Jorge Moreira da Silva, subsecretário-geral da Organização das Nações Unidas e diretor executivo do Escritório das Nações Unidas para Serviços de Projetos (UNOPS) apelou ao país para cooperar com países em desenvolvimento no setor da energia. Para o diretor executivo da Agência Internacional para a Energia, Fatih Birol, Portugal conseguiu o improvável nos últimos 25 anos e merece nota máxima
"Enquanto país que conseguiu transformar de forma tão significativa o seu setor da energia, Portugal tem a oportunidade e a responsabilidade de assumir parcerias com países em vias de desenvolvimento". Quem o diz é Jorge Moreira da Silva, subsecretário-geral da Organização das Nações Unidas e diretor executivo diretor executivo do Escritório das Nações Unidas para Serviços de Projetos (UNOPS).
Presente na conferência que esta segunda-feira assinalou o 25o aniversário da ADENE - Agência para a Energia, fundada em 2000 pelo então primeiro-ministro António Guterres, agora secretário-geral da ONU, Moreira da Silva disse que ao longo das últimas décadas "Portugal já passou por quatro fases de políticas energéticas", faltando agora uma quinta fase. Primeiro o país tratou de democratizar o acesso à energia, explicou o responsável, depois do seu "esverdeamento", seguindo -se a "clusterização e industrialização" e a garantia de uma sustentabilidade financeira, ou seja, assegurar que a aposta na descarbonização e transição energética era feita com custos aceitáveis".
O que falta agora a Portugal, diz o número dois da ONU, é uma "aposta decisiva nas parcerias internacionais". "O mundo precisa que Portugal esteja mais disponível para cooperar e para exportar a sua energia. Os países em desenvolvimento têm de conseguir ir além das políticas e do financiamento. Sem isto não se consegue descarbonizar e promover o acesso à energia, mas é necessário também capacidade de implementação". E é aí que Portugal pode desempenhar um papel importante, defende.
Lembrando várias vezes que há ainda 700 milhões de pessoas no mundo sem acesso a eletricidade - seja ela de origem fóssil ou renovável - Jorge Moreira da Silva diz que "a energia é hoje essencial para travar as alterações climáticas e erradicar a pobreza". E identifica "cinco falhas de mercado", sendo a primeira de todas, precisamente, a desigualdade no acesso à energia elétrica, com um terço da população mundial ainda obrigada a queimar lenha e resíduos para cozinhar, por exemplo.
"África tem 60% do potencial de energia solar do mundo, mas apenas 3% do investimento e 1% da capacidade instalada", frisou, criticando igualmente as múltiplas "proclamações de neutralidade carbónica para 2050". Moreira da Silva diz que a meta está correta, mas a velocidade para lá chegar não.
"Com as atuais metas nacionais, vamos chegar ao final deste século com um aumento na temperatura global de 2,6 a 2,9 graus, e não 1,5 graus, como prevê o Acordo de Paris", diz o subsecretário-geral da ONU, considerando que "falhar as metas de Paris não é um fracasso político, mas sim moral". Para evitá-lo, é preciso investir 2,4 biliões de dólares em ação climática e mais 1,7 biliões em energia limpa. E também pôr fim aos subsídios para os combustíveis fósseis. "Os países do norte do mundo podem ser todos os verdes, mas isso não servirá de nada se não ajudarem o sul a descarbonizar e a fazer a transição".
Na sua visão, a terceira falha de mercado identificada passa pelo "subinvestimento em redes elétricas e armazenamento de energia". Mais grave ainda, disse, é o facto de a falta de acesso à anergia acelerar ainda mais as desigualdades nos países em conflito. E desafiou as empresas do setor: "Estão dispostas a ir para palcos de guerra e a levar energia a países que estão fora da ordem de mérito mundial?".
