Portugueses que se destacam lá fora ajudam a descobrir onde estão oportunidades de negócios e que tipo de empresas e atividades o país pode atrair. Uma iniciativa que junta o Negócios e o Conselho da Diáspora Portuguesa.
CONSELHOS DA DIÁSPORA
JOÃO PITA COSTA
INVESTIGADOR SÉNIOR NO CENTRO INTERNACIONAL DE INVESTIGAÇÃO EM INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL (IRCAI), NA ESLOVÉNIA, SOB OS AUSPÍCIOS DA UNESCO CONSELHEIRO DA DIÁSPORA PORTUGUESA NA ESLOVÉNIA
1. O QUE O/A LEVOU A SAIR DE PORTUGAL?
A escolha da Eslovénia, onde vivo há 14 anos, foi amadurecendo desde o meu intercâmbio Erasmus em 2005, que teve um impacto decisivo.
De regresso a Lisboa, fundei e presidi ao primeiro hub da AEGEE (Association des États Généraux des Étudiants de l'Europe) na cidade - associação ligada à origem do Erasmus -, organizando em 2006 um dos eventos mais populares do ano, com representantes do hub central de Bruxelas, em parceria com o recém-criado hub do Porto, também com o meu apoio. O sucesso foi tal que até recebemos um prémio.
Durante o mestrado em Matemática na Faculdade de Ciências, mantive uma forte ligação ao leitorado esloveno na Faculdade de Letras, orientado por Mateja Rozman. Estive ativamente envolvido em iniciativas culturais ligadas à língua e cultura eslovena, integrando a coordenação de vários eventos - alguns formais -por convite da própria Mateja, com quem continuo a colaborar. Esse percurso culminaria, mais tarde, com o doutoramento em Ljubljana, com apoio da Fundação para a Ciência e Tecnologia.
Iniciei o doutoramento no final de 2007, que se estendeu até maio de 2012. Entretanto conheci a minha esposa eslovena Dijana e, apartir daí, estavajá sabido que a Eslovénia seria um destino, muito mais do que uma passagem. Hoje temos dois filhos, Samuel (10) e Aurora (5), e vivemos em Ljubljana; mantemos uma revista luso-eslovena - Sardinha (www.eSardinha.eu) - há mais de 10 anos, e estamos em Portugal com alguma frequência, principalmente no Verão, na Caparica, de onde sou, e onde a minha família, pais e irmã vivem.
2. QUE VANTAGENS OU DESVANTAGENS LHE TROUXE O FACTO DE SER PORTUGUÊS/A?
É curioso notar que os eslovenos, habituados a viajar - muitas vezes por longas distâncias, até de bicicleta ou à boleia -, conhecem bem a diferença entre Portugal e Espanha. E, ao contrário de muitos países vizinhos, demonstram uma clara preferência por Portugal e pela língua portuguesa, mesmo antes de o país se tornar um destino popular.
Ser português na Eslovénia é algo exótico e geralmente bem recebido. Muitos eslovenos - e também croatas, italianos, austríacos e húngaros - apreciam muito a nossa cultura. Conhecem mais de Portugal do que apenas Cristiano Ronaldo e até o mecânico hoje, quando fui trocar dos pneus de inverno pelos de Verão (o que tem que se fazer duas vezes por ano obrigatoriamente), sabia que em março tinha nevado na Madeira. Há muitas vezes surpresas interessantes a surgir destes contextos.
Somos poucos residentes (cerca de 50), o que mantém certo mistério em torno da cultura portuguesa. Ainda assim, muitos já visitaram o país, alguns várias vezes, e há quem fale português fluentemente - o que tem sido uma mais-valia na manutenção de uma revista cultural bilingue, feita apenas com trabalho voluntário.
3. QUE OBSTÁCULOS TEVE QUE SUPERAR E COMO O FEZ?
Os principais obstáculos são alíngua- embora o meu trabalho em tecnologia não exija esloveno, e em Ljubljana muitos falem bem inglês, italiano ou alemão. A diferença de temperamento é muitas vezes apontada como uma limitação pelos meus conterrâneos, muito embora a Eslovénia tenha uma mistura volátil de temperamentos, uns mais fechados, próximo da Áustria e Hungria, e outros mais abertos, próximos da Itália e Croácia.
