Dois terços dos países para os quais Portugal mais exporta vão ter um crescimento abaixo do esperado para a economia nacional, segundo as previsões do Fundo Monetário Internacional (FMI) para o próximo ano. Esse fraco crescimento previsto é explicado pela elevada incerteza, devido à imprevisibilidade da política comercial norte-americana e às tensões geopolíticas, e deverá afetar a procura externa dirigida à economia portuguesa
No World Economic Outlook divulgado esta semana, o FMI reviu em alta as projeções de crescimento para Portugal no próximo ano. Em vez dos 1,7% avançados em abril, a instituição liderada por Kristalina Georgieva estima agora que a economia portuguesa cresça de 1,9% este ano para 2,1% em 2026. Essa aceleração deverá acontecer quando a Zona Euro deverá ter uma expansão de apenas 1,2% este ano, seguido de um abrandamento de uma décima no próximo, em resultado da elevada incerteza "em múltiplas frentes" e às tarifas.
Mas a atualização das previsões do FMI traz sinais de alarme para a economia nacional, nomeadamente no que toca às exportações. Para Espanha, França e Alemanha - que são os três maiores clientes nacionais e, em conjunto, são responsáveis por metade do total de vendas de bens ao exterior -, o FMI antecipa taxas de crescimento do produto interno bruto (PIB) abaixo dos 2,1% estimados para Portugal em 2026.
No caso de Espanha, o FMI prevê uma desaceleração económica de 2,9% para 2% no próximo ano. Esse abrandamento do PIB espanhol é especialmente preocupante para Portugal, tendo em conta que o país vizinho recebe, isoladamente, um quarto das exportações nacionais, onde se inclui uma grande diversidade de produtos, desde alimentos, material de transporte e têxteis, a produtos químicos, cortiça e calçado.
Em sentido contrário, o FMI espera que o ritmo de crescimento da Alemanha e da França seja superior ao deste ano. A economia germânica deverá crescer 0,9% (0,2% este ano), devido à "recuperação do consumo privado com salários reais mais altos" e às medidas
expansionistas do Governo de Friedrich Merz. Já França, que tem estado mergulhada em sucessivas crises políticas e orçamentais, deverá ver o seu PIB acelerar de 0,7% para 0,9% em 2026. Porém, o PIB das duas maiores economias europeias deverá ser inferior a 1%.
Com um crescimento previsto também abaixo do de Portugal, aparecem outros quatro países que integram a lista de 10 principais clientes nacionais: o Reino Unido (cujo PIB deverá manter-se nos 1,3% em 2026), Itália (0,8%), Países Baixos (1,2%) e Bélgica (1%).
Contas feitas, sete dos 10 maiores parceiros comerciais portugueses deverão registar em 2026 um crescimento inferior aos 2,1% projetados para o PIB nacional.
O próprio Governo reconhece, na proposta de Orçamento para o próximo ano, que a redução do dinamismo económico nos parceiros europeus, num contexto internacional de grande incerteza e maior protecionismo, "traduzir-se-á numa menor procura externa dirígida às exportações portuguesas para esses mercados, reforçando, assim, o efeito negativo sobre o crescimento do PIB português".
Marrocos e Polónia resistem
No top 10 de destinos das exportações nacionais, só Marrocos e a Polónia deverão conseguir taxas de crescimento acima da esperada para Portugal no próximo ano. O FMI conta que o PIB de Marrocos - que, em 2024, substituiu Angola como décimo principal cliente das exportações portuguesas - se fixe em 4,2% e o PIB da Polónia chegue aos 3,1%. Ainda assim, o ritmo de crescimento desses dois países deverá abrandar face a 2025.
Já os EUA, que são o quarto principal destino e o principal fora da UE, deverão crescer a um ritmo idêntico ao de Portugal, apesar da incerteza das tarifas.
65% DAS EXPORTAÇÕES NACIONAIS AMEAÇADAS
Peso dos principais mercados no total de exportações portuguesas, em percentagem
As previsões do FMI apontam para um abrandamento da atividade económica em sete grandes clientes das exportações portuguesas. Essa desaceleração deverá afetar dois terços das vendas de bens ao exterior.