DIRETOR DA AIE DÁ A PORTUGAL UM A+, NOTA MÁXIMA NA ENERGIA
Na mesma conferência, o diretor executivo da Agência Internacional para a Energia, Fatih Birol, também identificou a segurança energética como um dos principais desafios do momento. "As atuais tensões políticas vão tornar a energia ainda mais importante do que é agora. Tão importante ou mais do que a segurança nacional ou a segurança económica dos países. E não se trata apenas de petróleo, gás e eletricidade, mas também de segurança no acesso a minerais críticos e cadeias de abastecimento, já que muitos destes minerais não servem só para fazer painéis solares, mas também são usados na indústria militar", defendeu na sua intervenção, lembrando que Portugal pode desempenhar um papel importante na mineração de lítio na Europa, mas não deve esquecer também o investimento na refinação do mesmo.
Tal como Moreira da Silva, Fatih Birol sublinhou a importância da cooperação internacional - já que "nenhum país é uma ilha energética" - e da estabilidade política para atrair os investidores em energias renováveis - "que são como borboletas, assustam-se e fogem muito facilmente" -, o que Portugal conseguiu fazer.
"O país fez um excelente trabalho. Não digo isto a todos, mas dou a Portugal um A+, nota máxima, pela sua evolução energética nos últimos 25 anos, em que conseguiu passar de 90 para 15% de energias fósseis, erradicar o carvão, aumentar as renováveis de 30 para mais de 70% e reduzir as emissões em 50%", disse, rematando: "Portugal conseguiu o improvável".
Também olhando para os últimos 25 anos, a ministra do Ambiente e da Energia, Maria da Graça Carvalho, destacou o "pacto de regime" que sempre existiu no país ao longo de sucessivos governos d diferentes partidos (PS e PSD) sobre as políticas energéticas do país, mesmo com "pequenas discordâncias aqui e ali".
"Conseguimos manter uma linha de coerência e compromisso com descarbonização e energias renováveis. Prova disso é que o PNEC 2030 foi aprovado no Parlamento sem votos contra", referiu a responsável, antecipando que Portugal possa chegar já em 2026 a 80% de renováveis na produção de energia (antes mesmo de 2030), depois de ter registado 71% em 2024.
A governante lembrou que o Governo vai simplificar os licenciamentos de projetos nas zonas de aceleração de renováveis - como Sines, por exemplo, ao mesmo tempo que aposta no hidrogénio verde como "fator de competitividade para atrair indústria para Portugal e transformar o país num produtor e exportador de combustível sustentável para aviação".
"Enquanto país que conseguiu transformar de forma tão significativa o seu setor da energia, Portugal tem a oportunidade e a responsabilidade de assumir parcerias com países em vias de desenvolvimento". Quem o diz é Jorge Moreira da Silva, subsecretário-geral da Organização das Nações Unidas e diretor executivo diretor executivo do Escritório das Nações Unidas para Serviços de Projetos (UNOPS).
Presente na conferência que esta segunda-feira assinalou o 25o aniversário da ADENE - Agência para a Energia, fundada em 2000 pelo então primeiro-ministro António Guterres, agora secretário-geral da ONU, Moreira da Silva disse que ao longo das últimas décadas "Portugal já passou por quatro fases de políticas energéticas", faltando agora uma quinta fase. Primeiro o país tratou de democratizar o acesso à energia, explicou o responsável, depois do seu "esverdeamento", seguindo -se a "clusterização e industrialização" e a garantia de uma sustentabilidade financeira, ou seja, assegurar que a aposta na descarbonização e transição energética era feita com custos aceitáveis".
O que falta agora a Portugal, diz o número dois da ONU, é uma "aposta decisiva nas parcerias internacionais". "O mundo precisa que Portugal esteja mais disponível para cooperar e para exportar a sua energia. Os países em desenvolvimento têm de conseguir ir além das políticas e do financiamento. Sem isto não se consegue descarbonizar e promover o acesso à energia, mas é necessário também capacidade de implementação". E é aí que Portugal pode desempenhar um papel importante, defende.
Lembrando várias vezes que há ainda 700 milhões de pessoas no mundo sem acesso a eletricidade - seja ela de origem fóssil ou renovável - Jorge Moreira da Silva diz que "a energia é hoje essencial para travar as alterações climáticas e erradicar a pobreza". E identifica "cinco falhas de mercado", sendo a primeira de todas, precisamente, a desigualdade no acesso à energia elétrica, com um terço da população mundial ainda obrigada a queimar lenha e resíduos para cozinhar, por exemplo.
