das patologias. Temos ainda várias necessidades médicas não preenchidas, quer no cancro, quer nas doenças raras. Por isso, grandes investimentos que a indústria farmacêutica está a fazer em bio-tecnologia e outras terapias genéticas e celulares, personalizando as terapêuticas", explica Maria do Carmo Neves.
Em busca de talento
Na terapia celular, a Tecnimede tem uma parceria com a Universidade de Coimbra, desde 2011, 2012. "Estamos à espera que saia a vacina de células dendríticas para o cancro. E estamos noutra parceria também com células com laboratórios ou centros de investigação nórdicos para células NK, outro tipo de vacina", refere Maria do Carmo Neves.
A Tecnimede precisa de talento e tem de o encontrar onde houver, porque "se forem portugueses, não é fácil exportá-los, os portugueses não gostam de sair. Mas nós vamos buscar os talentos, neste momento, somos internacionais, onde houver talentos, nós vamos buscá-los", disse Maria do Carmo Neves. Em Portugal, têm um plano de
ação que passa pela Academia de Talentos, que existe há 15 anos. Todos os anos vão às universidades buscar cerca de 20 a 30 pessoas nas várias áreas, como a gestão, a farmacêutica, a engenharia "Normal mente ficam connosco à volta de 80 a 90%. Escolhem as suas especialidades, porque a farmacêutica é extremamente transversal e temos a capacidade de formar, de os desenvolver por meio de acordos com universidades, nomeadamente com a Católica ou o ISEG".
Portugal como centro de inovação e de produção farmacêutica na Europa
A internacionalização dá maior resiliência às empresas, e permite que se diversifiquem receitas e os riscos sejam reduzidos.
O grupo Tecnimede é hoje um dos maiores grupos nacionais da indústria farmacêutica, com receitas a rondar 300 milhões de euros em 2024, quase mais 70% nos últimos 5 anos, cerca de metade internacionalmente. A margem dos resultados medidos pelo EBDITA (lucros antes de juros, impostos, amortizações e depreciações), ronda os 15% sobre a faturação. O endividamento é bastante reduzido, tem um rácio de cerca de 20% da dívida relativamente aos capitais próprios, refletindo uma situação financeira bastante sólida e saudável. A empresa tem mais de 800 trabalhadores.
A internacionalização da indústria farmacêutica portuguesa tem um impacto significativo na economia, porque é um dos maiores setores e cada vez mais representativo, explicou Miguel Frasquilho. Antes da covid-19, esta indústria tinha exportações inferiores a 2 mil milhões de euros, atualmente são superiores a 3 mil milhões e não demorará muito a chegar aos 4 mil milhões.
Emprego qualificado
A internacionalização gera emprego qualificado, como cientistas, engenheiros, especialistas em logística, marketing, elevando também a qualificação do tecido empresarial português e cria oportunidades para jovens talentos que querem trabalhar num setor de elevado valor acrescentado.
Outro ponto fundamental, é o posicionamento de Portugal como centro de inovação e de produção farmacêutica na Europa. Há investimentos contínuos em investigação, como acontece na Tecnimede, o que reforça a capacidade de desenvolver novos medicamentos e parcerias internacionais. Torna-se mais atrativo também para o investimento estrangeiro no setor.
A internacionalização dá maior resiliência às empresas, e permite que se diversifiquem as receitas e os riscos sejam reduzidos, nomeadamente os riscos referentes à economia local.
"Estratégias claras, planeamento bem feito e o seu controlo, capacidade de criar músculo financeiro e nunca dar o salto maior que a perna. Demora tempo, mas vamos com sustentabilidade", disse Maria do Carmo Neves, CEO da Tecnimede, ao elencar os segredos da performance da empresa, na entrevista ao programa do Negócios, "Economia Sem Fronteiras", do canal Now.
