França é o segundo principal destino das exportações portuguesas, com 13,1% do bolo total, ou 8.320 milhões de euros, em 2021, e apenas ultrapassada por Espanha; em termos de importações o peso é menor, assumindo apenas 6,7% do total com 5.514 milhões, mas ainda suficiente para ficar apenas atrás de Espanha e Alemanha, dados que realçam bem a interligação entre ambas as economias.
Mas esta dinâmica não se tem limitado ao comércio internacional, especialmente nos últimos anos, com os franceses a tornarem-se nos principais investidores estrangeiros em Portugal em 2021, garantindo o segundo maior fluxo de IDE e a quarta posição em termos de stock acumulado, aponta Luís Castro Henriques, presidente da Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal, o AICEP.
Outro fator de destaque: em 2020, os dados do INE mostram que as filiais francesas a operar em Portugal representaram a maior fatia do valor acrescentado bruto (VAB) entre estas sociedades, com 15,0%, apesar de apenas 14,7% do capital investido nas mesmas ser francês, atrás de Espanha (com 20,2%). Ainda assim, o VAB caiu, naquele ano, 2,7 pontos percentuais (p.p.).
Diversificação é palavra de ordem
Os investimentos têm sido transversais a vários sectores, com o automóvel à cabeça, dada a presença de importantes nomes como a Renault ou PSA, às quais se juntam a Altice, Engie e Vinci. Nos últimos anos, a diversificação tem sido maior, com França a liderar agora vários segmentos em termos da origem do capital investido em filiais estrangeiras em Portugal.
Segundo o retrato do INE, em 2020 os sectores da construção e atividades imobiliárias, do comércio e dos transportes e armazenagem foram dominados, entre as empresas estrangeiras presentes em Portugal, pelas francesas; estas foram também, entre o mesmo grupo, as principais empregadoras no comércio, nos transportes e no segmento da informação e comunicação, sublinhando bem a importância do capital francês na economia nacional.
“Os investimentos franceses estão presentes em todos os sectores estratégicos de Portugal: nos seus sectores fortes tradicionais como o automóvel ou serviços, mas também nos seus sectores do futuro e de vanguarda, como a tecnologia, as indústrias de precisão, as energias renováveis”, refere a embaixadora francesa em Portugal, Hélène Farnaud-Defromont, que destaca a evolução da balança comercial entre os dois países, que se tornou no “primeiro excedente de serviços de Portugal, enquanto já era seu primeiro excedente comercial de bens”.
A embaixadora sublinha o ambiente favorável ao negócio que as empresas francesas encontram em Portugal, sobretudo a “mão-de-obra muito bem formada e multilingue, infraestruturas de muito boa qualidade”, em linha com o destacado pela AICEP como vantagens comparativas na decisão de investir em Portugal. Estes fatores ajudarão a explicar a escolha de mais de três dezenas de firmas francesas que nos últimos anos se fixaram no nosso país, contribuindo com a criação de mais de 30 mil postos de trabalho.
Ainda há espaço para crescer
Ainda assim, há margem para melhorar, algo reconhecido pelo próprio presidente da AICEP, ao referir que, “apesar de França constituir um mercado maduro e tradicional para a oferta portuguesa, existem ainda muitas oportunidades de negócios por explorar e um grande potencial de crescimento das exportações, quer de bens, quer de serviços”.
Olhando do lado de Paris, Portugal continua a representar apenas 1,16% das importações, com de acordo com os dados de 2021, o que até é uma queda em relação aos 1,43% do ano anterior. Por outro lado, o interesse francês no nosso país parece estar a aumentar, tanto ao nível do turismo, como de compra de casa.
Os números do turismo em agosto mostram que França voltou a ser o quarto mercado emissor nacional, com uma variação homóloga acumulada desde o início do ano de 162,8%, o que, dado o efeito base pandémico, até não surpreende comparado com outras geografias.
Assinalável é o estudo revelado em setembro feito pela OpinionWay para o Salão do Imobiliário e do Turismo de Portugal em Paris, que revelam que 20% dos franceses se dizem dispostos a mudar para o nosso país.
Por outro lado, o número de empresas portuguesas a exportar para França também tem vindo a crescer, chegando a 5.500 em 2021, o que reflete, segundo Luís Castro Henriques, o “interesse crescente no mercado francês”.
O papel da comunidade portuguesa em França, uma das maiores de imigrantes naquele país e com um nível de integração que permite estabelecer pontes com terras lusas, é também fundamental na afirmação das empresas portuguesas. Ao facilitar contactos e promovendo a imagem de Portugal junto dos gauleses, os emigrantes portugueses ajudam a fomentar as relações bilaterais entre duas das economias mais antigas do mundo, um papel realçado pelo secretário de Estado da Internacionalização, Bernardo Ivo Cruz, projetando uma aposta forte na afirmação do tecido empresarial português no estrangeiro com base no digital.