"África tem 60% do potencial de energia solar do mundo, mas apenas 3% do investimento e 1% da capacidade instalada", frisou, criticando igualmente as múltiplas "proclamações de neutralidade carbónica para 2050". Moreira da Silva diz que a meta está correta, mas a velocidade para lá chegar não.
"Com as atuais metas nacionais, vamos chegar ao final deste século com um aumento na temperatura global de 2,6 a 2,9 graus, e não 1,5 graus, como prevê o Acordo de Paris", diz o subsecretário-geral da ONU, considerando que "falhar as metas de Paris não é um fracasso político, mas sim moral". Para evitá-lo, é preciso investir 2,4 biliões de dólares em ação climática e mais 1,7 biliões em energia limpa. E também pôr fim aos subsídios para os combustíveis fósseis. "Os países do norte do mundo podem ser todos os verdes, mas isso não servirá de nada se não ajudarem o sul a descarbonizar e a fazer a transição".
Na sua visão, a terceira falha de mercado identificada passa pelo "subinvestimento em redes elétricas e armazenamento de energia". Mais grave ainda, disse, é o facto de a falta de acesso à anergia acelerar ainda mais as desigualdades nos países em conflito. E desafiou as empresas do setor: "Estão dispostas a ir para palcos de guerra e a levar energia a países que estão fora da ordem de mérito mundial?".
DIRETOR DA AIE DÁ A PORTUGAL UM A+, NOTA MÁXIMA NA ENERGIA
Na mesma conferência, o diretor executivo da Agência Internacional para a Energia, Fatih Birol, também identificou a segurança energética como um dos principais desafios do momento. "As atuais tensões políticas vão tornar a energia ainda mais importante do que é agora. Tão importante ou mais do que a segurança nacional ou a segurança económica dos países. E não se trata apenas de petróleo, gás e eletricidade, mas também de segurança no acesso a minerais críticos e cadeias de abastecimento, já que muitos destes minerais não servem só para fazer painéis solares, mas também são usados na indústria militar", defendeu na sua intervenção, lembrando que Portugal pode desempenhar um papel importante na mineração de lítio na Europa, mas não deve esquecer também o investimento na refinação do mesmo.
Tal como Moreira da Silva, Fatih Birol sublinhou a importância da cooperação internacional - já que "nenhum país é uma ilha energética" - e da estabilidade política para atrair os investidores em energias renováveis - "que são como borboletas, assustam-se e fogem muito facilmente" -, o que Portugal conseguiu fazer.
"O país fez um excelente trabalho. Não digo isto a todos, mas dou a Portugal um A+, nota máxima, pela sua evolução energética nos últimos 25 anos, em que conseguiu passar de 90 para 15% de energias fósseis, erradicar o carvão, aumentar as renováveis de 30 para mais de 70% e reduzir as emissões em 50%", disse, rematando: "Portugal conseguiu o improvável".
Também olhando para os últimos 25 anos, a ministra do Ambiente e da Energia, Maria da Graça Carvalho, destacou o "pacto de regime" que sempre existiu no país ao longo de sucessivos governos d diferentes partidos (PS e PSD) sobre as políticas energéticas do país, mesmo com "pequenas discordâncias aqui e ali".
"Conseguimos manter uma linha de coerência e compromisso com descarbonização e energias renováveis. Prova disso é que o PNEC 2030 foi aprovado no Parlamento sem votos contra", referiu a responsável, antecipando que Portugal possa chegar já em 2026 a 80% de renováveis na produção de energia (antes mesmo de 2030), depois de ter registado 71% em 2024.
A governante lembrou que o Governo vai simplificar os licenciamentos de projetos nas zonas de aceleração de renováveis - como Sines, por exemplo, ao mesmo tempo que aposta no hidrogénio verde como "fator de competitividade para atrair indústria para Portugal e transformar o país num produtor e exportador de combustível sustentável para aviação".