Há quatro décadas a aperfeiçoar a tecnologia das câmaras climáticas, equipamentos que simulam o meio ambiente e a exposição a situações extremas, a Aralab, empresa portuguesa com sede em Rio de Mouro, em Sintra, prepara-se para reforçar a aposta na indústria da Defesa.
Não é uma estreia absoluta. A empresa, fundada pelos irmãos João e Eduardo Araújo nos anos 80 do século passado, já trabalha com clientes neste segmento de mercado, que não representa mais do que 5% a 10% das receitas. Fornece câmaras climáticas para ensaios de empresas de drones e está em conversações com instituições militares. Luís Branco, presidente executivo da Aralab, prefere não revelar a identidade dos atuais e dos potenciais clientes.
Tem sido um mercado a que estamos atentos, temos participado em algumas iniciativas no sentido de perceber quais são as oportunidades, e dar a conhecer a Aralab, explica Luís Branco em entrevista ao Expresso.
É uma área com características próximas de uma que a empresa conhece bem, já que tem clientes relevantes na área aeroespacial, como a TAP, a OGMA e a gigante Airbus. Trabalha também com instituições como a ESA (agência espacial europeia), para a qual está a ensaiar alguns componentes de satélites, ou o Instituto Nacional de Técnica Aeroespacial (INTA), um centro de ensaios para a indústria aeronáutica espanhola. O objetivo é alargar o mercado e não ficar demasiado dependente de alguns segmentos de negócio.
Uma câmara climática, explica o gestor, é um espaço confinado, que pode ser do tamanho de uma sala ou de um frigorífico e que reproduz exatamente as mesmas condições que existem no clima. Quando estamos a falar de clima reproduzido numa câmara, estamos a falar de reproduzir condições de temperatura que podem ser muito negativas, desde menos 40 a menos 50 graus, ou muito positivas, até 150, 180 graus positivos. E de varições de temperatura muito repentinas. Estamos a falar de reprodução de condições de humidade, simuladores da luz solar, CO2, etc. Tudo o que existe na atmosfera nós conseguimos reproduzir, detalha.
As câmaras climáticas da Aralab tanto podem servir para testar um medicamento como uma peça para um avião, casos em que as condições têm que ser muito finas e muito rigorosas. Cada vez mais incorporamos nas nossas câmaras o controlo do ambiente e dos gases que nela existem. Trabalhamos cada vez mais com gases explosivos que existem em vários equipamentos, conta Luís Branco.
As câmaras de maior dimensão são muito utilizadas pela indústria automóvel e pela aeronáutica, explica o gestor. Na indústria automóvel servem para ensaiar grandes componentes de veículos ou o próprio veículo inteiro. Num outro mercado, a área da biotecnologia, fazemos muitas câmaras walk-in para os ensaios e para trabalhos de investigação em plantas. Tudo o que é investigação científica relacionada com plantas requer câmaras de maior dimensão, onde são simuladas as condições climáticas de vários países, exemplifica.
PROCURAR MERCADOS ALTERNATIVOS
Depois de um 2024 menos próspero, ano em que a Aralab viu as receitas recuar de cerca de 20 milhões para 15 milhões, a empresa sentiu que era importante diversificar. Um 2024 difícil mostrou-nos que temos de procurar mercados alternativos. E estamos a encontrá-los quer na indústria da defesa e do aeroespacial, quer na parte da ferrovia, avançou o CEO da empresa. Em 2025 Luís Branco espera regressar a uma faturação de 20 milhões.
A Aralab ganhou recentemente um contrato relevante com a francesa SNCF para um projeto ferroviário em Bordéus. Para os comboios ensaiamos os aparelhos de ar condicionado que são colocados dentro das carruagens para o conforto dos passageiros, afirma. A empresa tanto tem uma ligação direta ao construtor, na indústria automóvel, por exemplo, como com os seus fornecedores. Um dos grandes clientes da Aralab é a Volkswagen, mas a empresa trabalha também para marcas como a Audi, a BMW e a Seat. E o mesmo acontece no sector aeroespacial.
Segundo Luís Branco, a empresa portuguesa tem face a alguns dos seus concorrentes uma grande vantagem, a flexibilidade. Como não produz em larga escala (faz cerca de 400 câmaras por ano), consegue adaptar-se rapidamente às necessidades dos seus clientes.
A maioria dos fornecedores da Aralab são portugueses. A estrutura metálica, o quadro elétrico e a refrigeração são feitos por empresas portuguesas, ou pela própria Aralab, depende um bocadinho da complexidade do projeto. Diria que 70% a 80% dos nossos parceiros são nacionais. Incorporamos muito valor da economia portuguesa, assegura.
