A indefinição das tarifas está a causar um para-arranca que penaliza as empresas. Ora as exportações crescem, ora caem. Em abril, foi mês de crescer, reduzindo em 10 milhões as perdas homólogas.
As empresas portuguesas perderam 23 milhões de euros, nos primeiros três meses do ano, na comparação homóloga, em vendas para os Estados Unidos, valor que foi atenuado com o crescimento das exportações para este mercado em abril e está, agora, nos 13,3 milhões de euros. Os setores que mais perdem são indústrias como a metalurgia e metalomecânica, os produtos minerais e a fileira da madeira, mas há indústrias a crescer e bem para os EUA, como é o caso da agroindústria, dos plásticos e borrachas ou da indústria química, a reboque dos produtos farmacêuticos.
No total, Portugal exportou para os EUA bens no valor de 1756 milhões de euros, entre janeiro e abril, contra os 1769 verificados no período homólogo. As tarifas de Donald Trump, ou a ameaça constante de agravamentos que, no minuto seguinte são adiados por um mês ou dois, estão a deixar os operadores económicos à beira de um ataque de nervos. É um para-arranca nos negócios. A prová-lo estão os números mensais do comércio internacional do INE.
Em janeiro, as vendas para os EUA caíram 13,6%, para 329 milhões de euros, para crescerem 23,9% no mês seguinte, em termos homólogos, e chegarem aos 419,4 milhões de euros. Em março, nova quebra, desta vez de 8,6%, para 565,4 milhões e, em abril, as exportações voltaram a crescer, desta vez 2,4%, num total de 442,2 milhões de euros. No acumulado, e como já referido, vamos nos 1756 milhões, menos 0,7% do que nos primeiros quatro meses de 2024.
Os produtos farmacêuticos, por exemplo, estão em alta, com um aumento homólogo de 47,7% nas vendas para os EUA, num total de 557,5 milhões de euros. Mas este é um setor que está com grande dinâmica por natureza, com as suas exportações totais a mais do que duplicarem para 2232 milhões (+165%) até abril. Já a indústria dos nplásticos, que tem as exportações globais a cair 1,7%, para 1210 milhões, está a crescer 10,6% nos EUA, com 18,9 milhões de euros.
A fileira da borracha exportou 127,4 milhões para o mercado norte-americano, um aumento de 3,2%, e o segmentos das peles também cresceu nesta geografia, em especial no que às bolsas e artigos de viagem diz respeito, que têm um acréscimo de 6,6% para 5,1 milhões de euros no total.
Mas nem todos podem dizer o mesmo. As exportações da indústria metalúrgica e de metalomecânica estão, nos primeiros quatro meses do ano, a cair 2,7% para 8 mil milhões de euros, penalizadas por quebras a dois dígitos em mercados chaves. É o caso dos EUA, que estão a cair 16,6%, refletindo, em parte, o congelamento de encomendas que temos vindo a identificar, fruto da instabilidade das políticas anunciadas por Trump. No total, a fileira está a perder mais de 221,3 milhões de euros, face ao período homólogo, 41 milhões dos quais no mercado americano.
Na verdade, dos seis mercados estratégicos do Metal Portugal, só a Espanha, o principal destino das exportações do setor, está a crescer: foram mais 38 milhões de euros, correspondentes a um aumento de 1,8%, para 2.178 milhões de euros entre janeiro e abril. Todos os restantes caem. Alemanha e França perdem, cada um, cerca de 62 milhões, para 1.279 milhões e 1.118 milhões, respetivamente.
A maior descida, quer em termos relativos quer absolutos, é de Itália, para onde a fileira da metalurgia e metalomecânica vendeu bens no valor de 310 milhões, mais 86 milhões e 21,7% abaixo de igual período em 2024. Para o Reino Unido seguiram 485,3 milhões de euros, uma quebra de 11,8%, correspondente a uma perda de 65 milhões de euros. E para os EUA foram 203,9 milhões de euros menos 41 milhões.
Metalurgia apela a políticas ambiciosas
"É fundamental que Portugal e a UE vejam o setor industrial como um pilar estratégico para o futuro. Medidas como as cláusulas de salvaguarda aplicadas à importação de matérias-primas estão há muito a afetar irremediavelmente a competitividade da indústria europeia, defende o vice-presidente da AIMMAP, a associação do setor metalúrgico e metalomecânico. Rafael Campos Pereira acrescenta: Temos de assumir uma aposta clara na indústria como motor de inovação, criação de valor e resposta aos desafios globais. O atual governo deve implementar políticas ambiciosas que confiem na capacidade transformadora do tecido industrial português, gozando de um ambiente de estabilidade e cooperação para realizar essa tão necessária transformação.
Na fileira têxtil, são os têxteis-lar que melhor se comportam nos EUA, ou não fosse esse um setor especialmente apreciado, já há décadas, pelos consumidores americanos. Globalmente, as exportações da indústria têxtil e do vestuário (ITV) estão, nos primeiros quatro meses do ano, em linha com as do ano passado.
