"Talento é o nosso melhor ativo, o nosso melhor cartão de visita", afirmou Madalena Oliveira e Silva, presidente da AICEP desde junho de 2025, no programa Economia Sem Fronteiras, do canal Now. A responsável exemplificou com o facto de Portugal ter conseguido atrair, ao longo das últimas décadas, projetos emblemáticos de multinacionais como a Google, a Microsoft, a Continental ou a Autoeuropa.
Quando fala de talento, Madalena Oliveira e Silva não se refere somente às competências técnicas dos trabalhadores, dos técnicos, dos licenciados, reconhecidos como bem preparados, mas também "às qualidades do trabalhador português, como a criatividade, o empenho, a devoção". Uma característica similar à dos japoneses, que é o amor à empresa, o sentimento de pertença. Vestimos a camisola, fazemos o melhor, e nas empresas estrangeiras que investem em Portugal isto é reconhecido, explica a líder da AICEP.
As filiais portuguesas de grandes empresas mundiais beneficiam desta qualidade da mão de obra de forma mensurável. "Em muitas empresas europeias e internacionais, as suas filiais em Portugal são as mais eficientes e produtivas", revela Madalena Oliveira e Silva. Esta excelência não só atrai novos investidores como garante a continuidade das empresas, gerando reinvestimento.
A avaliação de projetos candidatos a fundos comunitários, decisivos para apoiar a inovação e a competitividade das empresas, segue critérios rigorosos. "Há critérios que são transversais e que são indispensáveis. Há o critério transversal da inovação, o projeto tem que ser inovador. O segundo critério transversal implica que o projeto tem que ser orientado para a produção de bens e serviços transacionáveis, para a exportação. É investimento virado para a inovação e a exportação", enumera Madalena Oliveira e Silva.
Existem ainda outros critérios como a criação de valor acrescentado nacional, valor acrescentado bruto, a criação de postos de trabalho e, entre eles, os postos de trabalho qualificados. "Por exemplo, nos projetos de investigação e desenvolvimento, damos uma importância muito grande às alianças com as entidades do sistema científico e às capacidades da empresa que quer promover projetos de investigação e desenvolvimento", assinala Madalena Oliveira e Silva
O desafio da burocracia
Muitas empresas dizem também que a burocracia ainda é um entrave à internacionalização e que a simplificação administrativa permanece no topo das preocupações dos investidores. "Há muita margem para melhorar. Já percorremos um caminho muito longo, já melhorámos muito. Trabalho há muitos anos na AICEP e tenho assistido a melhorias que são significativas", reconhece Madalena Oliveira e Silva. O problema, segundo a responsável, está muitas vezes na implementação. "A simplificação é um trabalho interminável e é um trabalho que tem que passar, muitas vezes, das palavras para os atos, das palavras para a lei e para a aplicação da lei, porque muitas vezes são feitas as leis e depois elas não são aplicadas de maneira simples".
Com presença em cerca de 50 mercados, incluindo múltiplas delegações nos Estados Unidos e na China, a AICEP dispõe de uma rede internacional reforçada desde 2016 com os FDI Scouts, especialistas dedicados à captação de investimento estrangeiro. "O conhecimento do mercado não é só o conhecimento livresco, é o conhecimento no local, das empresas, dos canais, e esse conhecimento só é possível localmente, por muita informação que, hoje em dia, no mundo digital que temos, esteja disponível", justifica.
Considera que hoje a diplomacia económica existe e que o apoio dos diplomatas é importante para abrir portas e que a articulação com as embaixadas potencia este trabalho de encontrar mercados e investimento. No caso do AICEP, o papel dos técnicos de mercado também "é extremamente importante no apoio às empresas portuguesas que se deslocam aos mercados, porque a empresa vai para um mundo que não conhece e é o técnico da AICEP, o delegado, que ajuda a encontrar os fornecedores, ajuda a ter as reuniões, ajuda nos procedimentos", conclui Madalena Oliveira e Silva, dando o exemplo recente de um delegado que dedicou duas semanas a resolver problemas com um contentor, questões que só podem ser tratadas localmente.
