As empresas alemãs estão de olho em Portugal e interessadas em investir e instalar-se no país. Os números comprovam-no. Além das cerca de 600 empresas germânicas contabilizadas pela AICEP que já cá estão, a Câmara de Comércio Alemã garante que há também uma grande vontade de relocalização das empresas que foram para a China e para a Rússia. Muitas delas querem sair destes dois mercados e Portugal é um dos grandes destinos que estão a analisar.
O Governo não esconde a vontade de atrair pelo menos algumas destas grandes companhias alemãs em fuga "para dar um novo desenvolvimento ao setor industrial", disse o ministro da Economia, Costa Silva, quando esteve na Hannover Messe, a maior feira industrial do mundo. Lá, durante uma semana, as 109 empresas portuguesas presentes somaram cerca de 4.000 novos contactos que poderão potenciar novos investimentos superiores a 100 milhões de euros no espaço de 18 meses, espera a AICEP.
Uma das mais solicitadas pelas congéneres alemãs para abrir caminho para o mercado português é a Bosch, com presença no país desde 1911. "Fomos contactados na feira por várias empresas alemãs, mas também de outros países. Mas não é só lá. Somos contactados por essas empresas com alguma frequência, que nos pedem informações sobre as entidades que devem contactar para se informarem do que Portugal pode oferecer a quem aqui quiser investir", disse ao Negócios o responsável da Bosch em Portugal, Carlos Ribas.
Sendo uma empresa com "muita experiência e com tantos casos de sucesso", o CEO garante que "é normal que nos procurem para trocarmos ideias e ouvirem os nossos conselhos, sobretudo empresas de menor dimensão ou que estejam a iniciar o seu processo de internacionalização".
A mensagem que Carlos Ribas tem para passar às empresas alemãs com vontade de "apanhar boleia" para Portugal é que se trata de um país com "características excelentes para as empresas investirem, seja pelo talento, pela qualidade das instituições de ensino universitário, pela proximidade com as empresas e centros de investigação, ou até pela capacidade de superação e de resiliência".
O responsável da Bosch alerta, no entanto, para a morosidade em desbloquear alguns processos, o que pode ser desmotivador para as empresas que escolhem Portugal. "É sobretudo importante que tenham uma estratégia que lhes permita crescer de forma sustentada, e que se munam de ferramentas que lhes permitam antecipar e responder às necessidades dos mercados, procurando sempre a inovação. Acredito que a inovação é o motor do sucesso das empresas e, consequentemente, da economia de um país."
Em 2022, o investimento da Bosch em Portugal deverá rondar os 100 milhões de euros, para consolidar os negócios no país através de projetos de inovação em parceria com as universidades do Minho, do Porto e de Aveiro, e da expansão das nossas unidades de Ovar, Aveiro e Braga.
Em Ovar, as novas instalações vão albergar as equipas de I&D e permitir a contratação de cerca de 50 novos colaboradores até ao fim de 2022. Em Aveiro, está a ser preparado um novo edifício para logística e áreas comuns para os colaboradores. A Bosch está ainda a iniciar a ampliação das instalações em Braga com a construção de dois novos edifícios para aumentar a capacidade de I&D e a capacidade produtiva e tecnológica.
Do mini esquentador ao corta-relva, Bosch tem ADN português
Carlos Ribas, responsável pela Bosch em Portugal, diz que "o que não falta pelo mundo são produtos, tecnologias, e inovações" da empresa alemã 100% "made in Portugal", muito graças ao talento nacional.
Chama-se Tronic 4001-8501i mas não é um robô do próximo filme da saga Star Wars. Este "mini esquentador" que parece saído de uma qualquer secção de tecnologia 5G, faz parte da nova geração de termoacumuladores elétricos instantâneos da Bosch, os primeiros 100% desenvolvidos em Portugal. Em Aveiro.
"Representa um passo estratégico para responder à tendência de eletrificação do mercado europeu, sobretudo às elevadas expectativas daquele que será o seu principal cliente - a Alemanha", disse ao Negócios o CEO da Bosch Portugal, Carlos Ribas. Pela sua inovação tecnológica e classe de eficiência energética A, o equipamento "made in Portugal", da ideia à construção, recebeu o selo de aprovação da casa-mãe da Bosch, na Alemanha, e será agora vendido em todo mundo. Na Hannover Messe, a maior feira industrial do mundo, esteve em grande destaque no pavilhão de Portugal, país convidado da edição deste ano.
Além de cumprir a diretiva de design ecológico da empresa, esta série levou à criação de cinco patentes. Na prática, tem elementos de aquecimento de baixa inércia térmica que permitem alcançar uma eficiência na transferência de calor superior a 99%.
Carlos Ribas destaca ainda" a melhoria dos algoritmos de controlo para a deteção de bolhas de ar no circuito hidráulico ou de calcário nas resistências de aquecimento e a implementação de um sistema de segurança eletrónico". Esta nova geração de aparelhos já está em linha de produção e disponível no mercado desde março.
Quanto a outros produtos Bosch com ADN português, o responsável pela empresa no país diz que "felizmente o que não falta pelo mundo são produtos, tecnologias e inovações da Bosch 'made in Portugal'".
Isto porque "a Bosch está presente em Portugal há mais de um século, e ao longo desses anos a investigação e o desenvolvimento têm sido sempre, e de forma crescente, uma das áreas de maior aposta no país".
Depois, destaca Carlos Ribas, há o corta-relvas robotizado Indego, parcialmente desenvolvido na Bosch em Ovar, que integra o sistema de "navegação inteligente" LogiCut Pode parecer estranho um sistema de navegação para cortar a relva, mas o objetivo é "calcular a rota de corte mais eficiente", poupando tempo e energia Além disso, a componente de inteligência artificial permite ativar o sistema de SmartMowing utilizando a previsão meteorológica para "agendar o corte da relva para o momento certo, nas condições meteorológicas adequadas".
Resultado de uma parceria da Bosch em Ovar com a Universidade do Porto, a empresa apresentou na Hannover Messe o projeto de inovação "Safe Cities", cujo objetivo é "responder e antecipar os desafios que enfrentam as sociedades urbanas modernas". Estas estão a tornar-se cada vez mais dependentes da evolução tecnológica nos campos da "sensorização, transmissão de dados, armazenamento e processamento inteligente remoto, para garantir necessidades de segurança, privacidade, conforto e eficiência".
"Temos muitos outros que poderíamos apresentar", afirma Carlos Ribas. "A partir de Portugal, com talento português, a Bosch tem vindo a colocar muitas tecnologias e inovações em vários mercados."
A Bosch tem uma nova geração de esquentadores "made in Portugal".
Os números da AICEP apontam para a presença de 600 empresas alemãs que já marcam presença em Portugal.
É normal que nos procurem, sobretudo empresas de menor dimensão ou que estejam a iniciar o seu processo de internacionalização
É importante que tenham uma estratégia que lhes permita crescer de forma sustentada, com ferramentas para antecipar e responder às necessidades do mercado