A Tecnimede tem uma história que remonta a 1980, quando foi fundada por Jorge Ruas, e é uma empresa familiar, que desde o início tem uma visão de futuro. Quatro anos depois entrou para a empresa Maria do Carmo Neves, cujo papel foi potenciar a ambição e construir as bases para os grandes sonhos que o Jorge Ruas tinha. "Hoje, decorridos 45 anos, estamos muito mais amadurecidos, continuamos a ter sonhos, mas esses sonhos já chegam à discussão montados em bases", disse Maria do Carmo Neves. Sob a sua liderança, o grupo Tecnimede apostou na internacionalização e na inovação, consolidando uma presença global em mais de 100 mercados.
O início em Marrocos
Considera que a Tecnimede nasceu para ser global porque começou pela Investigação e Desenvolvimento (I&D), que "foi sempre o grande sonho". "Costumo dizer que não se internacionaliza quem quer, quem pode, que é quem faz I&D, cria produtos e diferenciação, e, com isso, fica com as ferramentas que permitem a internacionalização. Há um fator muito importante, que é que tem de estar consolidado no país, porque senão exportamos problemas e não exportamos produtos ou capacidade" refere Maria do Carmo Neves. Acrescenta que "tivemos que criar dimensão, algum volume, e só então estávamos prontos para internacionalizar".
"A internacionalização começou com uma expansão industrial para Marrocos em 1999, seguindo-se a presença em mercados como Brasil, Colômbia, Espanha e Itália. Internacionalizar é um processo muito complexo e difícil, e exige várias combinações entre os modelos teóricos ou académicos e as estratégias práticas. A estratégia que definirmos tem de ser bem avaliada, com muito critério relativamente aos mercados alvos, à estrutura que temos e ainda aos objetivos de médio e longo prazo", referiu Maria do Carmo Neves.
O desafio do Brasil
Recorda que tiveram muitas dificuldades, "não pelo mercado em si, era um mercado ainda muito virgem em termos de medicamento, sem comparticipação da parte do Estado. Mas tem uma cultura que não é fácil, mas que tivemos que assimilar e acomodar. Hoje, na Tecnimede em Marrocos, somos marroquinos". Em países como a Espanha e a Itália foi a sensação de uma empresa pequena, cujo nome não era conhecido e que entra em países com mercados grandes, "uma imensidão comparativamente a Portugal".
Os mercados da América Latina estão em desenvolvimento e a Tecnimede adaptou-se e entrou com produtos próprios para estes países. A presença da Tecnimede no Brasil, um mercado grande, mas complexo para empresas portuguesas, iniciou-se em 2014, com produtos desenvolvidos especificamente para este mercado. "Quando fazemos a estratégia, estudamos os países e vemos se temos capacidade para entrar nesses países ou não. Encontrámos um filão chamado parceria comercial e com resultados positivos. Atualmente, estamos a estudar novas estratégias para alargar o mercado no Brasil, uma vez que fomos bem-sucedidos desde a primeira etapa", revela Maria do Carmo Neves.
O PROGRAMA
"Economia Sem Fronteiras" é o um programa semanal do Negócios no canal Now, na posição 9 das operadoras de televisão. É conduzido pelo economista e antigo presidente da AICEP Miguel Frasquilhoe pela apresentadora Marta Dhanis.
Atualmente, estamos a estudar novas estratégias para alargar o mercado no Brasil.
As parcerias são decisivas tanto em I&D como comerciais
Na terapia celular, a Tecnimede tem uma parceria com a Universidade de Coimbra, de onde pode sair a vacina de células dendríticas para o cancro.
Desde o início, que o I&D é, com a internacionalização, um dos pilares da Tecnimede, que tem investido em I&D anualmente entre os 15 milhões de euros e os 20 milhões de euros, tendo em 2024 atingido 19,5 milhões. ATecnime- de tem um centro de investigação na zona de Torres Vedras com mais de 100 cientistas.
As parcerias são "decisivas", como diz Maria do Carmo Neves, não só nos mercados como no I&D Têm parcerias de investigação e desenvolvimento, tanto com universidades para a investigação
básica, como com outras empresas internacionais. "Não podemos chegar a um mercado todo, não temos essa capacidade ainda, por tanto, juntamo-nos ou fazemos parcerias com outras empresas muito similares à Tecnimede, em que duplicamos o número de pro dutos que ficam desenvolvidos e reduzimos o custo e o risco", sublinha Maria do Carmo Neves.