No entanto, o maior desafio é mesmo a distância da família em Portugal, especial mente com o aumento dos preços dos voos. É fundamental garantir que as crianças passem tempo com avós e tios, mantendo uma ligação forte à língua e identidade portuguesa
Em casa, assistimos à televisão e lemos livros portugueses, e regularmente encon- tramo-nos com outras famílias luso-eslovenas. Juntos, aplicamos estratégias para manter a língua portuguesa viva entre as crianças - e também entre os adultos.
4. O QUE MAIS ADMIRA NO PAÍS EM QUE ESTÁ?
Há um gosto contagiante pelas viagens, com bares que incentivam relatos de aventuras
(potopis); um contacto próximo com a natureza, incluindo caminhadas nas montanhas alpinas e lagos de postal; uma cultura que valoriza a qualidade de vida acima da riqueza financeira - razão pela qual o país é apelidado de "Suíça dos Balcãs"; e uma rica vida cultural espalhada pelo país, da qual aproveitamos muito vivendo na capital, a 15 minutos de bicicleta da maior parte dos locais.
A lista de benefícios é extensa, destacando -se a cultura de trabalho saudável, o empenho dos eslovenos e a flexibilidade de um horário de 8 horas reais, que permite estar com as crianças apartir das 16h. Isso é possível graças a muitas atividades, em grande parte gratuitas e apoiadas pelo Estado, que promovem o crescimento saudável e equilibrado das famílias. É de relevar a facilidade que é pegar no carro e em uma hora ir almoçar a Itália e visitar o castelo de Miramare, ou descer até ao mar Adriático que é uma piscina gigante com golfinhos, sub ir as montanhas que parecem tiradas de um cartão -postal e tomar uma cerveja no café mesmo lá no topo (conhecidos como koca).
5. O QUE MAIS ADMIRA NA EMPRESA/ORGANIZAÇÃO EM QUE ESTÁ?
Desde o fim do doutoramento, colaboro com o Instituto Jozef Stefan (JSI), equivalente ao Instituto Gulbenkian de Ciência, com quem também colaborei. Trabalho no laboratório de Inteligência Artificial de Marko Grobelnik e Dunja Mladenic, muito antes de a IA se tornar um temapo- pular - numa altura em que era difícil manter uma conversa sobre o assunto fora do meio técnico. Hoje, o cenário mudou: abriram-se muitas oportunidades para aplicações da IA mas também surgiram preocupações legítimas sobre os seus riscos.
Desde 2022, integro o Instituto Internacional para a Investigação da IA sob os auspícios da UNESCO (IRCAI), sediado no JSI, e criado pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros da Eslovénia, com um alcance global e parceiros de São Paulo a Jakarta O foco é promover a IA ao serviço da Sustentabilidade, orientada pelos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU. Neste contexto, tenho conduzido investigação aplicada em áreas como saúde pública, água e saneamento, e resiliência climática, promovendo colaborações entre governos, centros de investigação, indústria e start-ups.
Ver o impacto do nosso trabalho na criação de potencial tecnológico, formação de novos cientistas de dados em várias regiões - inclusive em contextos desfavorecidos - e na redução da divisão digital, tem sido central para o meu objetivo profissional. A Eslovénia destaca-se nesse cenário, com o IRCAI, o primeiro centro da UNESCO dedicado à IA sediado em Ljubljana, onde também se desenvolve a iniciativa da OECD liderada por Marko Grobelnik
6. QUE RECOMENDAÇÕES DARIA A PORTUGAL E AOS SEUS EMPRESÁRIOS E GESTORES?
A principal recomendação seria para estarem atentos ao que as empresas e profissionais eslovenos têm vindo a alcançar e têm para oferecer. Não é por acaso que os eslovenos de repente começam a ganhar o Tour de France e o Giro de Itália e as principais competições de ciclismo um pouco por todo o mundo, da mesma forma que empresas como Cosylab (a alguns metros de casa) possibilitaram com os seus controladores a primeira observação de um buraco negro no espaço. Apesar de pequena e por vezes discreta, a Eslovénia possui um tecido empresarial sólido e estrategicamente posicionado em diversos setores da indústria e investigação, com potencial para boas surpresas. A combinação de empenho e agilidade traduz-se, frequentemente, em grande eficiência
7. EM QUE SETORES DO PAIS ONDE VIVE PODERÃO AS EMPRESAS PORTUGUESAS ENCONTRAR CLIENTES?
Esta é uma questão complexa, já analisada anteriormente com a Embaixada Portuguesa A Eslovénia valoriza os seus produtos locais, o que dificulta a entrada de vinhos estrangeiros - incluindo os portugueses -, como se vê também com os vinhos croatas, italianos e austríacos. O café, especialmente com moagem adaptada à cafeteira italiana, teria potencial, mas enfrenta forte concorrência de marcas como Lavazza e Illy, bem próximas. Queijos e enchidos podem ter alguma abertura, dependendo da divulgação. Já tive amigos que tentaram o negócio dos objetos de moda feitos em cortiça, mas, mesmo com a promessa do design italiano e esloveno, tiveram dificuldade em pegar.