A fileira exportou bens no valor de 1910milhões de euros (+0,8%), dos quais 1073 milhões referentes ao segmento de vestuário (-0,7%). Para o mercado americano foram matérias têxteis e suas obras no valor de 135 milhões de euros, um aumento de 3,8% face a igual período do ano passado.
Já o calçado, que registou um arranque de ano particular difícil em 2024, tal como a ITV, está agora a crescer a bom ritmo. Entre janeiro e abril, a indústria exportou quase 26 milhões de pares de sapatos no valor de 576,3 milhões de euros. É um crescimento homólogo de 7,8% em quantidade e de 6,2% em valor.
Mas o mercado americano não está a ajudar. Em janeiro, as vendas para os EUA estiveram em linha com igual mês de 2024, mas caíram brutalmente a seguir: 16,3% em fevereiro e 21,5% em março, apesar da aposta reforçada da associação do calçado, a APICCAPS, e dos seus associados, em terras do Tio Sam. Ainda a semana passada decorreu, em Nova Iorque, uma conferência em parceria com a americana Vogue Business, e há já vários outros eventos previstos para o segundo semestre, como a participação em certames profissionais, a realização de missões de compradores a Portugal, para poderem visitar as fábricas portuguesas, bem como parcerias com escolas de moda e a presença de marcas portuguesas na semana da moda de Nova Iorque, entre outros.
Indefinição acentua sazonalidade no calçado
Em abril, os resultados já foram significativamente melhores, com as exportações para os EUA a crescerem 5,4% para quase 6,3 milhões de euros.Há que não esquecer que este, que é o 6º maior mercado externo da indústria portuguesa, é o maior mercado mundial de calçado, que importa, anualmente, quase dois mil milhões de pares em valores próximos dos 26 mil milhões de euros. Nove em cada dez pares são importados da Ásia. Mas Portugal quer uma fatia deste negócio.
Há uma indefinição muito grande no mercado, e os clientes estão a protelar as suas decisões, o que significa que precisamos do dobro dos contactos para obter os mesmos resultados, refere o porta-voz da APICCAPS. Paulo Gonçalves admite que os meses de maio e junho possam ser de crescimento nas exportações para os EUA, em consequência do adiamento das tarifas sobre as importações europeias para julho, mas que, em contrapartida, eventualmente se seguirá novo abrandamento em julho.
E porque esta tendência de protelar as encomendas se estende também a alguns mercados europeus, designadamente na Alemanha, o maior comprador de calçado português e que atravessa um período de retração económica, Paulo Gonçalves fala num acentuar da sazonalidade do setor, com a produção de encomendas a concentrar-se num período curto, o que gera dificuldades de respostas às empresas. Sobretudo quando reduzir a sazonalidade tradicional desta indústria tem sido o seu objetivo.
As empresas portuguesas perderam 23 milhões de euros, nos primeiros três meses do ano, na comparação homóloga, em vendas para os Estados Unidos, valor que foi atenuado com o crescimento das exportações para este mercado em abril e está, agora, nos 13,3 milhões de euros. Os setores que mais perdem são indústrias como a metalurgia e metalomecânica, os produtos minerais e a fileira da madeira, mas há indústrias a crescer e bem para os EUA, como é o caso da agroindústria, dos plásticos e borrachas ou da indústria química, a reboque dos produtos farmacêuticos.
No total, Portugal exportou para os EUA bens no valor de 1756 milhões de euros, entre janeiro e abril, contra os 1769 verificados no período homólogo. As tarifas de Donald Trump, ou a ameaça constante de agravamentos que, no minuto seguinte são adiados por um mês ou dois, estão a deixar os operadores económicos à beira de um ataque de nervos. É um para-arranca nos negócios. A prová-lo estão os números mensais do comércio internacional do INE.
Em janeiro, as vendas para os EUA caíram 13,6%, para 329 milhões de euros, para crescerem 23,9% no mês seguinte, em termos homólogos, e chegarem aos 419,4 milhões de euros. Em março, nova quebra, desta vez de 8,6%, para 565,4 milhões e, em abril, as exportações voltaram a crescer, desta vez 2,4%, num total de 442,2 milhões de euros. No acumulado, e como já referido, vamos nos 1756 milhões, menos 0,7% do que nos primeiros quatro meses de 2024.
Os produtos farmacêuticos, por exemplo, estão em alta, com um aumento homólogo de 47,7% nas vendas para os EUA, num total de 557,5 milhões de euros. Mas este é um setor que está com grande dinâmica por natureza, com as suas exportações totais a mais do que duplicarem para 2232 milhões (+165%) até abril. Já a indústria dos nplásticos, que tem as exportações globais a cair 1,7%, para 1210 milhões, está a crescer 10,6% nos EUA, com 18,9 milhões de euros.
A fileira da borracha exportou 127,4 milhões para o mercado norte-americano, um aumento de 3,2%, e o segmentos das peles também cresceu nesta geografia, em especial no que às bolsas e artigos de viagem diz respeito, que têm um acréscimo de 6,6% para 5,1 milhões de euros no total.
