Eram sete da manhã em Osaka, Japão, quando encontrei o Francisco já à espera no hall do hotel. Vestia uma camisola leve e uma determinação silenciosa. O pequeno-almoço estava prometido, mas pouco lhe dizia, porque o que estava prestes a acontecer enchia-lhe o estômago de outro alimento: missão.
Hoje é dia 5 de Maio de 2025, Dia Mundial da Língua Portuguesa. E foi o Francisco Vieira, 16 anos, nascido no seio do Bairro Portugal Novo, que representou, diante do mundo, o som do futuro. Com um poema na boca — “E a seguir?” —, ele não só subiu ao palco mais simbólico da Expo 2025 Japão, como também nos obrigou a descer à verdade que preferimos adiar.
A nossa Comissária Geral do Pavilhão de Portugal, Joana Cardoso, foi quem primeiro se inquietou. Percebeu, com o olhar de quem não aceita espelhos que só mostram um lado, que a imagem que Portugal levava ao mundo estava incompleta. Os artistas inicialmente convidados não representavam a pluralidade que hoje define o nosso país. Faltavam os corpos que falam português com outros sotaques, os rostos que nasceram da mistura, os batimentos que vêm das periferias e dos arquipélagos, dos quilombos e das moradias, das ilhas e dos becos onde a língua portuguesa dança coladeiras, morna, kuduro, fado e samba.
Foi essa urgência de reparar que levou à convocação do Francisco. Um adolescente, sim, mas também um cidadão-poeta, que ao dizer “e a seguir?” nos colocou diante da pergunta mais antiga e mais atual: o que queremos fazer com esta língua que nos une?