8. EM QUE SETORES DE PORTUGAL PODERIAM AS EMPRESAS DO PAÍS ONDE ESTÁ QUERER INVESTIR?
Igualmente difícil, mas diria que o setor do turismo talvez seja privilegiado, a par com os alimentos e bebidas.
9. QUAL A VANTAGEM COMPETITIVA DO PAÍS EM QUE ESTÁ QUE PODERIA SER REPLICADA EM PORTUGAL?
É um país pequeno com uma dinâmica muito ágil e excelentes capacidades a nível investigação e alguns setores da indústria. Há muito que poderia ser replicado, dadas as circunstâncias e características dos dois países. E claro que a natureza sustentável e resiliente das políticas eslovenas é um excelente ponto de partida
10. PENSA VOLTAR PARA PORTUGAL? PORQUÊ?
Nesta fase, estou bastante enraizado na Eslovénia e, com as crianças ainda pequenas, uma mudança não seria simples. Um dos maiores obstáculos seria manter o equilíbrio entre trabalho e vida familiar, que não poderia ser comprometido - o que exigiria repensar a forma de trabalhar em Portugal, para garantir tempo diário com as crianças. Por outro lado, pretendo reforçar as colaborações com instituições portuguesas e tirar maior partido do trabalho remoto para passar mais tempo com a família em Portugal.
cv
Investigação em IA
FORMAÇÃO
João Pita Costa é doutorado em Matemática pela Universidade de Ljubljana, na Eslovénia, e é investigador sénior no Centro Internacional de Investigação em Inteligência Artificial sob os auspícios da UNESCO - IRCAI (International Research Center on Artificial Intelligence) -, onde lidera o desenvolvimento de um observatório dos ODS baseado em IA, com especial enfoque na Educação Aberta e na formação em IA para o progresso dos ODS.
QUESTIONÁRIO ELABORADO E REVISTO POR PAULO MORGADO
Membro da direção da Diáspora Portuguesa
CONSELHOS DA DIÁSPORA
JOÃO PITA COSTA
INVESTIGADOR SÉNIOR NO CENTRO INTERNACIONAL DE INVESTIGAÇÃO EM INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL (IRCAI), NA ESLOVÉNIA, SOB OS AUSPÍCIOS DA UNESCO CONSELHEIRO DA DIÁSPORA PORTUGUESA NA ESLOVÉNIA
1. O QUE O/A LEVOU A SAIR DE PORTUGAL?
A escolha da Eslovénia, onde vivo há 14 anos, foi amadurecendo desde o meu intercâmbio Erasmus em 2005, que teve um impacto decisivo.
De regresso a Lisboa, fundei e presidi ao primeiro hub da AEGEE (Association des États Généraux des Étudiants de l'Europe) na cidade - associação ligada à origem do Erasmus -, organizando em 2006 um dos eventos mais populares do ano, com representantes do hub central de Bruxelas, em parceria com o recém-criado hub do Porto, também com o meu apoio. O sucesso foi tal que até recebemos um prémio.
Durante o mestrado em Matemática na Faculdade de Ciências, mantive uma forte ligação ao leitorado esloveno na Faculdade de Letras, orientado por Mateja Rozman. Estive ativamente envolvido em iniciativas culturais ligadas à língua e cultura eslovena, integrando a coordenação de vários eventos - alguns formais -por convite da própria Mateja, com quem continuo a colaborar. Esse percurso culminaria, mais tarde, com o doutoramento em Ljubljana, com apoio da Fundação para a Ciência e Tecnologia.
Iniciei o doutoramento no final de 2007, que se estendeu até maio de 2012. Entretanto conheci a minha esposa eslovena Dijana e, apartir daí, estavajá sabido que a Eslovénia seria um destino, muito mais do que uma passagem. Hoje temos dois filhos, Samuel (10) e Aurora (5), e vivemos em Ljubljana; mantemos uma revista luso-eslovena - Sardinha (www.eSardinha.eu) - há mais de 10 anos, e estamos em Portugal com alguma frequência, principalmente no Verão, na Caparica, de onde sou, e onde a minha família, pais e irmã vivem.