ABRANDAMENTO NAS ÁREAS MAIS TRADICIONAIS
O gestor não quer concentrar o negócio nas áreas aeroespacial e da Defesa. Fabrica câmaras para laboratórios de farmacêuticas e para universidades e centros de investigação, e quer continuar a fazê-lo, mas reconhece que o mercado vai abrandar.
Estamos a sentir uma estagnação do mercado da investigação em plantas e falando com três ou quatro dos nossos principais distribuidores, o que todos me transmitem é que os governos nesses países estão mesmo a realocar os orçamentos e a dirigi-los para outras áreas, como a Defesa, adianta.
Luís Branco dá como um exemplo um parceiro em Inglaterra, um dos principais mercados da Aralab, que já informou que os subsídios e bolsas para investigação nas universidades britânicas já começaram a diminuir, e os esforços estão a ser concentrados na indústria da Defesa. Inevitavelmente, a Aralab vai ter que acompanhar essas tendências, frisa. A empresa exporta cerca de 80% da sua produção, grande parte para o mercado europeu, com destaque para países como Espanha, França, Holanda, Inglaterra e Alemanha.
CICLOS ELEITORAIS MAIS LONGOS SÃO MAIS AMIGOS DO INVESTIMENTO
O mercado português para nós representa cerca de 20% do nosso volume de negócios. Portanto, é um mercado importante, mas que não pesa assim tanto, adianta Luís Branco. Mesmo assim o gestor admite que os ciclos eleitorais curtos, como estamos a assistir em Portugal, penalizam o negócio.
Quando assistimos a estes momentos eleitorais sentimos desde logo uma estagnação dos investimentos públicos. Tudo o que tem a ver com dependência de fundos europeus, que são analisados por organismos do Estado, tudo o que tem a ver com investimentos estatais, ficam meio estagnados durante meses. Portanto, há um impacto real na nossa atividade, afirma.
Estes ciclos pequenos para nós não são nada favoráveis. Preferíamos os ciclos de legislatura de quatro anos, era mais previsível e mais estável e mais amigo do investidor, digamos assim, defende.
Luís Branco olha para os investimentos que possam vir a acontecer no aeroporto, na terceira travessia do Tejo e na ferrovia como positivos para a economia.
Esse conjunto de projetos pode ajudar bastante a dinamizar a economia. São investimentos grandes, necessários para o país e que já pecam por tardios. São tudo investimentos muito interessantes e consideramos estratégicos e importantes, sublinha.
E deixa um conselho: uma das áreas em que também deveríamos apostar um bocadinho enquanto país era na captação de investimentos estrangeiros, investimentos mais estruturantes, que ajudassem a dinamizar um pouco a economia nacional.
UMA HISTÓRIA COM 40 ANOS
Os irmãos João e Eduardo Araújo fundaram a Aralab em 1985 e ainda estão hoje na empresa, mantendo 100% do capital na família. Foram eles que criaram a Aralab, que no início era uma empresa prestadora de serviços. Fazia assistências técnicas, reparações, manutenções a vários equipamentos, entre eles câmaras climáticas que existiam nas faculdades em Portugal, utilizadas para fazer ensaios, para fazer testes, explica o CEO.
Devido às habilidades que mostraram, os investigadores e os professores desafiaram a empresa a fabricar o próprio equipamento. Tinham muita experiência na área de refrigeração e um espírito inovador muito grande. A Aralab desenvolveu a sua atividade sempre com um grande foco no cliente, com uma preocupação de customizar, de fazer o que o cliente necessita e estar muito próximo, responder logo às solicitações, explica Luís Branco.
Os primeiros passos da internacionalização ocorreram em meados da década de 90. Espanha foi o primeiro mercado.
Hoje em dia somos muito mais uma empresa de engenharia do que uma empresa fabricante de produto, conta Luís Branco, indicando que a Aralab monta diversos componentes e subcontrata vários fornecedores, portugueses e estrangeiros.
A Aralab tem uma fábrica em Rio de Mouro e está a planear construir uma nova, que implicará um investimento de 15 milhões de euros. A empresa tem 105 trabalhadores, uma grande parte deles engenheiros.
A Aralab está presente em 80 países. Temos uma rede comercial com distribuidores nas diferentes geografias, que faz o trabalho comercial no terreno, que angaria o negócio, desenvolve, acompanha o cliente. Depois ou fazem a instalação eles próprios, se já estiverem capacitados para isso, ou são equipas da Aralab que saem daqui de Sintra, para as ir fazer, explica Luís Branco.