Fonte: Fundo Monetário Internacional
SÓ POLÓNIA E MARROCOS CRESCEM MAIS
Previsões de crescimento para os maiores parceiros comerciais portugueses em 2026, em percentagem
O FMI estima que a maioria dos países que mais recebem exportações nacionais cresçam menos do que Portugal no próximo ano. Só a Polónia e Marrocos deverão contrariar a tendência. Itália será o país a crescer menos.
Fonte: Fundo Monetário Internacional
Portugal cresce menos 0,2 pontos até 2027 com tarifas de Trump
Ministério das Finanças estima que tarifas norte-americanas penalizem mais a economia portuguesa em 2026 e pela via indireta. Parceiros europeus mais afetados vão importar menos, com impacto em Portugal.
As tarifas de Donald Trump sobre os produtos exportados pela União Europeia (UE) para os Estados Unidos vão travar o crescimento da economia portuguesa em 0,15 pontos percentuais em 2026 e em 0,05 pontos percentuais em 2027.
Os números constam da proposta de Orçamento do Estado (OE) para 2026 entregue na semana passada ao Parlamento, onde o Ministério das Finanças apresenta uma primeira estimativa sobre o impacto na economia portuguesa das tarifas de 15% que a Administração norte-americana aplica, desde agosto, sobre os produtos "made in EU".
As Finanças simulam o impacto a partir do quarto trimestre deste ano, considerando que, até aqui, a antecipação das exportações anulou o efeito das tarifas. Por isso, consideram que em 2025 os efeitos são baixos (-0,01 pontos do PIB), aumentando em 2026.
'A simulação sugere que o impacto na taxa de crescimento do PIB português, em 2026, rondará os -0,15 pontos percentuais, dos quais -0,06 pontos percentuais em impactos diretos", lê-se numa caixa dedicada ao tema no relatório que acompanha a proposta de OE 2026.
Isto significa que o efeito na economia portuguesa será sobretudo pela via indireta, ou seja, resulta das "menores taxas de crescimento das restantes economias europeias, que são os principais parceiros comerciais de Portugal". Ao serem mais afetados do que Portugal pelas tarifas, vão também ter menos capacidade de comprar à economia portuguesa, afetando, assim, as exportações e, consequentemente, a atividade.
Em 2027, a expectativa das Finanças é que as tarifas continuem a penalizar o crescimento económico, embora menos: o impacto negativo é de 0,05 pontos percentuais. A explicação está na moderação do efeito sobre as restantes economias europeias, lê-se no relatório.
Exportações mais penalizadas
A componente do PIB mais afetada pelas tarifas norte-americanas é, claro, as exportações. As Finanças estimam que as vendas de bens para o exterior cresçam menos 0,69 pontos percentuais em 2026 e menos 0,37 pontos percentuais em 2027 apenas pelo efeito das tarifas.
Na procura interna, as tarifas devem penalizar mais o investimento privado (em 0,23 pontos percentuais) do que o consumo privado (-0,09 pontos percentuais), calcula o Terreiro do Paço.
Em causa está "o aumento do preço dos bens no mercado norte-americano, por força do aumento das tarifas, o que leva a uma redução da sua procura".
Além disso, acrescentam as Finanças, "verifica-se igualmente que os impactos indiretos explicam uma parte considerável do impacto total em 2026, sugerindo que a redução das exportações portuguesas é maioritariamente explicada pelo abrandamento das restantes economias europeias".
Ainda assim, o Terreiro do Paço admite que, apesar da exposição direta de Portugal ao comércio com os Estados Unidos ser relativamente limitada, "os efeitos indiretos decorrentes da imposição de tarifas mais elevadas amplificarão o impacto global".
Isto porque "as restantes economias europeias serão igualmente penalizadas, verificando-se uma contração das suas exportações e, consequentemente, do respetivo crescimento económico".
