Se é verdade que esse Alentejo também existe e se apresenta como um desafio constante às mulheres e homens que o habitam e que o trabalham – longe de indolentes, tenazes e persistentes! – desafios maiores se apresentam ainda num contexto de crise climática que tende a agravar e alargar estes tons e as dificuldades, também não é menos verdade que existe um outro Alentejo, azul, e por consequência, cada vez mais verde, em franco crescimento e que importa conhecer.
Com uma frente de mais de 170 quilómetros de costa atlântica, o Alentejo representa um mar de oportunidades para a Economia Azul, a economia do mar sustentável, com uma das costas melhor preservadas da Europa, o maior porto de águas profundas do país (Sines), parques e reservas naturais e todo um conjunto de oportunidades ligadas aos produtos endógenos, do mar ou da zona costeira.
Se Sines já era uma referência nacional no que diz respeito à logística e outros setores estratégicos, como os cabos de dados submarinos e centros de dados associados, fruto de um trabalho contínuo e concertado de vários agentes, Câmara Municipal de Sines, Administração do Porto de Sines, AICEP Global Parques, que a ADRAL tem tido o prazer de acompanhar e apoiar sempre que possível, a recente revolução geoestratégica desencadeada pela invasão russa da Ucrânia, colocou a região na primeira linha também para as questões energéticas. Esta mudança profunda na ordem política internacional acelerou também um movimento de arrefecimento da globalização como até aqui a conhecemos, que já vinha da pandemia, que obriga a um novo posicionamento da Europa face ao Oriente e à necessidade de diminuir a dependência, apostar também em cadeias curtas e sem riscos de interrupção. Sines, o Alentejo e Portugal reúnem condições ímpares para acolher investimento externo neste novo cenário.
Mas as potencialidades da Economia Azul do Alentejo não se esgotam na linha de costa atlântica e na sua zona de influência. A região tem ainda um autêntico “oceano interior” representado pelo empreendimento de fins múltiplos de Alqueva e outras massas de água interiores. A agricultura e a agroindústria, o turismo e o lazer são já exemplos disso. Dão um forte contributo para a consolidação da tendência exportadora da região e vão continuar a crescer nos próximos anos.
Realizou-se em Lisboa, entre 27 de junho e 1 de julho, a Conferência dos Oceanos das Nações Unidas. Um importante momento de união, reflexão, tomada de consciência e definição de caminhos e linhas de atuação, plasmados na “Declaração de Lisboa”, para salvar os oceanos e, assim, salvar também a própria subsistência humana no planeta.
As potencialidades da Economia Azul do Alentejo foram apresentadas na conferência, no side event One Susteinable Ocean, numa ação promovida em conjunto pela CCDR Alentejo e pela Agência de Desenvolvimento Regional do Alentejo (ADRAL).A Comunidade Portuária de Sines, a Entidade Regional de Turismo do Alentejo (ERTA), a Agência Regional de Promoção Turística do Alentejo (ARPTA), a Universidade de Évora/MARE e os municípios de Sines, Odemira e Santiago do Cacém foram os parceiros convidados a apresentar os seus projetos nesta área.
A ADRAL tem vindo a desenvolver o projeto “Alentejo Azul” que visa dar suporte e promover a criação de empresas de base tecnológica ou criativa na área da economia do mar/águas interiores. Está também envolvida no projeto “MISTRAL – Mediterranean Innovation Strategy for Transnational Activity of Clusters and Networks of the Blue Growth, uma parceria entre 14 ministérios, regiões e outras organizações de 8 países do mediterrâneo para a promoção da economia azul. A ADRAL lidera também a promoção externa das Estações Náuticas do Alentejo num conjunto alargado de países da Europa que inclui a nossa vizinha Espanha.
Por isso, se não sabe o que é a salicórnia, ainda não provou conservas de peixe do rio ou desconhece a Praia Fluvial das Azenhas D´El Rei, assim como as restantes praias fluviais do Alentejo com Bandeira Azul, está na hora de fazer uma atualização. Há um Alentejo mais Azul e mais Verde à sua espera.