Em termos de mercado, há países em que estão sozinhos, são os mercados-alvo onde entraram em termos estratégicos. "Mas noutros, estamos com intermediários ou até com "joint ventures", e, com isso, aumentamos a faturação, menos custos e mais retorno", considera Maria do Carmo Neves.
"Devido ao meu passado, temos moléculas no mercado ou produtos no mercado que tratam 80% das patologias. Temos ainda várias necessidades médicas não preenchidas, quer no cancro, quer nas doenças raras. Por isso, grandes investimentos que a indústria farmacêutica está a fazer em bio-tecnologia e outras terapias genéticas e celulares, personalizando as terapêuticas", explica Maria do Carmo Neves.
Em busca de talento
Na terapia celular, a Tecnimede tem uma parceria com a Universidade de Coimbra, desde 2011, 2012. "Estamos à espera que saia a vacina de células dendríticas para o cancro. E estamos noutra parceria também com células com laboratórios ou centros de investigação nórdicos para células NK, outro tipo de vacina", refere Maria do Carmo Neves.
A Tecnimede precisa de talento e tem de o encontrar onde houver, porque "se forem portugueses, não é fácil exportá-los, os portugueses não gostam de sair. Mas nós vamos buscar os talentos, neste momento, somos internacionais, onde houver talentos, nós vamos buscá-los", disse Maria do Carmo Neves. Em Portugal, têm um plano de
ação que passa pela Academia de Talentos, que existe há 15 anos. Todos os anos vão às universidades buscar cerca de 20 a 30 pessoas nas várias áreas, como a gestão, a farmacêutica, a engenharia "Normal mente ficam connosco à volta de 80 a 90%. Escolhem as suas especialidades, porque a farmacêutica é extremamente transversal e temos a capacidade de formar, de os desenvolver por meio de acordos com universidades, nomeadamente com a Católica ou o ISEG".
Portugal como centro de inovação e de produção farmacêutica na Europa
A internacionalização dá maior resiliência às empresas, e permite que se diversifiquem receitas e os riscos sejam reduzidos.
O grupo Tecnimede é hoje um dos maiores grupos nacionais da indústria farmacêutica, com receitas a rondar 300 milhões de euros em 2024, quase mais 70% nos últimos 5 anos, cerca de metade internacionalmente. A margem dos resultados medidos pelo EBDITA (lucros antes de juros, impostos, amortizações e depreciações), ronda os 15% sobre a faturação. O endividamento é bastante reduzido, tem um rácio de cerca de 20% da dívida relativamente aos capitais próprios, refletindo uma situação financeira bastante sólida e saudável. A empresa tem mais de 800 trabalhadores.
A internacionalização da indústria farmacêutica portuguesa tem um impacto significativo na economia, porque é um dos maiores setores e cada vez mais representativo, explicou Miguel Frasquilho. Antes da covid-19, esta indústria tinha exportações inferiores a 2 mil milhões de euros, atualmente são superiores a 3 mil milhões e não demorará muito a chegar aos 4 mil milhões.
Emprego qualificado
A internacionalização gera emprego qualificado, como cientistas, engenheiros, especialistas em logística, marketing, elevando também a qualificação do tecido empresarial português e cria oportunidades para jovens talentos que querem trabalhar num setor de elevado valor acrescentado.
Outro ponto fundamental, é o posicionamento de Portugal como centro de inovação e de produção farmacêutica na Europa. Há investimentos contínuos em investigação, como acontece na Tecnimede, o que reforça a capacidade de desenvolver novos medicamentos e parcerias internacionais. Torna-se mais atrativo também para o investimento estrangeiro no setor.
A internacionalização dá maior resiliência às empresas, e permite que se diversifiquem as receitas e os riscos sejam reduzidos, nomeadamente os riscos referentes à economia local.