Não é uma estreia absoluta. A empresa, fundada pelos irmãos João e Eduardo Araújo nos anos 80 do século passado, já trabalha com clientes neste segmento de mercado, que não representa mais do que 5% a 10% das receitas. Fornece câmaras climáticas para ensaios de empresas de drones e está em conversações com instituições militares. Luís Branco, presidente executivo da Aralab, prefere não revelar a identidade dos atuais e dos potenciais clientes.
Tem sido um mercado a que estamos atentos, temos participado em algumas iniciativas no sentido de perceber quais são as oportunidades, e dar a conhecer a Aralab, explica Luís Branco em entrevista ao Expresso.
É uma área com características próximas de uma que a empresa conhece bem, já que tem clientes relevantes na área aeroespacial, como a TAP, a OGMA e a gigante Airbus. Trabalha também com instituições como a ESA (agência espacial europeia), para a qual está a ensaiar alguns componentes de satélites, ou o Instituto Nacional de Técnica Aeroespacial (INTA), um centro de ensaios para a indústria aeronáutica espanhola. O objetivo é alargar o mercado e não ficar demasiado dependente de alguns segmentos de negócio.
Uma câmara climática, explica o gestor, é um espaço confinado, que pode ser do tamanho de uma sala ou de um frigorífico e que reproduz exatamente as mesmas condições que existem no clima. Quando estamos a falar de clima reproduzido numa câmara, estamos a falar de reproduzir condições de temperatura que podem ser muito negativas, desde menos 40 a menos 50 graus, ou muito positivas, até 150, 180 graus positivos. E de varições de temperatura muito repentinas. Estamos a falar de reprodução de condições de humidade, simuladores da luz solar, CO2, etc. Tudo o que existe na atmosfera nós conseguimos reproduzir, detalha.
As câmaras climáticas da Aralab tanto podem servir para testar um medicamento como uma peça para um avião, casos em que as condições têm que ser muito finas e muito rigorosas. Cada vez mais incorporamos nas nossas câmaras o controlo do ambiente e dos gases que nela existem. Trabalhamos cada vez mais com gases explosivos que existem em vários equipamentos, conta Luís Branco.
As câmaras de maior dimensão são muito utilizadas pela indústria automóvel e pela aeronáutica, explica o gestor. Na indústria automóvel servem para ensaiar grandes componentes de veículos ou o próprio veículo inteiro. Num outro mercado, a área da biotecnologia, fazemos muitas câmaras walk-in para os ensaios e para trabalhos de investigação em plantas. Tudo o que é investigação científica relacionada com plantas requer câmaras de maior dimensão, onde são simuladas as condições climáticas de vários países, exemplifica.
PROCURAR MERCADOS ALTERNATIVOS
Depois de um 2024 menos próspero, ano em que a Aralab viu as receitas recuar de cerca de 20 milhões para 15 milhões, a empresa sentiu que era importante diversificar. Um 2024 difícil mostrou-nos que temos de procurar mercados alternativos. E estamos a encontrá-los quer na indústria da defesa e do aeroespacial, quer na parte da ferrovia, avançou o CEO da empresa. Em 2025 Luís Branco espera regressar a uma faturação de 20 milhões.
A Aralab ganhou recentemente um contrato relevante com a francesa SNCF para um projeto ferroviário em Bordéus. Para os comboios ensaiamos os aparelhos de ar condicionado que são colocados dentro das carruagens para o conforto dos passageiros, afirma. A empresa tanto tem uma ligação direta ao construtor, na indústria automóvel, por exemplo, como com os seus fornecedores. Um dos grandes clientes da Aralab é a Volkswagen, mas a empresa trabalha também para marcas como a Audi, a BMW e a Seat. E o mesmo acontece no sector aeroespacial.
Segundo Luís Branco, a empresa portuguesa tem face a alguns dos seus concorrentes uma grande vantagem, a flexibilidade. Como não produz em larga escala (faz cerca de 400 câmaras por ano), consegue adaptar-se rapidamente às necessidades dos seus clientes.
A maioria dos fornecedores da Aralab são portugueses. A estrutura metálica, o quadro elétrico e a refrigeração são feitos por empresas portuguesas, ou pela própria Aralab, depende um bocadinho da complexidade do projeto. Diria que 70% a 80% dos nossos parceiros são nacionais. Incorporamos muito valor da economia portuguesa, assegura.
