As exportações do setor têxtil nacional estão a resistir ao impacto das tarifas impostas pelos Estados Unidos de forma resiliente e a demonstrar uma capacidade de manter o foco nos mercados mais importantes, "caindo apenas de forma marginal", disse ao JE o novo presidente da Associação Têxtil e do Vestuário de Portugal (ATP), Ricardo Silva, CEO da Tintex. As exportações estarão neste momento a cair a níveis inferiores a 1%, o que demonstra, segundo disse, não apenas que a produção nacional está a manter mercados, mas principalmente que está a revelar "um comportamento muito acima do que está a acontecer com a concorrência", afirmou.
Os dados verificam-se no que tem a ver com o segmento mais baixo do mercado - que a produção nacional foi abandonando nos últimos anos - onde a China perdeu cerca de 25% das exportações. Mas o mesmo se verifica nos segmentos de maior valor acrescentado: "as marcas preponderantes de Itália estão também a cair em volta dos 25%".
Em termos de acumulado, a tabela fornecida pela ATP, que ainda não está atualizada com os valores de agosto, revela que o acumulado das exportações nacionais entre janeiro e junho caiu, face ao homólogo de 2024, apenas 0,1%, dos 3,362 mil milhões de euros para os 3,357 mil milhões - uma derrapagem que não chegou aos 4,2 milhões. Para o mesmo período, o item que mais caiu em vendas ao exterior foi o vestuário, que acumulou uma descida da ordem dos 1,5%, compensada com as vendas matérias têxteis.
O peso do mercado norte-ame- ricano nos têxteis nacionais não vai além dos 13%, pelo que o impacto direto das tarifas seria sempre menor quando comparado com outros setores, como sucede por exemplo nos vinhos. O problema é que os Estados Unidos, que são uma aposta recente dos têxteis nacionais, encerram dois fatores que a fileira não quer perder: o facto de serem um mercado consumidor de produção com assinaláveis mais-valias; e a circunstância de os EUA servirem de hub para os mercados vizinhos, nomeadamente o México e principalmente o Canadá.
Para Ricardo Silva "as exportações estão em linha com o ano passado", o que, no quadro atual, é uma excelente notícia - que de algum modo vai contra as piores expectativas da indústria. Vale a pena recordar que as negociações entre a União Europeia e os Estados Unidos correram muito mal para o setor, como disse há dois meses o anterior presidente da ATP, Mário Jorge Machado, em declarações ao JE. As expectativas eram portanto negativas e o facto de os números estarem para já a revelar o contrário indicam que a produção nacional vai por certo conseguir resistir às vicissitudes do novo quadro do comércio mundial.
Uma das formas de rodear esta desconformidade concorrencial - que é defendida por vários setores da indústria - é o afrouxamento das regras ambientais e ecológicas que a Comissão impôs aos têxteis (e a outros setores), que, face ao novo quadro comercial mundial, deverão ser estendidas no tempo.
Assim, o impacto dos investimentos previstos poderia também ser diminuído, contribuindo para balanços mais equilibrados. Para já, a Comissão tem vindo a recusar aliviar este tipo de medidas - mas é uma recusa que 'vem dos tempos' em que não havia ainda as tarifas norte- -americanas.
De regresso aos números, os dados coligidos pela ATP têm um valor que preocupa o setor: as importações têxteis têm aumentado. Para o acumulado de janeiro a junho, as importações ascenderam aos 3,14 mil milhões de euros, cerca de 6% acima dos 2,95 mil milhões registados nos primeiros sete meses do ano passado. Também no caso das importações, é o vestuário que mais pesa nas contas nacionais, tendo aumentado na casa dos 10%.
A alternativa europeia deve ser explorada
Uma das alternativas às dificuldades impostas pelos Estados Unidos era a de insistir no comércio intra- -europeu. Nesse quadro, a federação europeia do setor, a Euratex, já exigiu à Comissão Europeia que as regras que pautam a produção industrial das empresas europeias sejam impostas aos produtores externos que vendem para o mercado europeu. As questões ligadas à sustentatbilidade, à economia verde e ao controlo da proveniência das matérias- -primas - mas também dos direitos dos trabalhadores - devem ser iguais para todos, sob pena de haver uma grave distorção da concorrência. A queixa é antiga e persiste: a produção oriunda dos países asiáticos (China, Laos, Vietname, principalmente) não obedecem às mesmas regras que os produtores europeus, que assim não conseguem manter-se à frente da concorrência. Neste particular, os empresários nacionais indicam que a China continua a 'furar o bloqueio' com alguma facilidade e que a União Europeia não está a fazer tudo o que devia para impedir a continuidade da ocorrência.
