As energias renováveis são uma vantagem ambiental e económica, que podem ajudar a transformar a economia nacional.
"Portugal nunca teve na sua história energia abundante e competitiva como hoje. Com as energias renováveis, temos uma das mais fortes combinações europeias de recursos renováveis, estabilidade institucional, maturidade regulatória e capacidade de execução humana e tecnológica"
Esta vantagem não é apenas ambiental, é económica", afirmou António Coutinho, presidente da Associação Portuguesa da Energia, na abertura da Portugal Energy Conference, e que teve como tema "Energia: Competitividade na Reindustrialização".
João Rui Ferreira, secretário de Estado da Economia, defendeu que existe um futuro industrial para Portugal, porque o "país hoje reúne condições únicas para acompanhar e liderar um novo ciclo industrial europeu". Na sua opinião, "contamos com vantagens decisivas, energia renovável estruturalmente mais competitiva, uma posição geográfica privilegiada para a integração logística e energética e uma base e uma cultura industrial que, sendo madura, tem também um potencial de futuro".
Após anos de declínio, o investimento na energia ressurge impulsionado pela revolução tecnológica do setor, tanto pela Inteligência Artificial (IA) e pelos centros de dados como pela eletrificação e pela reindustrialização em alguns países, ao mesmo tempo que enfrenta um mundo cada vez mais envelhecido, com baixa natalidade e um rácio de dependência de idosos crescente. Para André Anacleto, partner da McKinsey Portugal, Portugal nunca teve na sua história energia abundante e competitiva como hoje.que apresentou o estudo Plano Energia para Crescer Portugal 2026-2040, o salto exponencial da produtividade pode vir da IA e da automação, o que permitirá ganhos de produtividade de mais de 20 vezes. Por isso, Portugal pode ambicionar duplicar o PIB nos próximos 15 anos, a partir de uma energia verde de baixos custos, em moléculas renováveis e noutros derivados.
Necessidade de segurança e certeza regulatória
"Em Portugal existe uma indústria de aço efetivamente circular, com as melhores tecnologias existentes e com emissões naturalmente muito inferiores à fabricação a partir de minério", destacou Álvaro Alvarez, CEO da Megasa, no painel "Oportunidades da Indústria Existente". Para a competitividade, Alvaro Alvarez defendeu que a indústria eletrointensiva tem de apostar no autoconsumo, mas seria necessário "estruturar uma regulação que permita combinar o autoconsumo com uma prestação de serviços do sistema".
Nuno Santos, administrador da Navigator, explicou que, nas empresas eletrointensivas, "a energia é o principal fator de custo, ou um dos principais fatores de custos da nossa atividade. Portanto, sem competitividade do fator energia, não vamos longe, não vamos conseguir crescer, não vamos conseguir investir mais, não vamos conseguir crescer nas nossas exportações".
Na comparação com outros países europeus, Nuno Santos revelou que "França tem preços que chegam a ser três vezes inferiores para os clientes eletro intensivos, a Alemanha pode chegar a quase metade, Espanha tem também uma vantagem de cerca de 20% a 30%".
Jorge Marques dos Santos, presidente do Centro Tecnológico da Cerâmica e do Vidro, destacou que "a indústria cerâmica utiliza essencialmente gás natural e, de repente, exigem-se metas muito exigentes para uma transformação quase num curto intervalo de tempo, mas, antes de se mudar, tem de se ver se tecnologicamente é possível". Sobre o autoconsumo, referiu que "a maioria das indústrias está a instalar painéis fotovoltaicos, mas, face às necessidades energéticas, não é suficiente".
Indústria europeia ameaçada
"Não há uma solução, há uma soma de soluções que permitem chegar à neutralidade carbónica", concluiu Cecília Meireles, secretária-geral da ATIC (Associação Portuguesa de Cimento). Alertou para a necessidade de "segurança e certeza regulatória", sublinhando que "não podemos planear investimentos desta monta num clima de incerteza regulatória". Na indústria do cimento, "a transformação do calcário em clínquer liberta CO, o que significa que temos de fazer a captura de carbono".
Mário Jorge Machado, presidente da Associação Têxtil e Vestuário de Portugal (ATP), salientou que "a indústria europeia tem um desafio, que é fazer a eletrificação de uma economia sem emissão de CO2, mantendo-se competitiva". Alertou que "os decisores políticos em Bruxelas têm de perceber que estão a destruir a indústria na Europa Não podemos continuar num caminho no qual o custo não é relevante e, se a Europa produz mais caro, vamos produzir fora da Europa".
António Coutinho, presidente da Associação Portuguesa da Energia, na abertura da Portugal Energy Conference.