Mas nem todos podem dizer o mesmo. As exportações da indústria metalúrgica e de metalomecânica estão, nos primeiros quatro meses do ano, a cair 2,7% para 8 mil milhões de euros, penalizadas por quebras a dois dígitos em mercados chaves. É o caso dos EUA, que estão a cair 16,6%, refletindo, em parte, o congelamento de encomendas que temos vindo a identificar, fruto da instabilidade das políticas anunciadas por Trump. No total, a fileira está a perder mais de 221,3 milhões de euros, face ao período homólogo, 41 milhões dos quais no mercado americano.
Na verdade, dos seis mercados estratégicos do Metal Portugal, só a Espanha, o principal destino das exportações do setor, está a crescer: foram mais 38 milhões de euros, correspondentes a um aumento de 1,8%, para 2.178 milhões de euros entre janeiro e abril. Todos os restantes caem. Alemanha e França perdem, cada um, cerca de 62 milhões, para 1.279 milhões e 1.118 milhões, respetivamente.
A maior descida, quer em termos relativos quer absolutos, é de Itália, para onde a fileira da metalurgia e metalomecânica vendeu bens no valor de 310 milhões, mais 86 milhões e 21,7% abaixo de igual período em 2024. Para o Reino Unido seguiram 485,3 milhões de euros, uma quebra de 11,8%, correspondente a uma perda de 65 milhões de euros. E para os EUA foram 203,9 milhões de euros menos 41 milhões.
Metalurgia apela a políticas ambiciosas
"É fundamental que Portugal e a UE vejam o setor industrial como um pilar estratégico para o futuro. Medidas como as cláusulas de salvaguarda aplicadas à importação de matérias-primas estão há muito a afetar irremediavelmente a competitividade da indústria europeia, defende o vice-presidente da AIMMAP, a associação do setor metalúrgico e metalomecânico. Rafael Campos Pereira acrescenta: Temos de assumir uma aposta clara na indústria como motor de inovação, criação de valor e resposta aos desafios globais. O atual governo deve implementar políticas ambiciosas que confiem na capacidade transformadora do tecido industrial português, gozando de um ambiente de estabilidade e cooperação para realizar essa tão necessária transformação.
Na fileira têxtil, são os têxteis-lar que melhor se comportam nos EUA, ou não fosse esse um setor especialmente apreciado, já há décadas, pelos consumidores americanos. Globalmente, as exportações da indústria têxtil e do vestuário (ITV) estão, nos primeiros quatro meses do ano, em linha com as do ano passado.
A fileira exportou bens no valor de 1910milhões de euros (+0,8%), dos quais 1073 milhões referentes ao segmento de vestuário (-0,7%). Para o mercado americano foram matérias têxteis e suas obras no valor de 135 milhões de euros, um aumento de 3,8% face a igual período do ano passado.
Já o calçado, que registou um arranque de ano particular difícil em 2024, tal como a ITV, está agora a crescer a bom ritmo. Entre janeiro e abril, a indústria exportou quase 26 milhões de pares de sapatos no valor de 576,3 milhões de euros. É um crescimento homólogo de 7,8% em quantidade e de 6,2% em valor.
Mas o mercado americano não está a ajudar. Em janeiro, as vendas para os EUA estiveram em linha com igual mês de 2024, mas caíram brutalmente a seguir: 16,3% em fevereiro e 21,5% em março, apesar da aposta reforçada da associação do calçado, a APICCAPS, e dos seus associados, em terras do Tio Sam. Ainda a semana passada decorreu, em Nova Iorque, uma conferência em parceria com a americana Vogue Business, e há já vários outros eventos previstos para o segundo semestre, como a participação em certames profissionais, a realização de missões de compradores a Portugal, para poderem visitar as fábricas portuguesas, bem como parcerias com escolas de moda e a presença de marcas portuguesas na semana da moda de Nova Iorque, entre outros.
Indefinição acentua sazonalidade no calçado
Em abril, os resultados já foram significativamente melhores, com as exportações para os EUA a crescerem 5,4% para quase 6,3 milhões de euros.Há que não esquecer que este, que é o 6º maior mercado externo da indústria portuguesa, é o maior mercado mundial de calçado, que importa, anualmente, quase dois mil milhões de pares em valores próximos dos 26 mil milhões de euros. Nove em cada dez pares são importados da Ásia. Mas Portugal quer uma fatia deste negócio.
Há uma indefinição muito grande no mercado, e os clientes estão a protelar as suas decisões, o que significa que precisamos do dobro dos contactos para obter os mesmos resultados, refere o porta-voz da APICCAPS. Paulo Gonçalves admite que os meses de maio e junho possam ser de crescimento nas exportações para os EUA, em consequência do adiamento das tarifas sobre as importações europeias para julho, mas que, em contrapartida, eventualmente se seguirá novo abrandamento em julho.
E porque esta tendência de protelar as encomendas se estende também a alguns mercados europeus, designadamente na Alemanha, o maior comprador de calçado português e que atravessa um período de retração económica, Paulo Gonçalves fala num acentuar da sazonalidade do setor, com a produção de encomendas a concentrar-se num período curto, o que gera dificuldades de respostas às empresas. Sobretudo quando reduzir a sazonalidade tradicional desta indústria tem sido o seu objetivo.