Os dados verificam-se no que tem a ver com o segmento mais baixo do mercado - que a produção nacional foi abandonando nos últimos anos - onde a China perdeu cerca de 25% das exportações. Mas o mesmo se verifica nos segmentos de maior valor acrescentado: "as marcas preponderantes de Itália estão também a cair em volta dos 25%".
Em termos de acumulado, a tabela fornecida pela ATP, que ainda não está atualizada com os valores de agosto, revela que o acumulado das exportações nacionais entre janeiro e junho caiu, face ao homólogo de 2024, apenas 0,1%, dos 3,362 mil milhões de euros para os 3,357 mil milhões - uma derrapagem que não chegou aos 4,2 milhões. Para o mesmo período, o item que mais caiu em vendas ao exterior foi o vestuário, que acumulou uma descida da ordem dos 1,5%, compensada com as vendas matérias têxteis.
O peso do mercado norte-ame- ricano nos têxteis nacionais não vai além dos 13%, pelo que o impacto direto das tarifas seria sempre menor quando comparado com outros setores, como sucede por exemplo nos vinhos. O problema é que os Estados Unidos, que são uma aposta recente dos têxteis nacionais, encerram dois fatores que a fileira não quer perder: o facto de serem um mercado consumidor de produção com assinaláveis mais-valias; e a circunstância de os EUA servirem de hub para os mercados vizinhos, nomeadamente o México e principalmente o Canadá.
Para Ricardo Silva "as exportações estão em linha com o ano passado", o que, no quadro atual, é uma excelente notícia - que de algum modo vai contra as piores expectativas da indústria. Vale a pena recordar que as negociações entre a União Europeia e os Estados Unidos correram muito mal para o setor, como disse há dois meses o anterior presidente da ATP, Mário Jorge Machado, em declarações ao JE. As expectativas eram portanto negativas e o facto de os números estarem para já a revelar o contrário indicam que a produção nacional vai por certo conseguir resistir às vicissitudes do novo quadro do comércio mundial.
Uma das formas de rodear esta desconformidade concorrencial - que é defendida por vários setores da indústria - é o afrouxamento das regras ambientais e ecológicas que a Comissão impôs aos têxteis (e a outros setores), que, face ao novo quadro comercial mundial, deverão ser estendidas no tempo.
Assim, o impacto dos investimentos previstos poderia também ser diminuído, contribuindo para balanços mais equilibrados. Para já, a Comissão tem vindo a recusar aliviar este tipo de medidas - mas é uma recusa que 'vem dos tempos' em que não havia ainda as tarifas norte- -americanas.
De regresso aos números, os dados coligidos pela ATP têm um valor que preocupa o setor: as importações têxteis têm aumentado. Para o acumulado de janeiro a junho, as importações ascenderam aos 3,14 mil milhões de euros, cerca de 6% acima dos 2,95 mil milhões registados nos primeiros sete meses do ano passado. Também no caso das importações, é o vestuário que mais pesa nas contas nacionais, tendo aumentado na casa dos 10%.
A alternativa europeia deve ser explorada
Uma das alternativas às dificuldades impostas pelos Estados Unidos era a de insistir no comércio intra- -europeu. Nesse quadro, a federação europeia do setor, a Euratex, já exigiu à Comissão Europeia que as regras que pautam a produção industrial das empresas europeias sejam impostas aos produtores externos que vendem para o mercado europeu. As questões ligadas à sustentatbilidade, à economia verde e ao controlo da proveniência das matérias- -primas - mas também dos direitos dos trabalhadores - devem ser iguais para todos, sob pena de haver uma grave distorção da concorrência. A queixa é antiga e persiste: a produção oriunda dos países asiáticos (China, Laos, Vietname, principalmente) não obedecem às mesmas regras que os produtores europeus, que assim não conseguem manter-se à frente da concorrência. Neste particular, os empresários nacionais indicam que a China continua a 'furar o bloqueio' com alguma facilidade e que a União Europeia não está a fazer tudo o que devia para impedir a continuidade da ocorrência.