Portugal nunca teve na sua história energia abundante e competitiva como hoje.
António Coutinho
Presidente da Associação Portuguesa da Energia
"A transição energética hoje penaliza a indústria e evita a reindustrialização"
Nas instituições europeias persiste a ideia de que a descarbonização da Europa resolve o aquecimento global, apesar de o continente representar apenas 7% das emissões globais e ter perdido competitividade face a outros blocos económicos.
"O tema não é como as empresas portuguesas vão apoiar a transição energética, têm de pôr em causa a transição energética Esta penaliza a indústria e evita a reindustrialização", afirmou Carlos Moreira da Silva, presidente da Associação Business Roundtable, no painel "Políticas de Suporte para a Reindustrialização", na Portugal Energy Conference 2025, organizada pela Associação Portuguesa da Energia. Lembrou que "já houve vários setores perdidos de vez para a Europa e outros estão a caminho".
Na Comissão Europeia e em Bruxelas tem-se a noção de que "se a Europa descarbonizar o mundo, tem o problema do aquecimento global resolvido", disse António Nogueira Leite, professor catedrático da Nova SBE. Porém, a Europa representa 7% das emissões globais de gases com efeito de estufa e consome 9% da energia primária mundial. António Nogueira Leite sublinhou ainda que a indústria na União Europeia paga uma energia cerca de 2,5 vezes mais cara do que nos Estados Unidos e 2,4 vezes mais do que na China, afetando a competitividade europeia.
Armindo Monteiro, presidente da CIP, defendeu a neutralidade tecnológica na energia "Somos consumidores fortes de energia e, se não tivermos custos adequados para sermos competitivos na energia, não o seremos no produto final. É tão simples quanto isso". Lembrou que Portugal optou por não explorar a energia nuclear e, ao fazer essas opções, "temos de lidar de forma muito consciente, porque isso impacta fortemente na nossa indústria". Reforçou que a Ibéria é uma ilha energética, com um muro nos Pirenéus que a separa da Europa.
Philomène Dias, administradora da AICEP, destacou que "Portugal beneficia hoje de um capital de confiança por parte dos mercados e investidores, positivo quando há dez anos era visto como um país de salários baixos". Portugal pontua bem na energia "Se até há dez anos as empresas não nos questionavam qual era o mix energético, hoje é a primeira pergunta". Estas empresas investem em Portugal para servir o mercado europeu, selecionando países que oferecem maior estabilidade.
Sem licenças não há energia
No painel "A Energia como Força de Competitividade", Rodrigo Costa, CEO da REN, fez uma reflexão sobre esta onda de investimentos. "Todos já ouviram falar em 30 gigawatts de potencial consumo, 40 GW, 50 GW, data centers, fábricas de baterias, hidrogénio, refinarias e, portanto, onde é que está essa eletricidade toda que vai fazer falta?". Esta é a grande preocupação porque "se não houver licenciamento, não há capacidade das empresas financiarem e apresentarem os seus projetos".
Miguel Stilwell d'Andrade, CEO da EDP, mostrou-se mais positivo porque a procura de energia cresce pela primeira vez após muitos anos de estagnação, com "preços grossistas bastante mais competitivos do que o resto da Europa, o que está a induzir alguma procura adicional, mas não me refiro à fatura que chega ao cliente, porque esta contém uma série de outras alcavalas, impostos e taxas".
Maria João Carioca, co-CEO da Galp, fez referência à combinação do licenciamento, da fiscalidade e da regulação para não existir um levei playing field mas entende que é a fiscalidade que "tem um efeito mais predominante para o que é crítico em diferentes momentos do mesmo projeto". Salientou que "a regulação é um dos três fatores mais transversais, mais impactantes em diferentes fases, e que são muitas". "As energias renováveis são um forte atrativo de investimento, um fator de competitividade. Temos de garantir que estão disponíveis e a preços competitivos", afirmou Maria da Graça Carvalho, ministra do Ambiente e da Energia, no encerramento da Portugal Energy Conference 2025.
As energias renováveis são um forte atrativo de investimento, um fator de competitividade.
Maria da Graça Carvalho
Ministra do Ambiente e da Energia
O debate A Energia como Força de Competitividade", contou com a participação de Rodrigo Costa, CEO da REN, Maria João Carioca, co-CEO da Galp, e Miguel Stilwell d'Andrade, CEO da EDP.
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Sustentabilidade
Energia para duplicar o PIB em 15 anos
As energias renováveis são uma vantagem ambiental e económica.
Jornal de Negócios
16/12/2025
Imprensa Nacional