O ponto de venda tornou-se o epicentro da transformação na indústria dos pagamentos, mas milhões de estabelecimentos continuam a operar com infraestruturas obsoletas, incapazes de responder às novas exigências do consumidor digital. Portugal destaca-se na digitalização dos pagamentos, com uma taxa superior a 50%, e no comércio eletrónico internacional, com 45%, acima de Itália (39%), Espanha (29%) e Reino Unido (17%).
Estas são as principais conclusões do novo relatório da Nuek, empresa tecnológica especializada em infraestrutura de pagamentos da Minsait (Indra Group), que analisa como os pagamentos SoftPOS (Software Point of Sale) e os modelos de subscrição estão a emergir como novas alavancas de competitividade para o comércio.
O estudo “Aceitação de pagamentos nos estabelecimentos”, realizado pela Nuek em colaboração com a AFI (Analistas Financeiros Internacionais), baseia-se em mais de 5.200 inquéritos em Portugal, Espanha, Itália, Reino Unido, Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, Equador, México, Peru, República Dominicana e Uruguai.
Apesar do potencial tecnológico, a digitalização do ponto de venda continua limitada por barreiras de adoção, enquadramentos regulatórios desalinhados e um ecossistema fragmentado, que impede a criação de experiências verdadeiramente integradas. O relatório coloca Portugal numa posição de adoção relevante das novas tecnologias, com uma brecha geracional marcada e uma preferência persistente por métodos tradicionais, tendência que se verifica em todos os países analisados.
Portugal é o único país europeu analisado que ultrapassa os 50% de disponibilidade de pagamentos com SoftPOS, valor superior a Espanha, que se situa entre os 30% e 40%, e ligeiramente inferior a alguns países da América Latina. Esta tecnologia transforma um simples smartphone ou tablet, com tecnologia NFC, em terminais de pagamento sem contacto, permitindo que os comerciantes aceitem pagamentos sem necessidade de hardware adicional.
Existe uma forte brecha geracional: nos países europeus analisados, apenas 13% dos maiores de 55 anos já usaram SoftPOS, enquanto 42% deste grupo desconhece a possibilidade de pagar com esta tecnologia. O receio do pagamento SoftPOS em Portugal está muito associado à preferência por outros meios (28%), seguindo-se os problemas técnicos (24%), a insegurança com a tecnologia (24%) e, por fim, a falta de confiança no estabelecimento.
“Durante décadas, a aceitação de pagamentos digitais esteve limitada a um modelo físico, rígido e dispendioso”, afirma Jávier Rey, diretor executivo da Nuek, “o que vemos hoje é uma mudança de paradigma: a função do terminal integra-se no smartphone, o comércio ganha agilidade e os custos reduzem-se drasticamente. O que antes era uma limitação tecnológica é agora uma via para ativar um novo modelo operativo para os estabelecimentos que tinham ficado à margem da transformação digital.”
O relatório revela ainda que apenas 41% da população bancarizada, dos países europeus analisados, já adotou soluções de pagamento através de dispositivos móveis, comparativamente a 62% dos países da América Latina incluídos nesta análise.