ABRANDAMENTO NAS ÁREAS MAIS TRADICIONAIS
O gestor não quer concentrar o negócio nas áreas aeroespacial e da Defesa. Fabrica câmaras para laboratórios de farmacêuticas e para universidades e centros de investigação, e quer continuar a fazê-lo, mas reconhece que o mercado vai abrandar.
Estamos a sentir uma estagnação do mercado da investigação em plantas e falando com três ou quatro dos nossos principais distribuidores, o que todos me transmitem é que os governos nesses países estão mesmo a realocar os orçamentos e a dirigi-los para outras áreas, como a Defesa, adianta.
Luís Branco dá como um exemplo um parceiro em Inglaterra, um dos principais mercados da Aralab, que já informou que os subsídios e bolsas para investigação nas universidades britânicas já começaram a diminuir, e os esforços estão a ser concentrados na indústria da Defesa. Inevitavelmente, a Aralab vai ter que acompanhar essas tendências, frisa. A empresa exporta cerca de 80% da sua produção, grande parte para o mercado europeu, com destaque para países como Espanha, França, Holanda, Inglaterra e Alemanha.
CICLOS ELEITORAIS MAIS LONGOS SÃO MAIS AMIGOS DO INVESTIMENTO
O mercado português para nós representa cerca de 20% do nosso volume de negócios. Portanto, é um mercado importante, mas que não pesa assim tanto, adianta Luís Branco. Mesmo assim o gestor admite que os ciclos eleitorais curtos, como estamos a assistir em Portugal, penalizam o negócio.
Quando assistimos a estes momentos eleitorais sentimos desde logo uma estagnação dos investimentos públicos. Tudo o que tem a ver com dependência de fundos europeus, que são analisados por organismos do Estado, tudo o que tem a ver com investimentos estatais, ficam meio estagnados durante meses. Portanto, há um impacto real na nossa atividade, afirma.
Estes ciclos pequenos para nós não são nada favoráveis. Preferíamos os ciclos de legislatura de quatro anos, era mais previsível e mais estável e mais amigo do investidor, digamos assim, defende.
Luís Branco olha para os investimentos que possam vir a acontecer no aeroporto, na terceira travessia do Tejo e na ferrovia como positivos para a economia.
Esse conjunto de projetos pode ajudar bastante a dinamizar a economia. São investimentos grandes, necessários para o país e que já pecam por tardios. São tudo investimentos muito interessantes e consideramos estratégicos e importantes, sublinha.
E deixa um conselho: uma das áreas em que também deveríamos apostar um bocadinho enquanto país era na captação de investimentos estrangeiros, investimentos mais estruturantes, que ajudassem a dinamizar um pouco a economia nacional.
UMA HISTÓRIA COM 40 ANOS
Os irmãos João e Eduardo Araújo fundaram a Aralab em 1985 e ainda estão hoje na empresa, mantendo 100% do capital na família. Foram eles que criaram a Aralab, que no início era uma empresa prestadora de serviços. Fazia assistências técnicas, reparações, manutenções a vários equipamentos, entre eles câmaras climáticas que existiam nas faculdades em Portugal, utilizadas para fazer ensaios, para fazer testes, explica o CEO.
Devido às habilidades que mostraram, os investigadores e os professores desafiaram a empresa a fabricar o próprio equipamento. Tinham muita experiência na área de refrigeração e um espírito inovador muito grande. A Aralab desenvolveu a sua atividade sempre com um grande foco no cliente, com uma preocupação de customizar, de fazer o que o cliente necessita e estar muito próximo, responder logo às solicitações, explica Luís Branco.
Os primeiros passos da internacionalização ocorreram em meados da década de 90. Espanha foi o primeiro mercado.
Hoje em dia somos muito mais uma empresa de engenharia do que uma empresa fabricante de produto, conta Luís Branco, indicando que a Aralab monta diversos componentes e subcontrata vários fornecedores, portugueses e estrangeiros.
A Aralab tem uma fábrica em Rio de Mouro e está a planear construir uma nova, que implicará um investimento de 15 milhões de euros. A empresa tem 105 trabalhadores, uma grande parte deles engenheiros.
A Aralab está presente em 80 países. Temos uma rede comercial com distribuidores nas diferentes geografias, que faz o trabalho comercial no terreno, que angaria o negócio, desenvolve, acompanha o cliente. Depois ou fazem a instalação eles próprios, se já estiverem capacitados para isso, ou são equipas da Aralab que saem daqui de Sintra, para as ir fazer, explica Luís Branco.