Assim, a "redução do dinamismo económico nos parceiros europeus traduzir-se-á numa menor procura externa dirigida às exportações portuguesas para esses mercados, reforçando, assim, o efeito negativo sobre o crescimento do PIB português", alertam.
No World Economic Outlook divulgado esta semana, o FMI reviu em alta as projeções de crescimento para Portugal no próximo ano. Em vez dos 1,7% avançados em abril, a instituição liderada por Kristalina Georgieva estima agora que a economia portuguesa cresça de 1,9% este ano para 2,1% em 2026. Essa aceleração deverá acontecer quando a Zona Euro deverá ter uma expansão de apenas 1,2% este ano, seguido de um abrandamento de uma décima no próximo, em resultado da elevada incerteza "em múltiplas frentes" e às tarifas.
Mas a atualização das previsões do FMI traz sinais de alarme para a economia nacional, nomeadamente no que toca às exportações. Para Espanha, França e Alemanha - que são os três maiores clientes nacionais e, em conjunto, são responsáveis por metade do total de vendas de bens ao exterior -, o FMI antecipa taxas de crescimento do produto interno bruto (PIB) abaixo dos 2,1% estimados para Portugal em 2026.
No caso de Espanha, o FMI prevê uma desaceleração económica de 2,9% para 2% no próximo ano. Esse abrandamento do PIB espanhol é especialmente preocupante para Portugal, tendo em conta que o país vizinho recebe, isoladamente, um quarto das exportações nacionais, onde se inclui uma grande diversidade de produtos, desde alimentos, material de transporte e têxteis, a produtos químicos, cortiça e calçado.
Em sentido contrário, o FMI espera que o ritmo de crescimento da Alemanha e da França seja superior ao deste ano. A economia germânica deverá crescer 0,9% (0,2% este ano), devido à "recuperação do consumo privado com salários reais mais altos" e às medidas
expansionistas do Governo de Friedrich Merz. Já França, que tem estado mergulhada em sucessivas crises políticas e orçamentais, deverá ver o seu PIB acelerar de 0,7% para 0,9% em 2026. Porém, o PIB das duas maiores economias europeias deverá ser inferior a 1%.
Com um crescimento previsto também abaixo do de Portugal, aparecem outros quatro países que integram a lista de 10 principais clientes nacionais: o Reino Unido (cujo PIB deverá manter-se nos 1,3% em 2026), Itália (0,8%), Países Baixos (1,2%) e Bélgica (1%).
Contas feitas, sete dos 10 maiores parceiros comerciais portugueses deverão registar em 2026 um crescimento inferior aos 2,1% projetados para o PIB nacional.
O próprio Governo reconhece, na proposta de Orçamento para o próximo ano, que a redução do dinamismo económico nos parceiros europeus, num contexto internacional de grande incerteza e maior protecionismo, "traduzir-se-á numa menor procura externa dirígida às exportações portuguesas para esses mercados, reforçando, assim, o efeito negativo sobre o crescimento do PIB português".
Marrocos e Polónia resistem
No top 10 de destinos das exportações nacionais, só Marrocos e a Polónia deverão conseguir taxas de crescimento acima da esperada para Portugal no próximo ano. O FMI conta que o PIB de Marrocos - que, em 2024, substituiu Angola como décimo principal cliente das exportações portuguesas - se fixe em 4,2% e o PIB da Polónia chegue aos 3,1%. Ainda assim, o ritmo de crescimento desses dois países deverá abrandar face a 2025.
Já os EUA, que são o quarto principal destino e o principal fora da UE, deverão crescer a um ritmo idêntico ao de Portugal, apesar da incerteza das tarifas.
65% DAS EXPORTAÇÕES NACIONAIS AMEAÇADAS
Peso dos principais mercados no total de exportações portuguesas, em percentagem
As previsões do FMI apontam para um abrandamento da atividade económica em sete grandes clientes das exportações portuguesas. Essa desaceleração deverá afetar dois terços das vendas de bens ao exterior.