2. QUE VANTAGENS OU DESVANTAGENS LHE TROUXE O FACTO DE SER PORTUGUÊS/A?
É curioso notar que os eslovenos, habituados a viajar - muitas vezes por longas distâncias, até de bicicleta ou à boleia -, conhecem bem a diferença entre Portugal e Espanha. E, ao contrário de muitos países vizinhos, demonstram uma clara preferência por Portugal e pela língua portuguesa, mesmo antes de o país se tornar um destino popular.
Ser português na Eslovénia é algo exótico e geralmente bem recebido. Muitos eslovenos - e também croatas, italianos, austríacos e húngaros - apreciam muito a nossa cultura. Conhecem mais de Portugal do que apenas Cristiano Ronaldo e até o mecânico hoje, quando fui trocar dos pneus de inverno pelos de Verão (o que tem que se fazer duas vezes por ano obrigatoriamente), sabia que em março tinha nevado na Madeira. Há muitas vezes surpresas interessantes a surgir destes contextos.
Somos poucos residentes (cerca de 50), o que mantém certo mistério em torno da cultura portuguesa. Ainda assim, muitos já visitaram o país, alguns várias vezes, e há quem fale português fluentemente - o que tem sido uma mais-valia na manutenção de uma revista cultural bilingue, feita apenas com trabalho voluntário.
3. QUE OBSTÁCULOS TEVE QUE SUPERAR E COMO O FEZ?
Os principais obstáculos são alíngua- embora o meu trabalho em tecnologia não exija esloveno, e em Ljubljana muitos falem bem inglês, italiano ou alemão. A diferença de temperamento é muitas vezes apontada como uma limitação pelos meus conterrâneos, muito embora a Eslovénia tenha uma mistura volátil de temperamentos, uns mais fechados, próximo da Áustria e Hungria, e outros mais abertos, próximos da Itália e Croácia.
No entanto, o maior desafio é mesmo a distância da família em Portugal, especial mente com o aumento dos preços dos voos. É fundamental garantir que as crianças passem tempo com avós e tios, mantendo uma ligação forte à língua e identidade portuguesa
Em casa, assistimos à televisão e lemos livros portugueses, e regularmente encon- tramo-nos com outras famílias luso-eslovenas. Juntos, aplicamos estratégias para manter a língua portuguesa viva entre as crianças - e também entre os adultos.
4. O QUE MAIS ADMIRA NO PAÍS EM QUE ESTÁ?
Há um gosto contagiante pelas viagens, com bares que incentivam relatos de aventuras
(potopis); um contacto próximo com a natureza, incluindo caminhadas nas montanhas alpinas e lagos de postal; uma cultura que valoriza a qualidade de vida acima da riqueza financeira - razão pela qual o país é apelidado de "Suíça dos Balcãs"; e uma rica vida cultural espalhada pelo país, da qual aproveitamos muito vivendo na capital, a 15 minutos de bicicleta da maior parte dos locais.
A lista de benefícios é extensa, destacando -se a cultura de trabalho saudável, o empenho dos eslovenos e a flexibilidade de um horário de 8 horas reais, que permite estar com as crianças apartir das 16h. Isso é possível graças a muitas atividades, em grande parte gratuitas e apoiadas pelo Estado, que promovem o crescimento saudável e equilibrado das famílias. É de relevar a facilidade que é pegar no carro e em uma hora ir almoçar a Itália e visitar o castelo de Miramare, ou descer até ao mar Adriático que é uma piscina gigante com golfinhos, sub ir as montanhas que parecem tiradas de um cartão -postal e tomar uma cerveja no café mesmo lá no topo (conhecidos como koca).
5. O QUE MAIS ADMIRA NA EMPRESA/ORGANIZAÇÃO EM QUE ESTÁ?
Desde o fim do doutoramento, colaboro com o Instituto Jozef Stefan (JSI), equivalente ao Instituto Gulbenkian de Ciência, com quem também colaborei. Trabalho no laboratório de Inteligência Artificial de Marko Grobelnik e Dunja Mladenic, muito antes de a IA se tornar um temapo- pular - numa altura em que era difícil manter uma conversa sobre o assunto fora do meio técnico. Hoje, o cenário mudou: abriram-se muitas oportunidades para aplicações da IA mas também surgiram preocupações legítimas sobre os seus riscos.