Na entrevista a Miguel Frasquilho, Madalena Oliveira e Silva diz que "a simplificação é um trabalho interminável''
"Em muitas empresas europeias e internacionais, as suas filiais em Portugal são as mais eficientes e produtivas.
Há muita margem para melhorar. Já percorremos um caminho muito longo, já melhorámos muito. Trabalho há muitos anos na AICEP e tenho assistido a melhorias que são significativas."
MADALENA OLIVEIRA E SILVA
Presidente da AICEP
Em busca de novos mercados no Mercosul e no Canadá
A AICEP tem, "com o apoio do Governo, de apoiar as empresas portuguesas no esforço de diversificação e aproveitar os acordos comerciais da União Europeia com o Mercosul e o Canadá".
Em 2024, as exportações portuguesas atingiram um novo recorde, cerca de 133 mil milhões de euros em termos nominais, mas não em percentagem do PIB. Neste indicador relativo, Portugal atingiu 46,5%, ainda longe dos 55% definidos pelo Governo, como objetivo até 2030. "A verdade é que ainda estamos abaixo da média europeia, apesar dos progressos, que foram sendo feitos desde 2009", considerou Miguel Frasquilho, apresentador do programa "Economia Sem Fronteiras", no canal Now. Portugal está abaixo de países com os quais é comparável em termos de população e território, como a Suécia, a Dinamarca, a Hungria, a Eslováquia, os Países Baixos, a Irlanda, e está somente acima da Grécia e da Roménia
Madalena Oliveira e Silva salienta que Portugal tem crescido em termos de PIB acima da média europeia "Como as percentagens das exportações são calculadas em termos de PIB, temos que crescer muito mais do que se estivéssemos com crescimentos de PIB mais modestos. É uma das adversidades das estatísticas", refere a primeira mulher que chegou à presidência da AICEP.
O objectivo de 55% de exportações em percentagem do PIB significa que a taxa de crescimento das exportações tem que aumentar exponencialmente, assinala Madalena Oliveira e Silva. Mas, acrescenta que "num mundo de incerteza, de instabilidade de mercados, as ambições têm que ser, por um lado, temperadas com a realidade, mas, por outro lado, aproveitando estas condicionantes. Temos que largar zonas de conforto e procurar diversificar mais, melhor, em mercados mais longínquos, onde o crescimento é mais forte do que nos mercados tradicionais".
Novos mercados
As exportações estão especialmente dirigidas aos mercados europeus e norte-americano,
mercados mais próximos e mais fáceis, sem tanto risco. Mas Madalena Oliveira e Silva reconhecem que a AICEP tem, "com o apoio do Governo, de apoiar as empresas portuguesas no esforço de diversificação e aproveitar os acordos comerciais da União Europeia com o Mercosul e o Canadá". Revelou que em alguns destes mercados Portugal teria vantagens competitivas, mas, sem os acordos da União Europeia, eram mercados difíceis de explorar devido às barreiras aduaneiras e regulamentares.
Para aprofundar este caminho das exportações, Portugal deve apostar nos setores onde é melhor, defende Madalena Oliveira e Silva, que entende que os sectores onde "somos melhores são as energias renováveis, o sector aeroespacial, as tecnologias de informação, a saúde, a economia do mar". A presidente da AICEP confessou que, quando olha para as empresas, fica "entusiasmada com a capacidade que elas vão ter de se reinventar, de fazer e descobrir coisas novas, de fazer parcerias". Os modelos de negócio também evoluem muito, e muito positivamente. Por exemplo, uma pequena empresa alia-se com uma grande empresa para desenvolver determinadas soluções, porque somos ótimos na cooperação". fsf
"A verdade é que ainda estamos abaixo da média europeia, apesar dos progressos, que foram sendo feitos desde 2009."
MIGUEL FRASQUILHO
Apresentador do programa Economia Sem Fronteiras, no canal Now

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AICEP
"O talento é o nosso melhor ativo"
Tem permitido atrair, ao longo das últimas décadas, projetos emblemáticos de multinacionais.
Jornal de Negócios
20/10/2025
Imprensa Nacional