Fonte: Fundo Monetário Internacional
SÓ POLÓNIA E MARROCOS CRESCEM MAIS
Previsões de crescimento para os maiores parceiros comerciais portugueses em 2026, em percentagem
O FMI estima que a maioria dos países que mais recebem exportações nacionais cresçam menos do que Portugal no próximo ano. Só a Polónia e Marrocos deverão contrariar a tendência. Itália será o país a crescer menos.
Fonte: Fundo Monetário Internacional
Portugal cresce menos 0,2 pontos até 2027 com tarifas de Trump
Ministério das Finanças estima que tarifas norte-americanas penalizem mais a economia portuguesa em 2026 e pela via indireta. Parceiros europeus mais afetados vão importar menos, com impacto em Portugal.
As tarifas de Donald Trump sobre os produtos exportados pela União Europeia (UE) para os Estados Unidos vão travar o crescimento da economia portuguesa em 0,15 pontos percentuais em 2026 e em 0,05 pontos percentuais em 2027.
Os números constam da proposta de Orçamento do Estado (OE) para 2026 entregue na semana passada ao Parlamento, onde o Ministério das Finanças apresenta uma primeira estimativa sobre o impacto na economia portuguesa das tarifas de 15% que a Administração norte-americana aplica, desde agosto, sobre os produtos "made in EU".
As Finanças simulam o impacto a partir do quarto trimestre deste ano, considerando que, até aqui, a antecipação das exportações anulou o efeito das tarifas. Por isso, consideram que em 2025 os efeitos são baixos (-0,01 pontos do PIB), aumentando em 2026.
'A simulação sugere que o impacto na taxa de crescimento do PIB português, em 2026, rondará os -0,15 pontos percentuais, dos quais -0,06 pontos percentuais em impactos diretos", lê-se numa caixa dedicada ao tema no relatório que acompanha a proposta de OE 2026.
Isto significa que o efeito na economia portuguesa será sobretudo pela via indireta, ou seja, resulta das "menores taxas de crescimento das restantes economias europeias, que são os principais parceiros comerciais de Portugal". Ao serem mais afetados do que Portugal pelas tarifas, vão também ter menos capacidade de comprar à economia portuguesa, afetando, assim, as exportações e, consequentemente, a atividade.
Em 2027, a expectativa das Finanças é que as tarifas continuem a penalizar o crescimento económico, embora menos: o impacto negativo é de 0,05 pontos percentuais. A explicação está na moderação do efeito sobre as restantes economias europeias, lê-se no relatório.
Exportações mais penalizadas
A componente do PIB mais afetada pelas tarifas norte-americanas é, claro, as exportações. As Finanças estimam que as vendas de bens para o exterior cresçam menos 0,69 pontos percentuais em 2026 e menos 0,37 pontos percentuais em 2027 apenas pelo efeito das tarifas.
Na procura interna, as tarifas devem penalizar mais o investimento privado (em 0,23 pontos percentuais) do que o consumo privado (-0,09 pontos percentuais), calcula o Terreiro do Paço.
Em causa está "o aumento do preço dos bens no mercado norte-americano, por força do aumento das tarifas, o que leva a uma redução da sua procura".
Além disso, acrescentam as Finanças, "verifica-se igualmente que os impactos indiretos explicam uma parte considerável do impacto total em 2026, sugerindo que a redução das exportações portuguesas é maioritariamente explicada pelo abrandamento das restantes economias europeias".
Ainda assim, o Terreiro do Paço admite que, apesar da exposição direta de Portugal ao comércio com os Estados Unidos ser relativamente limitada, "os efeitos indiretos decorrentes da imposição de tarifas mais elevadas amplificarão o impacto global".
Isto porque "as restantes economias europeias serão igualmente penalizadas, verificando-se uma contração das suas exportações e, consequentemente, do respetivo crescimento económico".
Assim, a "redução do dinamismo económico nos parceiros europeus traduzir-se-á numa menor procura externa dirigida às exportações portuguesas para esses mercados, reforçando, assim, o efeito negativo sobre o crescimento do PIB português", alertam.