A situação económica das empresas de construção sofreu nos dois últimos anos uma conjuntura de crise histórica que tocou todos os atores do setor, promotores, construtores, produtores de materiais e matérias primas, máquinas e equipamentos, sendo a área das obras públicas a única que manteve uma menor exposição.
A evolução observada no primeiro semestre deste ano apresentou contudo alguns sinais de melhoria que, não permitindo um entusiasmo desmesurado, permitem pelo menos perspetivar algum otimismo.
Segundo a Federação Francesa de Construção (FFB), “a retoma da construção de habitações novas é palpável”, falando numa “ligeira melhoria", sabendo que estamos a começar de "muito baixo". O Ministério do Planeamento Territorial e Descentralização acaba de reportar um aumento de 0,8% no número de abertura de novas construções para habitação (em doze meses até ao final de maio), em comparação com o período de junho de 2023 a maio de 2024. Note-se, no entanto, que a queda é ainda de -27% em comparação com os doze meses anteriores à crise sanitária.
Em termos de novas licenças de construção, uma referência que antecipa a trajetória dos próximos meses, o diferencial é muito melhor mostrando uma tendência evidente de recuperação (+2,7% em doze meses em maio).
No caso do imobiliário não residencial, o número total de áreas iniciadas diminuiu -2,3% no final de abril. A superfície total autorizada — ou seja, a atividade futura — está no entanto a aumentar para a maioria dos tipos de construções, embora o mercado imobiliário de escritórios continue longe da recuperação.
Os dados de maio 2025, relativos a autorizações de construção apontam para um decréscimo de -8,0% face a abril de 2025 atingindo as 31.200 unidades. O número de habitações autorizadas continua 19% abaixo da média dos 12 meses anteriores a fevereiro de 2020.
No primeiro trimestre de 2025, foram reservadas 15.865 novas habitações por particulares, representando 55,2% de todas as novas habitações comercializadas (particulares e instituições). As reservas por particulares diminuíram em comparação com o trimestre anterior (-7,9%), pelo segundo trimestre consecutivo. Esta diminuição ocorreu em apartamentos em habitações coletivas (-8,8%), enquanto as reservas aumentaram em habitações unifamiliares (+9,4%). As reservas por particulares de novas construções diminuíram (-8,6). Por outro lado, o número de habitações postas à venda no mercado no primeiro trimestre de 2025, foi de 16.051, um aumento face ao trimestre anterior (+4,7%). Este aumento refere-se a apartamentos (+5,2%), mas não a moradias (-3,9%) colocadas à venda.
A Federação Francesa da Construção (FFB), na sua última nota de conjuntura de junho, continua com dados mistos. Assim a recuperação no setor das novas habitações continua. De facto, a abertura de novas construções para habitações aumentou 5,2% em termos homólogos nos três meses até ao final de abril, não havendo disparidade entre habitações individuais (+5,8%) e coletivas (+4,8%). As licenças aceleraram para +15,9%, impulsionadas pelas habitações coletivas (+18,9%).
As novas habitações não residenciais estão, por seu turno, gradualmente a sair do marasmo. Enquanto no período homólogo anterior, o número de novas habitações iniciadas desceu mais 10,1%, o número de superfícies autorizadas recuperou 3,3%. Por último, as atividades de reabilitação e manutenção mantêm-se com uma quebra de 1,2% em volume entre os primeiros trimestres de 2024 e 2025.
A atividade de obras públicas dá mostras contínuas de crescimento, embora a proximidade do fim de ciclo municipal (eleições municipais terão lugar em 2026), assim como o peso das restrições orçamentais, levam os profissionais do setor a antecipar os primeiros sinais negativos para final deste ano e sobretudo para 2026.
O mercado imobiliário usado tem vindo a crescer sensivelmente nos últimos 12 meses, com a procura a subir fortemente a nível nacional (+18%), com aumentos mais sustentados nas regiões (+19%) e ligeiramente inferiores em Paris (+13%), bem como na Região Parisiense (+12%). Um facto notável é de notar neste 1° semestre, pois a tendência inverteu-se: Enquanto o primeiro trimestre apresentou uma procura mais forte de apartamentos (+18% em comparação com +11% para moradias), a dinâmica alterou-se, já que as moradias registaram um crescimento mais forte (+18% em comparação com o aumento de 15% para apartamentos). O retorno a preços ligeiramente mais razoáveis e as taxas de juros em queda (cerca de 3%), têm levado os compradores a retomar progressivamente os projetos adiados em 2023 e 2024, nomeadamente para aquisição de moradias individuais.
Outro indicador que deixa um sinal positivo é a descida do índice do custo da construção. O índice de custo da construção (ICC) atingiu os 2.146 pontos no primeiro trimestre de 2025. A variação trimestral é de +1,80% (após -1,63% no trimestre anterior). No entanto, no acumulado do ano, a variação é de -3,64% (após -2,50% no trimestre anterior), numa descida que marca um ponto de rutura após um período difícil para o mercado da construção. Com esta redução do ICC espera-se que o mercado estabilize até final de 2025, o que permitirá para os atores do setor uma maior visibilidade dos custos e eventualmente reativar determinados projetos que estavam pendentes.
Enquanto alguns profissionais esperavam que 2025 pudesse ser um ano de estabilização e início de crescimento, outros apontam agora para 2026 como mais seguro. A fileira da construção, obras públicas e materiais de construção continua ainda com muita falta de visibilidade para se poder antever um crescimento sustentado, apesar de alguns sinais positivos que se vislumbram no horizonte.
Este contexto é particularmente relevante para a fileira da construção portuguesa que tem em França um dos seus principais mercados.

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Tendências & Oportunidades
Mercado da construção em França
Após dois anos de queda, primeiros sinais de melhoria no 1° semestre do ano.
AICEP França
23 jul. 2025