Na canoagem, no atletismo, no ciclismo, na natação e na vela, há empresas portuguesas à espera de subir ao pódio olímpico. E até fora da competição, em áreas como a mobilidade, o Made in Portugal marca pontos em Paris. “Nos negócios há muito a ganhar” numas olimpíadas, vão repetindo os empresários ao Expresso. “Os Jogos Olímpicos são a maior janela de oportunidade que temos para apresentar e divulgar os nossos produtos e trazem sempre saltos na inovação”, sublinha Manuel Ramos, fundador da M.A.R Kayaks, já veterano neste evento de alta competição, com um acumulado de 117 medalhas, 37 das quais de ouro, desde Atlanta 1996.
Na estreia, nos Estados Unidos, a empresa de Vila do Conde conquistou uma medalha. Em Tóquio 2020 (o evento decorreu em 2021 devido à covid-19), os atletas que competiram com os seus caiaques subiram ao pódio 25 vezes, oito das quais para o ouro. Este ano, em Paris, trabalha com atletas dos 38 países presentes nas provas de canoagem de velocidade e 80% dos 140 caiaques em competição saíram da fábrica de Vila do Conde.
Na semana de arranque dos jogos, “o material já seguiu para Paris com uma equipa de oito pessoas”, mas na fábrica continuam a ser feitos “acertos de última hora”. E as equipas do Brasil e de Singapura só deixaram esta segunda-feira o centro de estágio da Aguieira, onde Manuel Ramos faz um “acompanhamento personalizado e contínuo” para garantir a adaptação de cada barco às características dos atletas e da velocidade que vão percorrer na pista artificial, nos arredores de Paris, por onde andou logo no início de todo este processo “para conhecer bem o local, os ventos, a ondulação, as temperaturas”.
“O objetivo é garantir que cada um sente o barco como uma extensão do próprio corpo”, resume o antigo campeão de canoagem, mais conhecido como Nelo, com um novo modelo desenvolvido para Paris. “Já é uma tradição ter coisas novas a cada ciclo olímpico. Este ano, temos avanços tecnológicos, na construção e no desenho, sempre a pensar na melhoria da performance dos atletas, na rapidez e no conforto”, explica.
Com 200 trabalhadores em Vila do Conde, onde tem uma capacidade de produção anual de quatro mil caiaques e canoas, mais de 90% dos quais exportados para uma centena de países, não prevê um impulso olímpico imediato no volume de negócios. “Em 2024, ficamos nos €10 milhões, em linha com 2023, mas 2025 será certamente um ano de crescimento alavancado no trabalho que estamos a fazer agora”, afirma.
O lado marítimo da COTESI
Em terra, nas cerimónias de abertura e encerramento dos jogos, tal como noutros eventos formais e informais, a comitiva portuguesa veste fardas criadas na Decénio, do grupo têxtil vimaranense Cães de Pedra, parceira do Comité Olímpico de Portugal. Dentro de água, será a Nautikay, empresa de Vila Verde especializada em vestuário de alta competição, a vestir os atletas da Federação Portuguesa de Canoagem, mas os cabos náuticos da Cotesi também vão marcar presença nas provas de vela.
10
milhões de euros é o volume
de negócios da M.A.R. Kayaks, com 117 medalhas acumuladas em sete olimpíadas. A empresa de Vila do Conde, fundada por um antigo campeão português, emprega 200 pessoas
A empresa da família Violas, líder mundial nos cabos de sisal para agricultura, está em Paris através de marcas de clientes, com as equipas da Suécia, Inglaterra e Países Baixos, entre outras, mas também com a marca própria Alpha Ropes usada por portugueses, norte-americanos, asiáticos, espanhóis e croatas. “Esperamos boas classificações, incluindo com os atletas lusos”, adianta António Pires de Lima, responsável pelo desenvolvimento do produto, em articulação com os velejadores.
“As provas de alta competição, em especial os Jogos Olímpicos, são um cartão de visita importante para qualquer empresa e um motor de desenvolvimento e inovação. São a oportunidade de testar um produto ao limite, em resistência, durabilidade, qualidade, antes de o levarmos para o mercado”, comenta.
Em Tóquio, a britânica Charlotte Worthington conquistou o ouro na competição BMX vestida pela P&R. Foi a primeira atleta feminina a fazer uma rotação de 360 graus para trás (360 backflip) em bicicleta
P&R
Inovar é, também, “a palavra-chave” para Nuno Pinto, administrador da P&R apresentar o trabalho da sua empresa para os Jogos Olímpicos onde está habituada a vestir cerca de uma centena de atletas medalhados em diferentes modalidades, do ciclismo ao atletismo ou natação. Em Paris, as expectativas desta têxtil do Vale do Cavado estão muito centradas nas equipas do Reino Unido e de França, mas também da Etiópia e até de Portugal. “Entre os nossos clientes está a Arena. Fabricamos para ele fatos de banho de competição, como o que o campeão mundial Diogo Ribeiro usa na natação”, diz.
P&R espera crescer 20%
Em lugar de destaque, a empresa guarda “prémios” de triunfos passados, como a camisola que levou o velocista jamaicano Usain Bolt à vitória nos 100 metros em Pequim (2008), ou o fato usado por Nelson Évora no triplo salto de 16,67 metros para o ouro no mesmo ano.
“Chegar ao pódio é o coroar de um trabalho contínuo assente em parcerias com os clientes, outras empresas e entidades científicas. Para Paris, por exemplo, trabalhamos dois anos com a Adidas no desenvolvimento de uma nova tecnologia para o atletismo que resulta num material colado na própria malha para melhorar a performance do atleta. É uma aplicação personalizada, em função do atleta, da modalidade, da distância. Envolve estudos musculares para definir as zonas de compressão”, explica certo de que o estatuto de “mais antigo parceiro têxtil da marca alemã não será um acaso”.
Com 240 trabalhadores e vendas de €16,5 milhões em 2023, 95% das quais na exportação, a P&R também acompanha a Le Coq Sportif em Paris e já está a preparar a passagem dos novos desenvolvimentos ao mercado. “As medalhas ajudam a dar credibilidade ao produto”, diz o administrador, a antecipar um crescimento de 20% em 2024.
Da fábrica da Salvador Caetano, em Ovar, saíram 260 veículos APM para Paris
No palco olímpico, mas fora da luta por medalhas, está a Salvador Caetano com uma pequena frota de 260 APM (Accessible People Mover), veículos elétricos inclusivos que permitem transportar pessoas com necessidades especiais de acessibilidade ou mercadorias e têm uma versão especial para assistência de emergência.
Fabricados em Ovar para os Jogos Olímpicos e Paralímpicos, têm uma autonomia de 100 quilómetros e “são uma prova da nossa capacidade de produção e flexibilidade para responder de forma rápida e eficaz a uma encomenda específica”, comenta Vítor Marques, relações públicas da empresa, sem divulgar valores do negócio.
No âmbito da parceria mundial da Toyota com o Comité Olímpico Internacional, a CaetanoBus também fez em Gaia 12 autocarros zero emissões com pilha de combustível a hidrogénio para as olimpíadas.