Desde 2022, integro o Instituto Internacional para a Investigação da IA sob os auspícios da UNESCO (IRCAI), sediado no JSI, e criado pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros da Eslovénia, com um alcance global e parceiros de São Paulo a Jakarta O foco é promover a IA ao serviço da Sustentabilidade, orientada pelos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU. Neste contexto, tenho conduzido investigação aplicada em áreas como saúde pública, água e saneamento, e resiliência climática, promovendo colaborações entre governos, centros de investigação, indústria e start-ups.
Ver o impacto do nosso trabalho na criação de potencial tecnológico, formação de novos cientistas de dados em várias regiões - inclusive em contextos desfavorecidos - e na redução da divisão digital, tem sido central para o meu objetivo profissional. A Eslovénia destaca-se nesse cenário, com o IRCAI, o primeiro centro da UNESCO dedicado à IA sediado em Ljubljana, onde também se desenvolve a iniciativa da OECD liderada por Marko Grobelnik
6. QUE RECOMENDAÇÕES DARIA A PORTUGAL E AOS SEUS EMPRESÁRIOS E GESTORES?
A principal recomendação seria para estarem atentos ao que as empresas e profissionais eslovenos têm vindo a alcançar e têm para oferecer. Não é por acaso que os eslovenos de repente começam a ganhar o Tour de France e o Giro de Itália e as principais competições de ciclismo um pouco por todo o mundo, da mesma forma que empresas como Cosylab (a alguns metros de casa) possibilitaram com os seus controladores a primeira observação de um buraco negro no espaço. Apesar de pequena e por vezes discreta, a Eslovénia possui um tecido empresarial sólido e estrategicamente posicionado em diversos setores da indústria e investigação, com potencial para boas surpresas. A combinação de empenho e agilidade traduz-se, frequentemente, em grande eficiência
7. EM QUE SETORES DO PAIS ONDE VIVE PODERÃO AS EMPRESAS PORTUGUESAS ENCONTRAR CLIENTES?
Esta é uma questão complexa, já analisada anteriormente com a Embaixada Portuguesa A Eslovénia valoriza os seus produtos locais, o que dificulta a entrada de vinhos estrangeiros - incluindo os portugueses -, como se vê também com os vinhos croatas, italianos e austríacos. O café, especialmente com moagem adaptada à cafeteira italiana, teria potencial, mas enfrenta forte concorrência de marcas como Lavazza e Illy, bem próximas. Queijos e enchidos podem ter alguma abertura, dependendo da divulgação. Já tive amigos que tentaram o negócio dos objetos de moda feitos em cortiça, mas, mesmo com a promessa do design italiano e esloveno, tiveram dificuldade em pegar.
8. EM QUE SETORES DE PORTUGAL PODERIAM AS EMPRESAS DO PAÍS ONDE ESTÁ QUERER INVESTIR?
Igualmente difícil, mas diria que o setor do turismo talvez seja privilegiado, a par com os alimentos e bebidas.
9. QUAL A VANTAGEM COMPETITIVA DO PAÍS EM QUE ESTÁ QUE PODERIA SER REPLICADA EM PORTUGAL?
É um país pequeno com uma dinâmica muito ágil e excelentes capacidades a nível investigação e alguns setores da indústria. Há muito que poderia ser replicado, dadas as circunstâncias e características dos dois países. E claro que a natureza sustentável e resiliente das políticas eslovenas é um excelente ponto de partida
10. PENSA VOLTAR PARA PORTUGAL? PORQUÊ?
Nesta fase, estou bastante enraizado na Eslovénia e, com as crianças ainda pequenas, uma mudança não seria simples. Um dos maiores obstáculos seria manter o equilíbrio entre trabalho e vida familiar, que não poderia ser comprometido - o que exigiria repensar a forma de trabalhar em Portugal, para garantir tempo diário com as crianças. Por outro lado, pretendo reforçar as colaborações com instituições portuguesas e tirar maior partido do trabalho remoto para passar mais tempo com a família em Portugal.
cv
Investigação em IA
FORMAÇÃO
João Pita Costa é doutorado em Matemática pela Universidade de Ljubljana, na Eslovénia, e é investigador sénior no Centro Internacional de Investigação em Inteligência Artificial sob os auspícios da UNESCO - IRCAI (International Research Center on Artificial Intelligence) -, onde lidera o desenvolvimento de um observatório dos ODS baseado em IA, com especial enfoque na Educação Aberta e na formação em IA para o progresso dos ODS.
QUESTIONÁRIO ELABORADO E REVISTO POR PAULO MORGADO
Membro da direção da Diáspora Portuguesa